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Investidor estrangeiro está relativamente tranquilo com resultado das eleições no Brasil, diz Kawall

Se não houver nenhuma ruptura institucional, poderá haver fluxo positivo de recursos para o Brasil após eleição, com apreciação do câmbio

Foto: Shutterstock

Seja quem for eleito presidente no Brasil em 2022, o investidor estrangeiro parece relativamente tranquilo com o resultado das eleições e, se não houver nenhuma ruptura institucional, poderá haver fluxo positivo de recursos para o país, afirma Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional, hoje à frente da gestora de patrimônio Oriz Partners.

Segundo Kawall, a possibilidade de continuidade da política econômica do atual governo ou da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já conhecido do mercado, reduz a incerteza em relação ao cenário eleitoral, o que pode contribuir para o câmbio permanecer nos níveis correntes no curto prazo, mesmo com uma alta de juros em curso nos Estados Unidos.

“O Brasil se beneficiou da alta dos preços das commodities, o que permitiu que tivéssemos uma apreciação do câmbio no ano, enquanto a maioria das moedas de países desenvolvidos se desvalorizaram muito”, disse Kawall, durante o Congresso Internacional Planejar.

Para o sócio e economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a taxa de câmbio pode até cair um pouco mais passando a eleição, para em torno de R$ 5, dependendo de como for encaminhada a questão fiscal.

O economista e professor do Insper, Roberto Dumas, também vê a possibilidade de a taxa de câmbio recuar do atual patamar de R$ 5,30 para algo em torno de R$ 5,10 a R$ 5,20 se não houver ruptura institucional após a eleição. A valorização do real, de toda forma, vai depender da política fiscal a ser adotada no próximo governo.

Questão fiscal é o ponto central do mercado para 2023

A condução da política fiscal e a discussão sobre qual será a nova âncora fiscal que deve substituir a regra do teto de gastos (que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior) no próximo governo concentra a atenção do mercado neste momento.

Kawall destaca que a economia brasileira deve ter um menor crescimento em 2023, abaixo dos 3% previstos para este ano, e diz que, nesse cenário, não há espaço para aumento de gastos. “Não é o momento de termos aumento de gastos públicos e de revermos regras fiscais. Isso pode colocar tudo a perder.”

Tanto Lula quanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) já sinalizaram que pretendem flexibilizar a regra do teto de gastos para acomodar as despesas com programas sociais, como o aumento permanente do Auxílio Brasil para R$ 600.

Segundo Vale, sem responsabilidade fiscal, o Banco Central pode ter menos espaço para reduzir a taxa básica de juros, hoje em 13,75%, no segundo semestre do ano que vem, o que pode comprometer ainda mais o crescimento do Brasil em 2023.

“Ano que vem devemos ter preços de commodities mais baixos, que ajudaram no crescimento do PIB neste ano, uma taxa de juros em 13,75% e recessão nos Estados Unidos e na Europa, com risco de termos um crescimento de voo de galinha”, diz Vale, com uma expressão em referência a períodos em que o crescimento não é sustentável.

China deve crescer menos, mas ainda há oportunidades para o Brasil

Mesmo com um crescimento menor da China, cujo PIB se expandiu em 3,9% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, o Brasil pode se beneficiar do aumento do consumo de produtos agrícolas pelos chineses, afirma Dumas.

A expansão do consumo doméstico deve ser o novo motor de crescimento da China a ser endereçado pelo governo do país, com a queda da participação das exportações.

“O governo chinês quer tornar o consumo a força motriz do crescimento”, diz Dumas, que vê espaço para o Brasil aumentar as exportações de grãos e proteína animal, cuja demanda tende a crescer com a elevação da renda dos chineses.

Kawall também vê espaço para o Brasil se inserir como um grande fornecedor na área de energias renováveis.

Nesse sentido, há oportunidades para o país aproveitar o crescimento da Índia nos próximos 20 anos para se tornar um grande fornecedor de produtos agrícolas e de energia renovável. “Esses países do Sudeste Asiático, como Índia, Tailândia e Indonésia, estão aumentando a proporção de etanol na gasolina, o que pode beneficiar as exportações de açúcar e etanol do Brasil”, diz Vale.

Para Dumas, o Brasil está melhor que seus pares emergentes, sendo, junto com o México, um dos poucos mercados de ações sem conflito geopolítico para o investidor aproveitar a alta das commodities. “Mas não podemos fazer muita bobagem.”

Kawall destaca que a redução da participação do crédito subsidiado dos bancos públicos, especialmente do BNDES, permitiu a evolução do mercado de capitais no Brasil nos últimos anos.

“Tomara que a gente mantenha a linha atual do BNDES, que tem sido estruturador de projetos, por exemplo, no setor de saneamento básico, com os leilões de privatização”, disse.

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