Após um início de ano para esquecer, com três tropeços seguidos, o Ibovespa fechou seu segundo pregão consecutivo de alta no ano nesta sexta-feira, dia 7, com avanço de 1,14%, aos 102.719 pontos, e R$ 20,82 bilhões em volume negociado. Não foi o suficiente, porém, para impedir que a primeira semana do ano terminasse com queda de 2,01%.
As grandes responsáveis por sustentar a alta do índice desde quinta-feira têm sido as ações de empresas ligadas a commodities.
No fechamento, Petrobras (PETR4) tinha alta de 0,82%, surfando na alta do barril de petróleo no mercado internacional, sustentada por crises que ameaçam a oferta no Cazaquistão e na Líbia.
A reafirmação da venda de 100% da participação da estatal na Braskem (BRKM5) também deu apoio à alta, na visão de Alexsandro Nishimura, head de conteúdo e sócio da BRA.
A Vale (VALE3), por sua vez, subiu 5,82%, seguindo a escalada do minério de ferro na China, que teve alta pelo sétimo dia consecutivo.
O dado mais importante do dia, porém, veio dos Estados Unidos, onde o mercado de trabalho criou 199 mil vagas de emprego em dezembro, bem abaixo dos 400 mil postos esperados por analistas. A taxa de desemprego, por sua vez, ficou em 3,9%, abaixo dos 4,1% esperados. O salário médio por hora subiu 0,61% em relação a novembro.
O cenário pior do que o previsto pelo mercado pesa contra a possibilidade de uma alta antecipada de juros nos Estados Unidos, mas a avaliação do mercado é que o tom da ata do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) desta semana foi tão hawkish (ou seja, mais inclinado ao aperto monetário) que dificilmente haverá alguma mudança de rumo.
“Vale destacar que a taxa de desemprego ter vindo melhor que a esperada é um vetor bastante forte para a elevação da taxa da Fed Funds Rate ainda em março, com o mercado já precificando em mais de 80% de chance. Apesar disso, ainda projetamos que a primeira elevação deverá ocorrer apenas em maio”, comentou o analista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Wall Street reagiu aos dados de forma negativa, com o Nasdaq caindo 0,96%, seguido do S&P 500, com baixa de 0,38%, e do Dow Jones, que teve recuo de 0,01%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 registrou queda de 0,44%.
No noticiário local, destaque para o veto do presidente Jair Bolsonaro ao Refis para empresas cadastradas nos regimes fiscais do MEI (Microempreendedor Individual) e do Simples, com a justificativa de não haver como compensar a perda de arrecadação. O Congresso, no entanto, já está em articulação para derrubar o veto do presidente.
Ainda no cenário fiscal, a mobilização de funcionários do governo federal por pedidos de reajuste salarial segue no radar. Nesta sexta-feira, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) declarou, em carta, que a “operação padrão” adotada por auditores fiscais da Receita Federal como forma de protesto já atrasa em mais de 10 dias a importação do produto, o que pode levar a aumento de preços e a risco de desabastecimentos.
Nesta tarde, ainda, superintendentes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) encaminharam uma carta ao presidente da autarquia, Marcelo Barbosa, e ao ministro da Economia, Paulo Guedes, pedindo reajuste salarial e demonstrando indignação com os reajustes para apenas algumas categorias de funcionários públicos.
Na cena eleitoral, Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal e defensor da CPMF, irá ajudar Sergio Moro no plano econômico, e o mercado segue atento às possíveis prioridades de um eventual governo petista, que já acena para a reversão da reforma trabalhista e do programa de privatizações e uma reavaliação do teto de gastos.
Destaques do pregão
No fechamento, as maiores altas do Ibovespa eram de Banco Inter (BIDI11), 3R Petroleum (RRRP3) e Vale, as duas primeiras com ganhos de 15,46% e 6,89%, nesta ordem. As principais baixas, por outro lado, eram de Americanas (AMER3), Lojas Americanas (LAME4) e Eletrobras (ELET3), com recuos de 5,45%, 5,33% e 4,38%.
O grande destaque do pregão foram as ações do Banco Inter (BIDI11), que subiram no dia em que a equipe de analistas do UBS BB Investment Bank revisou a recomendação para os papéis de neutra para compra, apesar de ter diminuído o preço-alvo de R$ 81 para R$ 46.
O corte no preço-alvo reflete projeções mais altas para o custo do patrimônio líquido e estimativas menores para o lucro entre 2021 e 2023. Ainda assim, na visão do banco, as ações têm espaço para crescer após as quedas recentes, o que justifica a recomendação.
A PetroRio (PRIO3) fechou entre as maiores altas do Ibovespa, com avanço de 4,54%, surfando na onda da alta do petróleo, mas também depois de ter divulgado uma produção diária de 34,2 mil barris por dia em dezembro, alta mensal de 9,4%, e a entrega de 3,8 milhões de barris ao longo do quarto trimestre.
Os dados, na análise da Genial Investimentos, mostram “a competência da empresa no redesenvolvimento dos seus campos e na rampagem de produção dos mesmos”. Na visão do BTG Pactual, que recomenda compra para a ação, a produção de dezembro “traz sinais adicionais de normalização operacional após um ano de solavancos nos seus campos”.
A grande notícia corporativa do dia foi a compra do Banco Modal (MODL1) pela XP Inc (XPBR31), em transação que envolve 19,5 milhões de novas ações classe A ou BDRs (Brazilian Depositary Receipts) da corretora – o que representa um prêmio de 35% sobre o preço médio dos últimos 30 dias do Modal.
“Dada a sobreposição imaterial entre clientes da XP e do Banco Modal, esperamos que sinergias de receitas e melhorias na experiência do cliente sejam capturadas. Além disso, com maior escala e poder de precificação, esperamos continuar beneficiando nossos clientes através da redução de preços”, comenta, em nota, Bruno Constantino, diretor-vice-presidente financeiro (CFO) da corretora.
O mercado entendeu a transação como um bom negócio, fechado a preços atrativos. As ações do Modal fecharam em alta de 44,91%, enquanto os BDRs da XP tiveram avanço de 1,46%.