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Tesouro Direto: títulos públicos rendem até 10,8% no ano, mas só 4 ganham do CDI; onde investir hoje?

Em ano marcado por volatilidade, maior parte dos papéis está com saldo positivo

Foto: Shutterstock

Em um ano marcado pela disparada da inflação, pela alta dos juros no Brasil e pelo aumento das preocupações com uma recessão, os títulos públicos negociados via Tesouro Direto caminham para encerrar 2022 majoritariamente no campo positivo, mas apenas o retorno de quatro de 29 papéis supera a variação do CDI acumulada no período, de 10%.

Todos os “vencedores” são do tipo Tesouro Selic, com destaque para o com vencimento em 2027, com valorização de 10,8% neste ano. Esses são os títulos públicos mais conservadores, já que seu rendimento acompanha de perto a variação da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

Embora esses papéis se destaquem em 2022, títulos com retornos prefixados, que atualmente oferecem taxas ao redor de 12%, têm entrado cada vez mais no radar, diante da esperada queda da taxa básica de juros em 2023. O Tesouro Prefixado é uma opção considerada mais arriscada e o prêmio pago atualmente é tido como atrativo para a entrada dos investidores, apesar de o clima incerto ainda abrir espaço para novo estresse no mercado, conforme foi visto ontem, após o resultado das eleições.

De olho nessa volatilidade e também no patamar atual da Selic, os títulos com retornos pós-fixados (Tesouro Selic) ainda devem ter seu espaço nas carteiras, apesar de o Banco Central (BC) já ter reforçado o fim do ciclo de alta de juros na semana passada.

Das 11 opções disponíveis para compra no programa hoje, apenas o título indexado à inflação com vencimento em 2045 está com queda de preço neste ano, de 6,82%, segundo dados divulgados pelo Tesouro Nacional nesta terça-feira (1º).

A queda dos papéis reflete o grau de oscilação que títulos mais longos carregam em momentos de forte estresse, como o atual. Quando maior o horizonte de tempo do investimento, mas suscetível a altos e baixos ele fica.

Confira a seguir o desempenho de todos os títulos públicos disponíveis atualmente para compra no Tesouro Direto em outubro, no acumulado ano e em 12 meses.

E lembre-se que você só terá as perdas ou os ganhos indicados se vender os papéis antecipadamente. Se os títulos forem carregados até o vencimento, o retorno vai respeitar as taxas e as condições contratadas no momento da aquisição.

Tesouro Selic lidera os ganhos do ano

Com duas alternativas disponíveis hoje para compra (com vencimentos em 2025 e 2027), o Tesouro Selic apresenta valorização acima de 10% em 2022, a maior alta do ano. 

Já na seara dos títulos prefixados, a maior valorização do ano está na opção com vencimento em 2025, com aumento do preço de quase 6,5%.

Sob a ótica do mercado financeiro, o ano pode ser dividido em duas partes: até o fim do primeiro semestre, a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) tirou o sono dos investidores, chegando ao ápice de 12,13% nos 12 meses encerrados em abril.

Já a segunda metade de 2022 tem sido marcada pelo caminho oposto, com forte desaceleração da inflação após o governo federal retirar impostos dos combustíveis, um dos principais vilões deste ano. Após três meses de queda, a alta do IPCA diminuiu para 7,17% em setembro.

É hora de comprar Tesouro Prefixado?

Com o arrefecimento da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou na semana passada o fim do ciclo de alta da Selic, com a manutenção dos juros em 13,75% ao ano.

Mesmo que não haja nenhum sinal de corte das taxas e apesar de o Comitê do Banco Central ter mantido o tom duro de vigilância quanto aos rumos da inflação, investidores acreditam que os juros vão começar a cair em meados de 2023, apesar de ainda encerrarem o ano acima dos dois dígitos (em 11,25%, pelo mais recente Boletim Focus).

