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Ibovespa recua no último pregão do ano, mas encerra 2022 com alta de 4,69%

Apesar do avanço em 2022, o principal índice acionário da Bolsa ficou abaixo do que o mercado projetava um ano atrás

Foto: Shutterstock/Bigc Studio

Em dia marcado pelo anúncio dos ministros que faltavam para compor o primeiro escalão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (29), no último pregão do ano, mas não impediu que a Bolsa terminasse 2022 em alta.

O principal índice acionário da B3 encerrou a sessão aos 109.735 pontos, um recuo de 0,46% no dia, porém um avanço de 4,69% em comparação ao nível do final do ano passado.

Apesar da valorização, o Ibovespa frustrou o mercado em 2022. Um ano atrás, os analistas de bancos e corretoras projetavam que a Bolsa poderia chegar pelo menos ao patamar de 116 mil pontos — a previsão do Goldman Sachs. Os mais otimistas previam 144 mil pontos, como o Banco Safra.

Embora o ano tenha sido marcado pelo arrefecimento da pandemia, que foi o principal motivo de preocupação do mercado nos dois anos anteriores, 2022 começou com uma guerra entre Ucrânia e Rússia, que mexeu com a oferta global de commodities, contribuiu para manter a inflação elevada e forçou bancos centrais ao redor do mundo a subir os juros.

No Brasil, a Selic subiu de 9,25% para 13,75% ao ano, o maior nível desde 2017. Nos Estados Unidos, as taxas de juros saltaram de uma faixa próxima aos 0% para o intervalo atual, entre 4,25% e 4,50% ao ano. Com o cenário de maior aperto monetário, a renda variável perde atratividade.

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, ressalta que esse avanço dos juros acabou prejudicou ações de empresas mais expostas à economia doméstica, como as varejistas. Com os juros mais altos, diminui a demanda por consumo e também a oferta por parte dos bancos, que querem evitar a inadimplência.

“Além disso, ações consideradas de alto crescimento, ou que deverão dar lucro no futuro, acabaram sendo punidas em 2022 também”, disse o analista.

As ações chamadas “de crescimento” são empresas que ainda precisam se provar lucrativas. Em geral são investimentos mais arriscados, uma aposta do mercado para o futuro. Portanto, se os juros sobem e tiram atratividade da renda variável como um todo, essas ações se tornam ainda mais arriscadas.

Em geral, as companhia de tecnologia costumam ser classificadas como empresas de crescimento. Não por acaso, entre as maiores baixas do Ibovespa está a ação da Méliuz (CASH3 -63,58%), que é uma empresa de tecnologia especializada em cashback, mas que também está ligada ao consumo.

Entre as principais baixas do ano, também estão a ação da Americanas (AMER3), com uma baixa de 68,75% nos 12 meses de 2022, CVC (CVCB3), com recuo de 66,54%, e Magalu (MGLU3), que perdeu 62,05%.

Não bastasse isso, a eleição presidencial também freou o avanço da Bolsa. Na ausência de uma terceira via, os investidores tiveram que se contentar com um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos vistos pelo mercado como opções populistas e que elevavam o risco fiscal do país.

Lula, que terminou como o vencedor, deu alguns sinais para o mercado de que poderia fazer um governo pragmático, mais próximo do que foi o seu primeiro governo, mas as escolhas de nomes como Fernando Haddad para a Fazenda e Aloizio Mercadante para o BNDES deixaram os investidores com o pé atrás, o que se refletiu em uma piora da Bolsa durante o período de transição de governo.

Tanto é que o Ibovespa chegou até à metade de dezembro com uma queda acumulada no ano. Embora tenha virado para o positivo nos últimos dias, ainda acumula uma retração em relação ao dia seguinte à vitória de Lula, quando estava em 116 mil pontos.

Tivemos uma mudança na presidência e com isso, uma perspectiva de alteração fiscal grande para o futuro. Acaba que essa deterioração fiscal reduz a possibilidade de queda de juros”, avalia Soares, da Órama.

Se antes o mercado acredita que os juros já haviam parado de subir e a redução seria iniciada no primeiro semestre de 2023, agora o mercado não descarta uma nova alta, o que retardaria o início da queda. No último boletim Focus, a projeção para a Selic ao fim do ano que vem subiu de de 11,75% para 12% ao ano.

Além disso, a demora na escolha de ministros parte de Lula e dúvidas com a PEC da Transição fizeram o Ibovespa perder força nos dois últimos meses do ano.

