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Netflix cai 35% e perde um “Bradesco” em valor de mercado; está barato ou pode cair mais?

Ações da Netflix (NFLX34) caem 35%, com perda de US$ 50 bilhões em valor de mercado, após a companhia divulgar queda do número de assinantes

Ana Julia Mezzadri

Ana Julia Mezzadri

Foto: Shutterstock

As ações da Netflix (NFLX34) fecharam esta quarta-feira (20) em queda de 35,12%, maior recuo desde 2004, com uma perda de mais de US$ 50 bilhões em valor de mercado, um pouco mais do que vale o Bradesco, cuja ADR negociada em Nova York avalia o banco em US$ 48,7 bilhões.

O tombo veio após a companhia divulgar uma queda do número de assinantes pela primeira vez em dez anos e sinalizar a continuação da redução da base de clientes nos próximos meses. Diante do tombo, surge a dúvida: os papéis ficaram baratos ou ainda têm mais espaço para cair?

A queda verificada hoje no mercado reflete uma reavaliação do potencial de crescimento da empresa, com alguns analistas chegando a cortar o preço-alvo do papel pela metade. O Goldman Sachs, por exemplo, cortou o preço-alvo para o papel para 12 meses de US$ 420 para US$ 265. A ação fechou cotada hoje a US$ 226,19.

“O management errou nas projeções com as distorções dos dados mostrando forte crescimento em decorrência da pandemia e agora o mercado está reavaliando o potencial de crescimento”, diz Marcelo Karvelis, sócio-fundador e diretor de gestão de recursos da gestora BlueGriffin.

A gestora tinha uma posição pequena nas ações da Netflix, que representava cerca de 2% da carteira do fundo BlueGriffin Global Equities, mas vendeu os papéis na semana passada, diz Karvelis. “Depois da forte queda das ações em janeiro, as ações já estavam com tendência de performance abaixo da média e resolvemos desfazer a posição para se concentrar em outros papéis do setor de tecnologia”, diz Karvelis.

A Netflix informou ontem que houve uma redução de 200 mil assinantes do serviço de streaming no primeiro trimestre. A perspectiva era de um crescimento da base de clientes de 2,5 milhões. A empresa ainda sinalizou que essa queda deve se estender nos próximos meses, prevendo uma redução de 2 milhões de assinantes no segundo trimestre.

O resultado foi impactado pela perda do número de 700 mil assinantes na Rússia com a guerra na Ucrânia e também nos Estados Unidos e Canadá, após o aumento do preço do serviço de streaming.

A receita total da companhia, contudo, foi de US$7,86 bilhões no período, abaixo das expectativas de US$7,93 bilhões.

“Com mais de 220 milhões de usuários no mundo e outros mais de 100 milhões que consomem o serviço compartilhando senhas, a Netflix saturou a maioria dos seus mercados potenciais”, diz Richard Camargo, analista da Empiricus.

Hoje a Netflix negocia a um múltiplo de cerca de três vezes as vendas estimadas para os próximos 12 meses, em linha com o histórico anterior a 2018 e 2019. “Com faturamento na casa de US$ 29 bilhões anuais, a Netflix precisa ser precificada por rentabilidade e não receita ou crescimento”, diz Camargo.

Apesar da queda, a Empiricus hoje recomenda que os investidores não comprem ação da empresa, diz Camargo.

O estrategista-chefe e sócio da Avenue, William Castro Alves, afirma que a Netflix negocia com um múltiplo de preço/lucro (P/L) de cerca de 20 vezes o lucro, o que talvez esteja mais em linha com uma empresa que dá lucro, mas não cresce.

A questão, segundo o analista da Avenue, é se a empresa vai continuar entregando o mesmo lucro.

Karvelis destaca que o aumento da inflação pressiona a renda das famílias, que passam a ficar mais seletivas com serviços e preços.

Além disso, com o arrefecimento da pandemia, houve uma mudança nos hábitos de consumo da população, que passou a ter menos tempo disponível para consumir serviços de streaming. “A Netflix enfrenta hoje um ambiente mais difícil. A ação pode até se recuperar, mas acho difícil voltar para os US$ 700 que chegou a negociar”, diz.

Ajuste nos pacotes

A empresa anunciou que pretende fazer ajustes nos preços dos pacotes como oferecer uma assinatura mais barata com anúncios, e limitar o compartilhamento de senhas.

O plano inicial é abordar o dono original da conta, e informá-lo que farão uma cobrança adicional devido ao compartilhamento da senha, afirma Camargo, que destaca que hoje o número de acesso compartilhado do serviço é de 100 milhões de usuários. “Acredito que é algo necessário, mas não suficiente”, diz.

Apesar dos ajustes nos pacotes de serviços, a margem para crescimento hoje da Netflix é menor, com o aumento da concorrência, como os serviços de streaming da Disney+, HBO, Amazon Prime (AMZO34) e Apple TV (AAPL34). “Teve um crescimento muito grande em quantidade e qualidade dos concorrentes”, diz Karvelis.

Apesar da forte queda das ações nesta quarta-feira, o gestor da BlueGriffin acredita que a pressão de venda dos papéis deve continuar uma vez que muitos fundos listados em Bolsa (ETFs– Exchange-Traded Funds) seguem índices de ações de tecnologia que incluem os papéis da Netflix.

“A venda desses ETFs aumenta a pressão para se desfazer dessas ações e a queda pode ser ainda maior que a justificada pelo fundamento da empresa. Por isso, por mais que o papel tenha caído, não pensamos em recomprá-lo”, diz Karvelis.

Desconto das ações techs já reflete em grande parte alta de juros nos EUA

As ações do setor de tecnologia e de empresas de crescimento em geral, que dependem mais de investimentos, têm sofrido uma pressão de venda com a alta da taxa básica de juros nos Estados Unidos desde o fim do ano passado.

Para Karvelis, boa parte dessa alta já está refletida nos preços dos papéis, mas o mercado ainda está sensível ao aumento da taxa de juros nos EUA. “O Fed [Federal Reserve, banco central americano] disse como vai fazer, mas não quanto ele vai dar de aumento”, diz.

No caso dos serviços de streaming, o percentual desse segmento nas receitas da Apple e da Amazon é pequeno, mas essas companhias também devem sofrer com a concorrência nessa linha de negócios diz Karvelis. “Hoje a ação da Disney caiu mais de 5%, como reflexo da queda da Netflix”, diz.

A BlueGriffin reduziu a posição no setor de tecnologia no fundo de ações de 30% no fim do ano passado para menos de 16%.  “Nosso fundo é sistemático e escolhemos os melhores nomes de cada setor desde big techs até empresas menores”, diz Karvelis.

Para o gestor, apesar da queda dos papéis, o setor de tecnologia é onde as inovações devem acontecer e não ter uma exposição ao segmento na carteira não é uma política de investimento saudável para quem tem horizonte de investimento de longo prazo. “É preciso escolher os papéis de forma seletiva e não exceder nos tamanhos das posições”, diz.

 

 

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