Um cenário de queda de juros aumenta a rentabilidade dos títulos prefixados, já que a queda das taxas é acompanhada por um aumento dos preços. Dessa forma, o investidor tem a possibilidade de vender seus papéis antecipadamente por um valor acima do aplicado na data de compra.

E se decidir permanecer com o título em carteira, o investidor vai travar uma taxa de retorno que não estará mais disponível para novos aportes.

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Diante desta perspectiva, Fabiano Zimmermann, gestor de renda fixa da ASA Investments, afirma que o cenário está propenso para o aumento do risco, principalmente nas opções prefixadas com vencimento em 2025 e 2029, que estão com taxas na casa de 11,8%.

A aposta de que os prêmios vão cair, ou seja, de que o preço vai valorizar, é reforçada por dados que mostram maior controle da inflação.

“As taxas [dos prefixados] tendem a apresentar queda, portando haverá a valorização do título olhando em um cenário de 12 a 18 meses. É a hora de mais risco neste tipo de aplicação”, ressalta Zimmermann.

Olhando sob uma ótica menos otimista, Rodrigo Knudsen, gestor da Empiricus Investimentos, não descarta novas altas nas taxas dos prefixados nas próximas semanas, mas pondera que o atual nível já está atrativo o suficiente para a ampliação dos investimentos.

“Já está em um bom patamar, mas o ideal é que se faça um pouco de compra pelas próximas três semanas”, explica, também ressaltando a preferência pelos papéis com vencimento em 2025 e 2029.

Tesouro Selic para quem quer fugir do estresse

Apesar da oportunidade nos prefixados, passada a eleição, há que afirme que as taxas ainda devem passar por novos períodos de estresse nas próximas semanas.

Nesse caso, para quem quer evitar a volatilidade, a principal recomendação é manter os aportes em opções mais seguras, como o Tesouro Selic.

Dados do mercado de trabalho ainda mostram uma economia bastante pujante, tendendo a dificultar o arrefecimento da inflação, diz Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research. No cenário internacional, a falta de perspectiva para o confronto no Leste da Europa, além das altas dos juros nas principais economias do mundo, adicionam doses de temor à equação.

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Dentro do cenário brasileiro, ela ainda ressalta a expectativa com a política fiscal após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deste domingo (30). Apesar de o petista já ter declarado que deve seguir o compromisso fiscal, nenhum nome da futura equipe econômica ainda foi revelado, aumentando a tensão sobre o que vai ser feito com as contas públicas a partir de 2023.

Diante desse contexto, a agente do mercado financeiro não aconselha a migração para os prefixados nem a diminuição dos aportes em Selic.

“O investidor tem que pensar que não precisa arriscar o seu dinheiro em qualquer cenário. Tem que ir onde se tem muito para ganhar e pouco para perder, que é o posto da situação que vivemos agora”, afirma Fontes, ressaltando que há também oportunidade de diversificação dentro das opções pós-fixada, como em títulos privados.

Com uma visão semelhante, Camilla Dolle, head de research de renda fixa da XP, recomenda a alocação em prefixados apenas para investidores que estão mais propensos ao risco, e sugere não destinar mais do que 4% de todo o patrimônio.

A economista concorda que as taxas estão dando retornos consideráveis, mas ainda não descarta que novas pressões nos juros possam estressar o mercado e mudar a rentabilidade nas próximas semanas.

“Apesar de as taxas estarem elevadas, os papéis prefixados são os mais sensíveis às oscilações do mercado, e ainda há muita incerteza. Mesmo com o nível alto, continuamos recomendando cautela com o tamanho da alocação”, afirma.

Para investidores mais temerários com o futuro das taxas, o ideal é manter os aportes em Tesouro Selic até que o cenário doméstico e internacional esteja menos difuso.

“Estamos com uma taxa [de juros] alta. Ela pode cair no ano que vem e ir para próximo de 10%, mas ainda vai ser algo acima de dois dígitos”, destaca.

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