Ibovespa tem dia de alívio e sobe 0,81% com menor risco fiscal; Copel (CPLE6) dispara 22%

Expectativa de uma PEC com menos gastos fora do teto animou os investidores

Foto: Shutterstock/whiteMocca

Diante de uma diminuição na percepção de risco fiscal, os investidores tiveram um dia de alívio e o Ibovespa fechou o pregão desta segunda-feira (21) em alta de 0,81%, aos 109.748 pontos. Foram R$ 21,9 bilhões em volume negociado.

“Hoje foi um dia de certo respiro para os ativos brasileiros, depois de uma sequência complicada de pregões ao longo do mês de novembro, em que fomos pautados pelo ambiente político mais incerto”, explica Matheus Spiess, analista da Empiricus, em entrevista à Agência TradeMap.

Este alívio parece ter vindo principalmente de Brasília. Enquanto o mercado segue de olho na apresentação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, prevista para a terça-feira (22), notícias de que o montante de gastos extras permitido pelo pacote poderia ficar em torno de R$ 70 bilhões, contra os quase R$ 200 bilhões previstos anteriormente, sinalizam que o impacto fiscal pode ser menor do que o esperado.

A nova expectativa vem depois de o senador Alessandro Vieira (PSDB) apresentar um texto alternativo, em que apenas os R$ 200 extra do Bolsa Família e o adicional de R$ 150 para famílias com crianças de até seis anos ficariam fora do teto de gastos, o que totalizaria R$ 70 bilhões.

Na avaliação do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, esta proposta é “muito mais sustentável” do que a anterior, apresentada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Já para Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de investimentos da Nova Futura Asset, este é um sinal importante para o mercado retomar a confiança após o bombardeio de notícias ruins da semana passada.

Estatais em disparada

O ambiente mais benigno também refletiu nas curvas de juros, com a redução de prêmios, de acordo com Spiess, favorecendo ações dos setores mais ligados à economia doméstica, como Cyrela (CYRE3), Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3), que ganharam 8,01%, 7,3% e 6,55%, respectivamente.

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O grande destaque do pregão, contudo, foram as ações de companhias detidas por governos estatais, surfando à onda da Copel (CPLE6), que anunciou que seu controlador, o estado do Paraná, pretende transformar a companhia em uma corporação, sem um controlador definido, enquanto o estado deve ver sua participação no capital social da empresa cair de 60% para 15%.

“Eu diria que acabou sendo uma grande surpresa, principalmente a agilidade com que esse plano de privatização foi comunicado pelo governo do estado”, diz Érico Sganzerla, gestor de ações da 4Um Investimentos. Segundo ele, o mercado já sabia, há alguns dias, que a empresa estava planejando alguma mudança – mas a expectativa não era que algo ocorresse tão cedo.

Para Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, o principal ponto por trás da disparada das ações no pregão é justamente a confirmação da intenção do governo do Paraná de avançar em um processo de privatização.

Enquanto a Copel (CPLE6) teve alta de 22,07%, Sabesp (SBSP3) e Cemig (CMIG4), por exemplo, pegaram carona, avançando 7,32% e 7,54%, nesta ordem.

Blue chips seguram Ibovespa

Esta alta, porém, foi limitada pelo desempenho dos pesos-pesados do Ibovespa, que têm maior participação dentro do índice, como Itaú (ITUB4) e Vale (VALE3). “Sabemos que o Brasil é muito enviesado para bancos e commodities. Quando estes setores não têm um dia tão bom, o Ibovespa acaba caindo”, explica Spiess.

O impacto sobre a Vale e outras mineradoras e siderúrgicas vem da China, que voltou a ver mortes por Covid-19 após seis meses sem registros. Diante deste quadro, algumas cidades chinesas voltaram a estabelecer restrições de mobilidade, colocando em xeque a demanda por commodities no gigante asiático.

Com isso, o minério de ferro negociado na Bolsa de Dalian teve uma baixa de 0,96%, cotado a US$ 104 por tonelada, levando consigo as ações do setor listadas na B3, com destaque para CSN Mineração (CMIN3), Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3), com recuos de 1,93%, 2,38% e 1,13%, respectivamente.

