Juros podem cair mais rápido se política de gastos do novo governo for confiável, avalia Persio Arida

Economista acredita que novo postura diplomática pode ajudar na atração de investimentos estrangeiros

Foto: Shutterstock

Quem ganhar as eleições de outubro terá que concentrar os esforços em apresentar uma política de controle de gastos que leve a uma trajetória de crível de queda do endividamento público, abrindo espaço para a redução dos juros. Essa é a avaliação de Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real.

“Tudo isso começa com o presidente (eleito) sendo capaz de entender a gravidade da situação e negociar com o Congresso para reverter essa usurpação de função, que é o orçamento secreto. E também reordenar as finanças públicas e criar uma estabilidade para a relação entre dívida e PIB”, disse durante o MKBR2022, evento da B3 e Anbima.

A taxa básica de juros, a Selic, está em 13,75% ao ano e a perspectiva é que siga em patamar elevado até meados no ano que vem.

A relação entre a dívida brasileira e o PIB (Produto Interno Bruto) está em 77,6%. Esse é um dos indicadores utilizados por agentes do mercado financeiro para avaliar a capacidade de pagamento de um país. Quanto maior, maior pode ser o risco de insolvência.

O índice está em queda desde o ano passado não por causa de uma melhora fiscal, mas pelo efeito da inflação sobre o PIB e arrecadação.

Arida afirma que o ideal é ter uma política fiscal alinha com a monetária. Se o Banco Central está aumentando os juros, a política fiscal deveria ser de corte de gastos. Ele avalia ser impossível fazer isso no momento, mas que novos gastos devem ser bem direcionados.

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Para o economista, se um novo governo conseguir transmitir essa perspectiva de estabilização e posterior queda da relação entre dívida e PIB, a pressão dos agentes de mercado será menor.

“Acho que pode ter um espaço para gastos. Todo governo quer isso para atender as prioridades que são legítimas, mas é preciso sinalizar o horizonte de estabilização”, diz.

O economista Eduardo Gianetti da Fonseca, professor do Insper, também defende a adoção de uma política fiscal que leve à redução das expectativas para a trajetória da dívida.

“O que é fundamental é conquistar espaço para a redução mais rápida dos juros primários. Uma taxa real (acima da inflação) de 6% tende a fazer a dívida ganhar uma dinâmica de crescimento”, afirma.

Os economistas acreditam que endereçando as expectativas, o novo governo terá como trabalhar nas reformas que são necessárias: reforma administrativa, abertura comercial, reforma tributária e proteção ao meio ambiente e rede de proteção social. A reforma tributária é considerada a mais complexa.

Mercado externo

O Brasil é um dos países que pode tirar proveito do quadro de recessão global que se desenha. Isso porque as demais alternativas entre emergentes, como China e Rússia, perderam espaço na preferência dos investidores.
Essa atração dos investimentos, para Pérsio, pode ser mais rápida se o país se reposicionar do ponto de vista diplomático.

“Se o Brasil tiver uma boa política ambiental e energética e uma postura diplomática diferente o nosso potencial de crescimento (no curto prazo) é grande”, diz.

Nesse reposicionamento, ele cita a necessidade de busca de matrizes de energia menos poluentes e do compromisso de preservação da Amazônia.

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