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Um ano de guerra na Ucrânia: como o petróleo se portou nos últimos 12 meses?

Conflito envolvendo a Rússia e a Ucrânia, que se iniciou exatamente um ano atrás, fez preço do petróleo disparar

Foto: Shutterstock/evan_huang

Uma guerra, mesmo que envolva apenas duas nações, sempre traz impactos globais, já que, num mundo cada vez mais dependente de importações e exportações, cadeias de suprimentos podem ser afetadas. No caso do conflito envolvendo a Rússia e a Ucrânia, que se iniciou exatamente um ano atrás, o preço do petróleo foi a manifestação mais clara de como um conflito regional pode se transformar num problema global.

A Rússia é um dos maiores produtores de energia do planeta. O país bombeia aproximadamente 9 milhões de barris de petróleo por dia. Com base em dados da Bloomberg de fevereiro do ano passado, isso equivale a 11,5% do total da produção global diária.

Como a Rússia foi quem iniciou a guerra ao invadir a Ucrânia, diversos países impuseram sanções econômicas aos russos, o que fez o mercado internacional projetar escassez da commodity no mundo.

O presidente americano, Joe Biden, por exemplo, aprofundou as sanções contra a Rússia e aplicou um embargo às exportações de petróleo do país por causa do conflito. Outros países do Ocidente também entraram no esforço para pressionar a economia russa e forçar Vladimir Putin a interromper a guerra.

O resultado: os preços dispararam, e apenas duas semanas após o início oficial da guerra, o barril do petróleo atingiu US$ 133,18 – uma alta de aproximadamente 30% em relação ao valor anterior ao conflito.

Passada a efervescência e as dúvidas iniciais sobre os impactos da guerra na Ucrânia, o preço do petróleo perdeu força e atingiu uma média de US$ 113 entre abril e junho. Posteriormente, chegou a ser negociado próximo aos US$ 90 no terceiro trimestre, com os mercados repercutindo as incertezas da reabertura da China e o futuro dos juros pelo mundo.

Essa situação com o petróleo não afetou somente o preço do barril em si. Patrick Conrad, analista de commodities da Western Asset, destaca que toda cadeia de produção foi afetada.

“O custo de transformar o petróleo em derivados também disparou, o custo das refinarias, logística de fretes seguiu o mesmo movimento. Tudo isso em função da guerra num primeiro momento”, diz.

Em relatório publicado em dezembro de 2022, o BTG relembrou que com as sanções do Ocidente contra a Rússia, o país começou a reduzir o fluxo de gás para Europa a partir de maio de 2022, chegando a interromper o envio em setembro. “Desde então vimos uma pressão nos preços do gás natural e uma corrida por fontes alternativas de energia por partes dos países para enfrentar o inverno”, afirmou  o banco.

Na avaliação de Ariane Benedito, economista da Esh Capital, a queda nos preços do petróleo no decorrer de 2022 se deu pois a guerra se prolongava, mas sem choques de oferta, já que o inverno na Europa não foi tão rigoroso e não houve um aumento dramático na demanda por combustíveis no continente.

Somado a isso, o grande fator que fez o petróleo se manter relativamente estável da metade do ano passado até aqui foi o movimento generalizado de alta nos juros ao redor do mundo.

Nos EUA, por exemplo, o Federal Reserve, banco central do país, anunciou em março de 2022 o primeiro aumento desde 2018 na taxa de juros americana, que estava perto de zero. De lá pra cá, foram aumentos sucessivos até chegar na faixa atual, de 4,5% a 4,75% ao ano.

Somado a isso, o analista de commodities da Western Asset avalia que a Rússia passou a realocar as vendas de petróleo para a China e a Índia, mesmo que com um desconto em relação ao valor do Brent – a referência internacional para os preços da commodity.

Conrad ainda relembra que os Estados Unidos liberaram parte de suas reservas estratégicas de petróleo para evitar escassez no mercado. “Os EUA tinham algo próximo a 700 milhões de barris em reservas, e agora esse estoque está abaixo de 400 milhões de barris, o que é muito baixo”, comenta.

Mesmo com uma diminuição das notícias sobre a guerra e um arrefecimento do conflito, o preço do petróleo tipo Brent segue em patamares elevados em relação a anos anteriores. Só para se ter uma ideia, a cotação média de 2021 para a commodity foi de US$ 70,18, e antes da pandemia de Covid-19 era de US$ 60.

Brent elevado turbinou resultado de petrolíferas

Com o barril do petróleo valorizado no primeiro semestre de 2022, as principais empresas do setor na Bolsa brasileira, como Petrobras (PETR4), PRIO (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) aproveitaram o momento e viram os números saltarem no primeiro e segundo trimestre de 2022.

No segundo trimestre do ano passado, o preço médio do petróleo estava 65,3% maior em relação a igual período de 2021, a US$ 113 o barril, o que acabou proporcionando um grande volume de vendas e receitas para as empresas.

A Petrobras, por exemplo, maior empresa do ramo no Brasil, atingiu R$ 170,96 bilhões em receita líquida no segundo trimestre de 2022, valor 54,4% maior ante igual intervalo de 2021, mesmo com uma queda na produção. Esse avanço na receita turbinou o lucro da estatal, que atingiu R$ 45,03 bilhões, superando em 10,1% o divulgado no mesmo período do ano anterior.

Já a Prio viu seu lucro líquido saltar 112% na comparação anual, para US$ 139,936 milhões. A receita da empresa alcançou US$ 337,3 milhões no segundo trimestre, uma alta anual de 95%, enquanto o Ebitda ajustado, que reflete a geração de caixa, subiu 122% na base anual, para US$ 269,287 milhões.

A 3R viu seu faturamento quase triplicar ante o mesmo intervalo de 2021, passando de R$ 152 milhões para R$ 400 milhões. A companhia, no entanto, foi a única que teve queda no lucro, de 41%, para R$ 32,1 milhões.

O que esperar do petróleo em 2023?

Para Conrad, analista de commodities da Western Asset, o preço do petróleo tipo Brent em 2023 vai depender de como se dará o aumento dos juros nos Estados Unidos e a possível recessão na Europa.

Nos Estados Unidos, vale acompanhar se veremos uma economia em um hard landing (desaceleração brusca do crescimento econômico) ou em um soft landing, cenário de uma desaceleração menos brusca.

“Essa desaceleração econômica com o aumento da taxa de juros é prejudicial para as commodities, incluindo petróleo”, diz Conrad, da Western Asset. Apesar disso, ele avalia que o preço do barril pode voltar a subir no segundo semestre, com os EUA tendo que repor os estoques estratégicos perdidos no ano passado.

Outro ponto citado pelo analista é a reabertura da China, que se bem-sucedida pode aumentar a demanda por combustíveis no país e valorizar o petróleo.

Ariane Benedito, da Esh Capital, considera que já estamos vendo um cenário de soft landing, o que também pode ajudar o petróleo a se valorizar em 2023. “Se pegarmos as leituras dos PMIs, os Índices de Gerentes de Compras do país, vemos um arrefecimento menor que o esperado”, avalia.

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