A analista-chefe do Banco Inter, Gabriela Joubert, destaca que, na metade do ano, o mercado tinha expectativas melhores com o Ibovespa, pois avaliava que uma Selic menor somada a uma inflação em desaceleração poderia ajudar o principal índice da Bolsa.

Contudo, o cenário político colocou um risco fiscal nas contas e pressionou o Ibovespa. “O final do ano trouxe um risco de descontrole das contas públicas. Se não fosse isso, o Ibovespa, que subiu em 2022, poderia ter ‘brilhado’ ainda mais, já que vimos os pares americanos caindo bem no ano”, diz Joubert.

Commodities

Se de um lado os juros serviram para derrubar ações mais sensíveis à economia interna, a alta do preço de algumas commodities em razão da guerra no Leste Europeu deu o tom de algumas altas do ano.

Entre o final do primeiro trimestre deste ano, quando a guerra na Ucrânia vivia seu “auge”, e o segundo trimestre, o preço do barril do petróleo tipo Brent, que serve como referência no mercado internacional, chegou a ser negociado próximo a US$ 140.

No ano de 2022 até novembro, o preço médio do barril do Brent ficou em US$ 100,45, segundo dados do Departamento de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês). Em 2021, o preço médio foi de US$ 71,96.

A ação da Prio (PRIO3), a antiga PetroRio, avançou 80,02% em 2022, e foi a segunda maior alta do Ibovespa no ano. Além dela, dentro do setor, a ação preferencial da Petrobras (PETR4) saltou 46,06% no ano.

Cielo: a maior alta do Ibovespa

A ação da Cielo (CIEL3) foi a que mais se valorizou dentre os componentes do Ibovespa em 2022. Do primeiro pregão do ano até o último, a ação da companhia de maquininhas saltou 140,2%, e viu o valor do seu papel passar de R$ 2,17 para os R$ 5,24.

A companhia, mesmo em um cenário de juros altos, reprecificou seus serviços e se afastou da concorrência em 2022. O movimento de alta no ano também é uma recuperação das perdas recentes.

Mesmo com o avanço de mais de 100% neste ano, nos últimos anos as ações da companhia recuaram cerca de 80%. Em 2015, por exemplo, atingiu sua máxima histórica em julho, quando suas ações eram cotadas a cerca de R$ 22.

IRB: a maior baixa do Ibovespa

Com uma baixa de 78,61% nas suas ações em 2022, o ressegurador IRB Brasil (IRBR3) foi a ação que mais recuou no ano dentro do índice.

Na visão do analista CNPI da Agência TradeMap Jader Lazarini, o famoso ressegurador do mercado teve mais um ano de forte baixa impulsionado pela “volatilidade em seus resultados e instabilidade na governança”.

Em novembro, o então CEO da companhia, Raphael de Carvalho, renunciou ao cargo após cinco trimestres na direção da empresa, dos quais quatro com prejuízo. A companhia tem passado por run-offs das operações não essenciais, mas, mesmo assim, os contratos antigos têm machucado o balanço.

No terceiro trimestre, a empresa teve um prejuízo de R$ 298,7 milhões, 91,8% acima do registrado no mesmo período de 2021.

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Os prejuízos, inclusive, levaram a empresa a chamar capital em agosto deste ano, com 50% de desconto sobre o preço das ações. A companhia precisou se adequar à suficiência do Patrimônio Líquido Ajustado, determinada pela Susep, e emitiu as ações com maior destruição de valor.

Desde a máxima histórica, atingida há quase dois anos, as ações do IRB caem 97%.

O último pregão do ano

O último pregão do ano foi marcado pelo anúncio de Lula dos nomes que faltavam para o primeiro escalão. O petista confirmou nomes que já eram conhecidos, como o presidente do PDT, Carlos Lupi, na Previdência, Marina Silva (Rede) no Meio Ambiente e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) no Planejamento.

Uma das novidades mais importantes foi o anúncio de uma parlamentar evangélica para assumir o Ministério do Turismo, a deputada federal Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ). A deputada entrou na cota de indicações do União Brasil, mas é também um esforço de Lula para se aproximar dos evangélicos, que apoiaram o presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição.

Lula disse que os nomes que vão comandar as estatais ainda serão anunciados, mas adiantou que vai indicar mulheres para chefiar o Banco do Brasil (BBAS3) e a Caixa Econômica Federal.

Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, o anúncio de novos ministros do primeiro escalão do governo não animou muito os mercados.