Também impactado pelo “efeito China”, o petróleo Brent teve baixa de 0,20%, para US$ 87,45 por tonelada. Assim, as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) tiveram alta de 0,3%, mas as ordinárias (PETR3) caíram 0,36%, a 3R Petroleum (RRRP3) recuou 1,39% e a Prio (PRIO3) perdeu 0,03%.

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Descolamento do exterior

Nos Estados Unidos, o S&P 500 teve baixa de 0,39%, o Dow Jones caiu 0,13% e o Nasdaq recuou 1,09%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 teve perdas de 0,4%.

Nos EUA, o foco é na ata da última reunião de juros do Federal Reserve (banco central dos EUA) na quarta-feira (23), mas a semana por lá é encurtada pelo feriado de Ações de Graças, que fecha os mercados na quinta (24) e parcialmente na sexta.

Já Europa, ao longo do fim de semana, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, afirmou que as taxas de juros da Zona do Euro podem atingir patamar restritivo, indicando que o ciclo de alta pode não estar perto do fim. Do outro lado, a inflação ao produtor da Alemanha registrou uma variação negativa de 4,2% na comparação mensal, uma surpresa positiva frente a queda esperada de 0,9%, mostrando um arrefecimento na alta de preços no país.

Por aqui, dados do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) divulgados nesta segunda mostraram nova queda nos preços, de 0,55% na comparação com outubro, quando o recuo havia sido de 0,88%. A redução foi puxada por minério de ferro, café e milho.

“Esse cenário já reflete a desaceleração da economia mundial”, diz o coordenador dos índices de inflação da FGV, André Braz. “Vários países estão subindo os juros, como os Estados Unidos. E a gente sabe que quando os juros sobem, a atividade econômica fica mais comprometida, cresce mais lentamente.”

Ainda na frente econômica, analistas do mercado financeiro ouvidos para o Boletim Focus, do Banco Central, aumentaram a expectativa para a Selic em 2023. Agora, os agentes esperam que a taxa básica de juros encerre o ano que vem em 11,5% ao ano, ante 11,25% previstos nas dez semanas anteriores.

Para a inflação, o mercado agora espera que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerre 2022 a 5,88%, ante 5,82%, e termine 2023 em 5,01%, contra 4,94% na estimativa anterior.

Os analistas também voltaram a revisar para cima as expectativas para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano. Agora, as projeções apontam para expansão de 2,80%, ante 2,77% na semana passada. Para 2023, a previsão se manteve em alta de 0,70%.

O mercado também revisou para cima as expectativas para o câmbio nos três anos cobertos pelo Focus. Ao fim deste ano, a projeção é que o dólar esteja cotado em R$ 5,25, enquanto para 2023 e 2024 as estimativas apontam para R$ 5,24 e R$ 5,20, respectivamente.

Criptomoedas

Após encerrar a semana passada em relativa estabilidade, o mercado de criptoativos voltou a cair nesta segunda-feira, com as principais moedas novamente testando as mínimas em dois anos.

Por volta das 18h30, o Bitcoin (BTC) caia 7,02%, negociado a US$ 83.311, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap. O Ethereum (ETH) recuava com mais intensidade, com perda de 10,76%, vendido a US$ 5.801.

Investidores seguem digerindo o colapso da FTX no início do mês e avaliam o risco de contaminação de outras corretoras. Na semana passada, a Genenis apresentou problemas ao bloquear o acesso dos usuários do segmento de empréstimos.

A insegurança é ainda maior diante do tamanho da FTX, que até três semanas atrás figurava entre as maiores e mais sólidas corretoras do mercado. Dados revelados no início dessa semana mostraram que a empresa deve mais de US$ 3 bilhões somente aos 50 maiores credores.

A FTX já entrou com processo de recuperação judicial nos Estados Unidos. Autoridades federais do país também abriram investigação para apurar o papel da empresa e dos seus sócios no colapso dos negócios.

No cenário local, os investidores aguardam pela votação pela Câmara dos Deputados do PL (projeto de lei) que regulamenta o mercado no Brasil. Após meses engavetado, o documento, que foi aprovado pelo Senado em abril, voltou para pauta de votação e pode ser colocado para avaliação dos Congressistas entre esta terça (22) e quinta-feira (24).

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