Começou com o “meteoro”, acabou com a destruição completa da credibilidade do teto de gastos e da Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa é a avaliação do economista-chefe da Verde Asset, Daniel Leichsenring, sobre as medidas adotadas pelo governo para acomodar um volume extraordinário de gastos, como fundo eleitoral e emendas parlamentares, que passam agora pela discussão de redução de impostos para diminuir o preço dos combustíveis.
“O governo Bolsonaro chega ao fim de maneira praticamente indistinguível do governo Dilma do ponto de vista econômico, bem como o ministro da Economia converge para o ministro da Fazenda que gerou o maior desastre econômico de que se tem registro”, aponta Leichsenring em relatório do fundo Verde, se referindo, respectivamente, a Paulo Guedes e a Guido Mantega.
A carteira da Verde Asset, conduzida pelo conhecido gestor Luis Stuhlberger, fechou 2021 com a segunda perda da história do fundo, em queda de 1,13%, mas mostrou recuperação em janeiro, acumulando ganho de 1,43% mês passado, contra alta de 0,73% do CDI.
O resultado partiu principalmente de ganhos com as posições tomadas (apostando na alta) em juros nos mercados desenvolvidos, e compradas em ações e inflação implícita no Brasil (juros prefixados menos a taxa de juros dos papéis indexados à inflação).
As perdas, marginais, partiram de posições em ações globais e do juro real brasileiro.
Enquanto o Ibovespa subiu 6,98% mês passado, o S&P 500 teve o pior janeiro desde 2009, e o Nasdaq caiu 8,5%, mostrando o forte impacto das taxas mais altas de juros nos Estados Unidos nas empresas de alto crescimento.
O Brasil, onde esse processo de aperto monetário já está muito mais adiantado, o fundo teve uma boa performance no mês passado, beneficiado por altas de preço de commodities e fluxos de investidores estrangeiros, principalmente para bolsa. Além disso, o desempenho foi favorecido pela saída de investidores de ações de empresas de tecnologia para as de companhias mais cíclicas, de setores como commodities e bancos.
Apesar da boa performance do mercado brasileiro no curto prazo, a gestora se mostra preocupada com medidas populistas que o governo está sinalizando.
Redução de impostos sobre combustíveis
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada na semana passada, 3 de fevereiro, que prevê a redução de tributos sobre combustíveis em 2022 e 2023 sem a contrapartida de compensação de receitas, pode elevar o déficit público nominal em 2022 a pelo menos R$ 800 bilhões, estima o economista-chefe da Verde.
Com isso, a dívida pública passaria de 80,3% do PIB em 2021 para 85% em 2022. “Claro que diante dessa dinâmica, a taxa de juros acabará aumentando, numa bola de neve”, diz Leichsenring na carta.
Segundo a gestora, a eliminação dos impostos de PIS/Cofins e Cide sobre todos os combustíveis e energia elétrica implicaria um custo anual da ordem de R$ 70 bilhões. A eliminação do IPI custaria outros R$ 75 bilhões ao ano, e, se a desoneração for estendida para o ICMS, o impacto negativo nas contas seria de R$ 110 bilhões ao ano, calcula a gestora. “No mínimo, estaríamos falando de uma desoneração da ordem de 1% do PIB e, no máximo, de 3% do PIB”, aponta a Verde Asset, em carta aos cotistas.
A desoneração, segundo a gestora, poderia dar carta branca a outras medidas populistas que implicariam aumento de gastos como a correção da tabela do Imposto de Renda e as pressões por reajustes de salários do funcionalismo público.