Ele avalia que a fala de Alexandre Silveira, o novo ministro de Minas e Energia, que declarou que revisará a política de paridade internacional dos preços dos combustíveis, ajudou o Ibovespa a virar para queda ao longo do dia.

A Petrobras (PETR4), com isso, caiu 1,21% no pregão e contribuiu para pressionar o índice.

“O Ibovespa fechou o dia com uma leve queda, apesar de ter aberto em alta, em razão da pouca liquidez dos mercados por conta das festas de fim de ano”, comenta Alves, da Ação Brasil. Nesta quinta, foram R$ 19,56 bilhões em volume negociado.

Dentre as ações, o papel da Positivo (POSI3) liderou os ganhos com uma alta de 6,83%. Na quarta, a B3 informou que a ação da empresa não fará parte do Ibovespa no começo de 2023.

O restante das principais altas foi formado por BRF (BRFS3), que avançou 6,70%, Marfrig (MRFG3), que subiu 24,19% e São Martinho (SMTO3), que apontou em 2,32% para cima. A BRF informou ao mercado mais cedo que fechou um acordo de leniência de R$ 584 milhões com a AGU (Advocacia-Geral da União) e a CGU (Controladoria-Geral da União).

O acordo decorre de um processo de investigação interna promovido pela BRF, a partir de 2018, a fim de identificar condutas praticadas no passado por funcionários da empresa. 

Na visão de Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, analistas da XP, o acordo encerra “o pior capítulo da história da BRF”. Em relatório publicado nesta manhã, eles afirmam que a alavancagem é o ponto mais crítico da empresa atualmente, e destacam que o valor não terá impacto no fluxo de caixa, pois antecipa a utilização de benefícios fiscais “que levariam mais tempo para serem utilizados”.

Ainda dentre as altas, a ação da MRV (MRVE3) ganhou 1,33% após anunciar nesta manhã que Resia, subsidiária da empresa nos Estados Unidos, vendeu um projeto na Flórida por US$ 113 milhões, com uma margem bruta de 24%.

Na avaliação da Genial Investimentos, a notícia da venda é positiva, e demonstra “que o mercado ainda aceita o produto da Resia”. Apesar disso, destaca que a margem é menor do que a média de 34% que foi apresentada em outras vendas da subsidiária.

Entendemos que a margem mais baixa deve levantar discussões sobre o retorno (TIR) dos projetos, uma vez que não há um consenso muito claro sobre a duração da taxa de juros elevada nos EUA”, acrescenta a corretora.

Na ponta negativa do índice, a ação do IRB (IRBR3) caiu 8,51% e liderou as perdas. Assim como a ação da Positivo, o papel da resseguradora também deixará de fazer parte do Ibovespa no início do ano que vem.

Em Wall Street, o movimento desta quinta foi positivo. Dentre os índices, Dow Jones ganhou 1,04%, o S&P 500 avançou 1,75% e o índice Nasdaq se valorizou 2,62%. Na Europa, o Euro Stoxx 50, que reúne empresas de todo o continente, encerrou o pregão em alta de 0,68%.

No ano, Dow Jones encerrou com 9,20%% de queda, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq recuaram 19,75% e 33,82%, respectivamente de janeiro até dia 29 de dezembro.

E para 2023?

Para o ano que vem, o cenário de juros altos no Brasil e no mundo deve continuar a pressionar as bolsas. Joubert, do Inter, vê o ano de 2023 como “desafiador” ao considerar que esse aperto monetário ocorre numa velocidade mais acelerada do que nas últimas crises.

“Notamos um movimento agressivo de aumento nos juros que causa um choque nos mercados, que já precificam uma recessão na Europa e uma grande possibilidade de recessão nos EUA”, avalia.

Apesar disso, vê o Brasil mais bem posicionado que seus pares internacionais no ano que vem, e prevê que o Ibovespa encerre 2023 aos 118 mil pontos, o que traria uma valorização de 7,53% em relação ao fechamento de 2022.

Ela avalia que o PIB (produto interno bruto) brasileiro deve ficar estável no ano que vem, e se o novo governo se mostrar mais preocupado com o controle de gastos, existe espaço para o BC começar a cortar a taxa de juros.

Soares, da Órama, projeta o Ibovespa fechando 2023 aos 132 mil pontos, pois acredita que o mercado já precificou as notícias negativas do lado fiscal nas últimas semanas, e acredita que o governo possa dar um sinal de responsabilidade nos gastos.

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