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Interesse de investidor brasileiro por renda fixa no exterior aumenta, mas vale a pena?

Investimentos em títulos de renda fixa no exterior pagam retorno médio de 4% a 5% em dólar e são alternativa para diversificação

Foto: Shutterstock/FOTOGRIN

Com a alta da taxa de juros nos Estados Unidos, que alcançou o maior patamar desde 2007, e o aumento da preocupação com o cenário econômico no mercado doméstico, cresceu o interesse dos investidores por investimentos em renda fixa lá fora.

“Nos últimos três meses vimos um aumento grande por investimentos internacionais e um interesse maior por renda fixa do que em ações”, disse Lucas Rabechini, diretor de Produtos Financeiros da XP.

Essa procura acontece no contexto de queda das bolsas americanas, que amargaram a pior performance desde 2008 no ano passado, e a alta de juros nos Estados Unidos para o patamar de 4,25% a 4,5%, com perspectiva de subir mais.

Apesar do retorno menor que o da renda fixa local, com a taxa Selic em 13,75%, o investimento em renda fixa em dólar é avaliado como uma forma de os investidores diversificarem o risco Brasil na carteira.

“Com a renda fixa pagando um retorno de 4% a 5% em dólar, faz sentido os investidores buscarem investimentos em moeda forte como o dólar diante de maior instabilidade no Brasil”, avalia Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities, corretora de investimentos americanos para brasileiros com sede em Miami.

Plataformas ampliam opções de renda fixa gringa

De olho nesse público, as plataformas de investimentos têm ampliado a opção de produtos de renda fixa internacional.

C6 Bank incluiu, na semana passada, duas opções de investimentos no exterior em sua plataforma. Os clientes com conta internacional do C6 Global Invest podem investir em títulos de dívida de empresas brasileiras e estrangeiras emitidos no exterior (bonds) e em papéis do Tesouro americano (Treasuries).

Para investir em papéis de empresas e do Tesouro americano no C6, investidor deve ter uma conta internacional com saldo em dólar e precisa solicitar suas aplicações por meio de um assessor de investimentos, explica Igor Rongel, head de investimentos do C6 Bank.

Esses títulos oferecem uma remuneração prefixada e o investimento mínimo na C6 é em torno de US$ 1 mil.

A corretora Avenue também oferece a opção de investimentos em títulos do Tesouro americano e de bonds de empresas brasileiras e americanas lá fora a partir de US$ 50 mil e US$ 10 mil respectivamente.

Já na XP, o cliente internacional da XP Inc pode aplicar em mais de 30 bonds disponíveis na plataforma, tanto de emissores brasileiros quanto de empresas internacionais, a partir de US$ 5 mil.

Como funcionam (e quanto pagam) os Treasuries

Os títulos do Tesouro americano são considerados os ativos mais seguros do mundo, que são buscados em momentos de aversão a risco, e são assegurados pelo Departamento do Tesouro Americano.

Atualmente, os títulos do Tesouro americano com prazos mais curtos, de seis meses a um ano, estão pagando uma taxa de 4,8481% e 4,6996%. Já os papéis do Tesouro com prazo mais longo, de 10 anos, pagam um rendimento de 3,442%.

No caso dos títulos de dívida de empresas, esses papéis pagam um spread acima da taxa paga pelo título do Tesouro americano, que varia de acordo com o risco de crédito do emissor.

Ambos os papéis possuem alta liquidez lá fora, o que permite a venda antes do prazo de vencimento se o investidor precisar.

Segundo Zanin, os investidores brasileiros têm preferido investir em títulos em dólar com vencimentos mais curtos, de dois a cinco anos.

Quanto aos emissores, a demanda é bem equilibrada entre papéis de grandes empresas brasileiras, como Vale (VALE3), Petrobras (PETR3), Suzano (SUZB3) e Itaú Unibanco (ITUB4), e grandes empresas americanas, como Google (GOGL34), Amazon (AMZO34) e Disney (DISB34).

Um bond da Petrobras com vencimento em março de 2024 está pagando um retorno (yield) de 5,25% segundo dados da Finra (autoridade regulatória da indústria financeira americana).

“Grandes empresas americanas com grau de investimento estão pagando em torno de 4,5% para papéis com vencimento de dois a três anos”, disse Zanin.

