Inflação e juros voltam ao foco e Ibovespa cai 2%; saldo da semana é de baixa de 1,1%

Falas de membros do Fed reacendem preocupações com elevação da taxa de juros americana

Foto: Shutterstock

Depois de cinco altas consecutivas, o Ibovespa não resistiu ao peso das Bolsas estrangeiras, que caíram diante do retorno de temores sobre juros e inflação, e fechou o pregão desta sexta-feira (19) em baixa de 2,04%, aos 111.496 pontos. Foram R$ 18,35 bilhões em volume negociado.

Com a performance de hoje, o índice encerrou a semana com desvalorização de 1,12%. Desde o início de agosto, o Ibovespa soma ganhos de 8,08%, enquanto a valorização acumulada em 2022 é de 6,37%.

O desempenho do Ibovespa foi impactado por um sentimento global de aversão ao risco. Em Nova York, o S&P 500 teve baixa de 1,29%, o Dow Jones recuou 0,86% e o Nasdaq caiu 2,01%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com perdas de 1,25%.

Juros em alta

A piora no sentimento dos investidores veio depois de falas de autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) reiterando a estratégia de seguir aumentando a taxa de juros para combater a inflação.

A primeira delas foi do presidente do Fed de Saint Louis, James Bullard. Conhecido por defender medidas rigorosas contra a inflação, ele disse estar inclinado a votar por um aumento de 0,75 p.p (ponto porcentual) nos juros americanos em 21 de setembro. Também foi favorável a subir os juros rapidamente – em vez de gradualmente – e disse que a inflação nos Estados Unidos ainda não bateu no teto.

Esta avaliação é particularmente preocupante porque os investidores ficaram aliviados na semana passada quando o governo do país divulgou que os preços da economia americana ficaram estáveis em julho ante junho. A lógica foi que, se a inflação estava perdendo força, o banco central não precisaria aumentar os juros com tanta avidez.

No entanto, além de Bullard, a presidente do Fed de Kansas, Esther George, também apresentou ressalvas em relação ao indicador. Segundo ela, a leitura mais recente dos dados sobre a inflação “dificilmente é confortante” e mais altas de juros serão necessárias.

Na Europa, os temores também avançaram, após a Alemanha mostrar uma inflação nos preços ao produtor em alta de 5,4% em julho na comparação com o mês anterior. Segundo a Cantor Fitzgerald, empresa de serviços financeiros, a previsão do mercado era uma alta de 0,5%. Em relação a julho do ano anterior, a alta foi de 37,2% – também superior à projeção dos especialistas, de 31,5%.

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Os comentários estressaram a curva de juros internamente. De acordo com dados do TradeMap, os contratos futuros de juros para 2023, 2025 e 2028 avançaram 10, 12 e 8 pontos-base, respectivamente.

Diante disso, as maiores quedas do Ibovespa foram de empresas ligadas aos juros, com Locaweb (LWSA3), Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) na liderança, perdendo 7,72%, 7,63% e 7,3%, respectivamente.

Commodities no vermelho

Os temores de uma desaceleração global também causaram a queda de commodities como o petróleo e o minério de ferro, criando uma pressão adicional sobre a Bolsa brasileira.

Na Bolsa de Dalian, o minério de ferro teve baixa de 1,97%, a US$ 98,96 por tonelada, levando consigo as ações de mineradoras e siderúrgicas brasileiras. Destaque para CSN Mineração (CMIN3) e CSN (CSNA3), com perdas de 5,09% e 2,85%, nesta ordem.

O petróleo tipo Brent, por sua vez, teve leve alta de 0,13%, mas fechou a semana com perdas de 1,46%, a US$ 96,72 por barril. Apesar do leve aumento de hoje, as petroleiras brasileiras fecharam no vermelho: Petrobras (PETR4) caiu 5,06%, Petrobras (PETR3) recuou 4,08%, PRIO (PRIO3) teve baixa de 2,72% e 3R Petroleum (RRRP3) perdeu 0,85%.

A Petrobras informou ao mercado na manhã desta sexta que quer aumentar seu caixa por meio de uma emissão de títulos. A empresa emitirá três milhões de notas comerciais escriturais no valor de R$ 1 mil cada.

Além disso, a estatal está realizando uma assembleia geral de acionistas para eleger oito membros do conselho de administração. O resultado deverá ser divulgado ainda hoje, após o fechamento.

Além do atual presidente da estatal, Caio Paes de Andrade, estão confirmados na lista o secretário executivo da Casa Civil da Presidência da República, Jônathas Assunção Salvador Nery de Castro, e o procurador-geral da Fazenda Nacional, Ricardo Soriano de Alencar.

As poucas altas do pregão

No fechamento, apenas nove ações do Ibovespa operavam no positivo, sendo os maiores ganhos de Minerva (BEEF3), IRB (IRBR3) e Hypera (HYPE3), com ganhos de 2,55%, 1,85% e 1,7%, respectivamente.

Outra alta do dia foi de Fleury (FLRY3), de 0,37. Os acionistas da rede de laboratórios e da concorrente Hermes Pardini (PARD3) aprovaram a fusão entre as duas companhias, anunciada no final de junho.

Os dois grupos estimam que a combinação aumente em até R$ 190 milhões o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, amortização e depreciação) anual da companhia combinada.

Criptomoedas

O mercado de criptoativos desaba no último dia da semana, em linha com a onda de pessimismo que impactou as Bolsas ao redor do mundo.

O Bitcoin (BTC) luta para se manter acima de US$ 21 mil, enquanto analistas preveem mais pressões durante o fim de semana, período tradicionalmente marcado pela menor liquidez no mercado digital.

Por volta das 16h50, a maior cripto registrava queda de 8,3%, negociada a US$ 21.439, conforme dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

Na parcial de agosto, o BTC tem queda de 11,5%, devolvendo praticamente metade dos ganhos registrados no início do segundo semestre.

O Ethereum (ETH) também desvaloriza, mas apresenta resistência ao cair no mesmo ritmo do BTC, enquanto outras altcoins registram perdas mais intensas. Na mesma hora, o ETH tinha queda de 7,2%, a US$ 1.703.

Para André Franco, head da área de research do Mercado Bitcoin, a queda menos brusca do ETH é reflexo da expectativa do mercado com a atualização da blockchain, prevista para ser concluída no dia 15 de setembro.

“Já vimos neste ano a narrativa de o ‘the merge’ segurar por um momento a queda do Ethereum, mas dependendo do estrago que for [proveniente] do cenário macro, essa queda vai ser puxada ainda mais forte”, explica Franco.

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