Banco Inter (BIDI11) cria estrutura para reorganização societária e mudança para a Nasdaq; ações lideram Ibovespa

Segundo o banco, o desembolso com a opção cash-out está limitada a R$ 1,13 bilhão

Foto: Divulgação

(Esta matéria foi atualizada às 17h20 do dia 25/04/2022 para corrigir as datas relacionadas ao cash-out, com base no estabelecimento da data da nova AGE para deliberação da reorganização societária do Inter.)

O sonho americano do Banco Inter (BIDI11) segue mais vivo do que nunca. Após ter desistido de mudar de endereço no fim do ano passado, a instituição mineira criou estruturas para garantir sua reorganização societária e está mais próxima de migrar suas ações para a Nasdaq. Por volta das 12h40, as units do banco subiam 4,36%, a R$ 17,21.

Na última sexta-feira (15), o Banco Inter informou ao mercado que realizou um aditivo à sua declaração de registro na SEC (US Securities and Exchange Commission), a CVM americana, com novos termos e condições para a reorganização societária.

Na prática, a Inter Holding Financeira (HoldFin) incorporará todas as ações de emissão do Inter pelo seu valor patrimonial contábil. Com isso, a HoldFin, que é a controladora do banco, irá realizar a emissão de duas classes de ações preferenciais obrigatoriamente resgatáveis.

Trata-se de uma classe de BDRs (Brazilian Depositary Receipts), caso o investidor opte pelos papéis listados no Brasil, ou a classe com opção de resgate em dinheiro, o cash-out.

Aqui está o pulo de gato da empresa: a opção cash-out está limitada a R$ 1,13 bilhão, montante 43,5% menor que o estipulado na primeira tentativa de reorganização.

No processo instaurado no fim do ano passado, o Inter articulou com instituições financeiras a possibilidade de financiamento de até R$ 2 bilhões para reembolso aos clientes que optassem por vender seus papéis.

Com a acentuada queda das ações dias após o anúncio da reorganização, a conjuntura tornou-se favorável aos investidores que escolhessem sair da empresa, já que o prêmio pelo cash-out estava na casa dos 39%. O montante ficaria superior aos R$ 2 bilhões e o Inter desistiu.

Nas condições atuais, caso o volume solicitado de cash-out fique igual ou menor que o limite estabelecido, os acionistas legitimados (com posição na empresa no dia 15 de abril) receberão os papéis preferenciais (PN) resgatáveis.

Mas caso o montante supere o teto de R$ 1,13 bilhão, os investidores que têm direito receberão as PN resgatáveis em dinheiro de forma rateada, limitando os gastos do Inter.

Para cada seis ações ordinárias ou preferenciais, o banco entregará uma PN resgatável de emissão da HoldFin. Isto é, para cada duas units, será paga uma ação resgatável – diminuindo o prêmio aos acionistas e mitigando os pedidos de cash-out.

Isso porque, o valor dos papéis resgatáveis foi definido em R$ 38,70 e duas units, com base no preço de negociação desta segunda, somam um valor de R$ 34,14. Há um prêmio consideravelmente menor de pouco menos de 12%, que incentiva os acionistas a acompanharem a operação – que é o que o banco realmente quer.

Para garantir a operação, o banco utilizará recursos acordados para o financiamento de R$ 1,15 bilhão com instituições financeiras, o qual será formalizado até a data da AGE (Assembleia Geral Extraordinária) acerca da reorganização.

A opção cash-out estará disponível para o prazo de seis dias úteis, contandos a partir do dia 12 de maio, quando acontecerá a AGE, para que os investidores interessados exerçam a opção. Ou seja, entre os dias 13 de maio e 20 de maio.

Em caso de rateio, o Inter informará o mercado sobre o resultado dois dias úteis após o final do prazo de adesão ao cash-out, isto é, no dia 24 de maio.

Banco Inter cada vez mais americano

Caso a reorganização se materialize, o Inter passará a se chamar Inter&Co, Inc, nova denominação de Inter Platform, Inc. Os papéis serão listados na Bolsa de tecnologia dos Estados Unidos, com seus recibos negociados no Brasil.

A decisão do banco é pautada em algumas razões. A primeira delas diz respeito à estrutura societária. Listando os papéis no mercado americano, a empresa poderá emitir ações com votos múltiplos.

A HoldFin, que continuará sendo a controladora, irá deter ações da classe B, as quais dá direito a 10 votos por ação. Com isso, o banco poderá realizar emissões de ações, levantando capital por meio do equity da empresa, preservando a estrutura de sua governança.

Governança essa que, inclusive, deve melhorar cada vez mais. Atualmente, quatro dos nove membros do Conselho de Administração são independentes e a intenção do banco é igualar o número de independentes e não independentes em até um ano.

A entrada do banco no mercado internacional também condiz com seu contexto atual. Em primeiro lugar, a Nasdaq é uma Bolsa que tem apetite por empresas de tecnologia e alto crescimento, conferindo maiores múltiplos a companhias que têm o valor no futuro.

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A queda livre do Banco Inter e o que esperar para o banco daqui para frente

No mercado local, o cenário é o oposto para o Inter, que tem métricas de crescimento pouco precificadas pelos investidores – vide a queda de quase 40% no acumulado de 2022.

Além disso, a mudança de endereço para os Estados Unidos também conversa com o momento das operações da empresa. Segundo a direção do banco, o Inter deve ter 50% de sua receita oriunda do mercado internacional em 2025.

No primeiro trimestre, a empresa concluiu o processo de aquisição da Usend, transformando-se em uma companhia global com alto volume de remessas internacionais e produtos e serviços digitais para residentes americanos.

Ainda vale a pena?

Como dito, as ações do Inter estão passando por forte correção nos últimos meses. 

Seja pelo receio com a concorrência, “commoditização” do serviço de banco digital ou até as dúvidas relacionadas à operação de crédito com alta inadimplência, as ações do banco deixaram de ser as queridinhas dos investidores.

Ações BIDI11, BPAN4, NUBR33 e o índice Ibovespa nos últimos 30 dias

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Enquanto o Ibovespa avança cerca de 10% no ano, os papéis do Inter figuram entre as maiores quedas dentre os integrantes do índice. 

Contudo, segundo dados compilados pela Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, o momento parece mostrar uma boa oportunidade para iniciar uma posição na empresa. 

Todos os oito especialistas que acompanham o Banco Inter indicam a compra das units, com preço-alvo mediano de R$ 36. Com base nas avenidas de crescimento – inclusive fora das fronteiras brasileiras – os analistas entendem que o preço das ações não corresponde com o valor da empresa. 

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