CDBs americanos

Outra opção de investimentos em papéis de renda fixa no exterior são os CDs (sigla para certificado de depósito), que são o equivalente a um CDB estrangeiro.

Os CDs são títulos de dívida de empresas e bancos com prazos mais curtos e que possuem menor risco de investimento em relação aos bonds, como, por exemplo, preferência no recebimento dos pagamentos, afirma Zanin.

O C6 já oferece o produto aos clientes brasileiros por meio da plataforma C6 Global Invest com valor mínimo de aplicação de US$ 500. Esse produto é o mais demandado pelos brasileiros na plataforma C6 Global.

Segundo o C6, esses papéis ofereciam, no dia 11 de janeiro, um rendimento que variava de 4,90% ao ano, para o prazo de 30 dias, a 6,20% para títulos com vencimento de um ano.

Na Avenue, o investimento mínimo nesses papéis é de US$ 10 mil.

Os CDs de bancos brasileiros como Itaú e Bradesco pagam em torno de 5% a 6% dependendo do prazo, diz Zanin.

O investidor também pode comprar CDs de bancos americanos como do JP Morgan, que está pagando 4,755%, diz Zanin.

Segundo Zanin, no caso dos CDs, o investidor, em geral, tem que manter o papel até o vencimento.

Assim como o investimento em bonds e Treasuries,  o investidor só paga o Imposto de Renda no momento do regaste, quando incide uma alíquota de 15% .

Fundos de renda fixa

O investidor também pode investir em aplicações de renda fixa lá fora via fundos.

O C6, por exemplo, oferece mais de 200 fundos de várias gestoras na plataforma.

No caso dos fundos, o investimento mínimo pelo C6 é de US$ 1 mil, e há também um custo de transação, que é de US$ 18 para investir ou fazer o resgate. O Imposto de Renda nesse tipo de aplicação incide só no momento do resgate.

Na Avenue, os investidores podem investir em fundos de renda fixa com aplicações a partir de US$ 2 mil.

ETFs de renda fixa

Os fundos listados em bolsa, os ETFs, que seguem índices compostos por títulos de renda fixa de empresas e do governo, também são uma opção para os investidores aplicarem nesse mercado lá fora.

Na Nomad, os cinco ETFs mais negociados na plataforma são de renda fixa, afirma Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad.

O ETF recomendado pela Nomad é o SGOV, que segue um índice composto por títulos do Tesouro americano com vencimento de zero a três meses e que oferece um retorno próximo à taxa básica de juros nos EUA, que está entre 4,25% e 4,5%.

“Com a subida dos juros de curto prazo nos EUA, que deve continuar em 2023 até um patamar de 5,25%, esse produto deve entregar retorno entre 4% e 5% neste ano”, afirma Pereira.

Há também interesse dos investidores por ETFs de empresas com grau de investimento, como o LQD, e que investem em papéis do Tesouro americano com prazos mais longos, como o TLT. Porém, quanto mais longo o vencimento dos papéis, maior o risco.

A Nomad não estipula um valor mínimo para aplicar nesses produtos e nem taxa de corretagem e custódia, basta o cliente ter a conta internacional.

Os investidores podem investir em ETFs de renda fixa na Avenue a partir de US$ 5.

A desvantagem desse tipo de investimento, contudo, é que os ETFs de renda fixa internacional pagam dividendos, que são tributados lá fora em 30%. A tributação é compensada com o Imposto de Renda pago no Brasil e é reportada uma vez ao ano na declaração anual.

De olho no dólar

Os investimentos em renda fixa internacional são afetados pela variação do dólar frente ao real.

Neste ano, o dólar acumula queda de 2,42% frente ao real, até 19 de janeiro.

Vale lembrar que, como a maior parte das remunerações dos títulos de renda fixa lá fora é prefixada, os preços dos papéis podem cair se houver uma alta grande de juros.

Com a alta de taxa básica americana e dos rendimentos dos Treasuries, os títulos corporativos (bonds) amargaram em 2022 a maior queda desde 1788 nos EUA.

Para este ano, dado que o ciclo de aperto monetário está mais próximo do fim nos EUA e o fato que já houve grande correção, os especialistas veem maior estabilidade para o mercado de bonds.

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