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Com viés conservador, Braskem (BRKM5) enxerga melhora do setor entre 2024 e 2025

A petroquímica é produtora líder de plástico nas Américas, com uma base de ativos e matéria-prima competitiva

Sergio Castro, analista CNPI

Sergio Castro, analista CNPI

Foto: Shutterstock/W.Tab

Destaque da Bolsa em 2021, a Braskem (BRKM5) tem vivido dias mais difíceis em 2022. No acumulado deste ano, os papéis da petroquímica perderam quase 50% de seu valor após mais do que dobrarem de preço no ano passado, fruto de um cenário pouco recorrente.

Durante o ano de 2021, o preço de venda dos produtos do setor petroquímico estava bem acima do custo de fabricação. Esta diferença (spread) favoreceu o setor e foi resultado de investimentos em capacidade instalada abaixo da sólida demanda chinesa, o que impulsionou os resultados da Braskem – e seus dividendos.

Agora, a companhia enxerga um processo estrutural de normalização dos spreads, enquanto a economia global caminha para forte desaceleração em 2023. 

Segundo a petroquímica, em entrevista exclusiva à Agência TradeMap, é esperado que o cenário do setor fique favorável à companhia novamente apenas entre 2024 e 2025.

Até lá, a Braskem deve sustentar-se com o volume de vendas acima da média, já que é a líder de mercado, e estudar formas de reduzir os custos fixos, com o intuito de aumentar a geração de caixa. 

Quem é a Braskem

Criada a partir de uma junção de companhias relacionadas ao setor petroquímico em 2022, atualmente a Braskem é produtora líder de plástico nas Américas, com uma base de ativos e matéria-prima competitiva.

O mercado de resinas termoplásticas é composto por polietileno, polipropileno e PVC. O segmento é altamente importante para indústria mundial em razão da versatilidade dos produtos sintéticos, que podem ser remodelados e que podem substituir metal e vidro em variados segmentos industriais. 

Nos Estados Unidos, a Braskem é a maior produtora de polipropileno (PP), com uma produção de 2,02 toneladas anuais. Trata-se de um polímero flexível e resistente. É comumente encontrado em plásticos como baldes, para-choques de carros e embalagens. 

Já no México, a Braskem é líder na produção de polietileno, fabricando anualmente 1,05 tonelada do produto no país. É um polímero simples e menos custoso, que é encontrado em utensílios de cozinha, por exemplo.

Em seus diferentes tipos, polímeros são macromoléculas resultantes de unidades menores. Os polímeros sintéticos são produzidos em indústrias por meio de produtos derivados do petróleo, como a nafta. A produção dos polímeros é realizada por meio de processos químicos com catalisadores como ácidos, luz e calor.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Braskem é resultado do volume de vendas e do spread petroquímico, isto é, a diferença entre o preço do produto e o custo da principal matéria-prima. 

Dessa forma, a companhia ganha dinheiro. No contexto geral, a Braskem é a sexta maior companhia petroquímica do planeta. 

Spread apertado deve ser ‘novo normal’

Como a nafta, derivado do petróleo, é uma das principais matérias-primas da Braskem, a empresa enfrentou dificuldades ao longo de 2022, com a disparada do preço da commodity em meio à guerra no Leste Europeu.

Hoje, mesmo com a queda de 33% do preço do barril de petróleo Brent desde a máxima do ano (caindo de US$ 127 para US$ 85), o cenário é menos favorável, em razão de uma menor procura por resinas e de estoques globais bem sólidos.

Além disso, a inflação global e a desaceleração chinesa devem ser alguns dos entraves ao longo dos próximos trimestres. 

Nos últimos 30 anos, a China cresceu, de forma real, 8,8% ao ano, acelerando a inovação e importância do segmento petroquímico. A projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) para 2022, porém, é de um crescimento nominal de 3,2%. Em 2023, a estimativa é de um aumento do PIB na ordem de 4,4%. 

No terceiro trimestre deste ano, a Braskem teve um prejuízo de R$ 1,1 bilhão, revertendo o lucro de R$ 3,5 bilhões do mesmo intervalo de 2021.

A expectativa é que os spreads no quarto trimestre deste ano ainda levem o resultado a um patamar levemente inferior ao registrado durante os três meses imediatamente anteriores. No período, o petróleo entrou em tendência de queda, mas há uma defasagem de cerca de três meses para que os menores preços da matéria-prima favoreçam a operação da petroquímica.

Segundo Rosana Avolio, diretora de relações com investidores da Braskem, em conversa com a Agência TradeMap no início de novembro, 2021 foi considerado um ano com spreads acima da média histórica.

O contexto ajudou a empresa a controlar seu endividamento e gerar valor por meio de distribuições generosas de dividendos. Agora, segundo ela, é tempo de a empresa ser conservadora.

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A Braskem enxerga uma boa retomada da demanda entre 2024 e 2025 e quer acelerar investimentos em capacidade para fazer frente a uma nova dinâmica positiva do mercado.

Até lá, em função da escolha pela alocação de capital, os dividendos podem ficar pressionados e serem de apenas os 25% do lucro líquido determinados em estatuto.

A companhia gosta de ressaltar que tem atuação global e não depende exclusivamente de uma região em que atua. Apesar de o spread global estar menor do que previsto no início do ano, quando a estimativa interna já era de normalização do setor, a empresa enxerga as perspectivas com bons olhos.

Influência tributária

Embora longe dos holofotes do dia a dia da população, a produção petroquímica sempre foi considerada importante no contexto brasileiro. Criado em 2013, o Reiq (Regime Especial da Indústria Química) garante ao setor um generoso regime dos impostos PIS/Cofins sobre a compra de matérias-primas.

Desde o ano passado, o governo estava tentando quebrar esse benefício de forma completa e imediata, mas o Congresso aprovou uma alteração nos incentivos tributários, com o fim da Reiq em janeiro de 2028.

Além disso, em agosto deste ano, a Camex (Câmara de Comércio Exterior) aprovou uma redução do imposto de importação para insumos industriais, como glifosato e resinas plásticas. A alíquota foi reduzida a quase um terço do que era antes.

A medida valerá até agosto de 2023 e tem por objetivo o enfrentamento de problemas de abastecimento em certas cadeias produtivas.

Segundo Avolio, da Braskem, foi observada uma entrada de produtos importados desde então, mas a totalidade desse movimento – que seria negativo para a petroquímica brasileira – não pode ser atribuída somente à redução de impostos.

De acordo com a executiva, fornecedores de clientes na China podem ter identificado uma demanda asiática mais fraca e migraram para o Brasil, mas o impacto não é material à companhia.

A empresa tem a vantagem de ter alto volume em vendas e relacionamento de longa data com clientes, que dificilmente deixarão de consumir da Braskem.

Mudanças no viés da Petrobras

Com a perspectiva de mudanças na Petrobras com o governo Lula a partir de 2023, os investidores podem se perguntar qual é o impacto de alguma alteração estrutural na estratégia da petroleira, como o fim do PPI (Preço de Paridade Internacional). 

Essa política de preços busca alinhar a rentabilidade das empresas que operam na venda de combustíveis no país. Com isso, permite a manutenção de um mercado competitivo e que atenda a demanda dos consumidores.

A Petrobras tem um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para a manutenção do PPI, com compromisso pela abertura do mercado de refino e descentralização do segmento. 

Numa eventual interferência do governo federal na estatal, para que os preços de combustíveis estejam desatrelados do mercado internacional, o mercado do petróleo e seus derivados no Brasil poderia ser impactado.

Esse receio, todavia, não chega à Braskem, segundo a diretora de RI da empresa. A Braskem tem contratos com a Petrobras até 2026 e são 100% referenciados nos preços internacionais 

Novo controlador?

A outra relação que a Petrobras tem com a Braskem é o controle de 37% das ações da empresa. Há o claro e público interesse da estatal em vender essa fatia na petroquímica.

Em janeiro deste ano, a operação quase foi consolidada com um follow-on (oferta subsequente de ações), mas a Petrobras e a Novonor (antiga Odebrecht) interromperam a oferta por conta das condições de mercado. 

A posição da Braskem reside apenas em fornecer as informações necessárias e não adentrar às negociações entre os controladores e os interessados, além de defender o interesse de todos os acionistas.

Nesse sentido, mesmo não estando no Novo Mercado, a companhia detém tag along de 100%. Esse mecanismo provê proteção legal concedida aos acionistas minoritários em negócios de venda do controle da empresa.

Recomendações para Braskem

Apesar de uma conjuntura complicada para os próximos 18 meses, os analistas do mercado ainda confiam que a Braskem tem valor a destravar.

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