O Ibovespa recua mais de 1% no último pregão da semana, com pressão das chamadas blue chips, as ações de maior peso no índice. Por volta de 13h30 a Vale (VALE3) recuava 2,63%, a Petrobras (PETR4) perdia 2,29% e o Itaú (ITUB4) Unibanco apontava em 2,12% para baixo.
Esse movimento da Bolsa brasileira, vai em linha com parte dos mercados americanos, que operam em queda após divulgação de balanços e dados da inflação dos Estados Unidos.
No horário acima, o principal índice da B3 caía 1,64% e operava aos 112.308 pontos. Na ponta negativa, os papéis que mais recuavam eram Alpargatas (ALPA4), São Martinho (SMTO3) e Cielo (CIEL3), com baixas de 3,40%, 3,59% e 3,39%, respectivamente.
A empresa de maquininhas de cartão abriu a temporada de balanços do quarto trimestre de 2022. Na noite de quinta (26), a Cielo apresentou um crescimento de 63% no lucro líquido, quando comparado ao mesmo período em 2021, mas registrou uma queda de 12,45% na base ativa de clientes.
O número de clientes ativos era algo que o mercado enxergava com bons olhos na empresa, já que a Cielo conseguiu driblar o cenário de juros altos mantendo sua base.
Em entrevista à Agência TradeMap em dezembro do ano passado, o analista do BB-BI, Luan Calimério, destacou que a performance positiva do papel da companhia em 2022 foi reflexo de um operacional positivo, ancorado exatamente na manutenção da base de clientes, que recuou no quarto trimestre.
Em relatório publicado nesta sexta-feira (27), Calimério ressaltou que outro ponto negativo foi a redução da representatividade dos produtos de prazo em relação aos volumes transacionados. A Genial Investimentos, por sua vez, destacou em relatório uma preocupação com a desaceleração de volumes no trimestre, para um “crescimento de apenas 11%”, diante dos demais períodos do ano, cuja faixa de alta foi de 20% a 35%.
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Dentre as blue chips, a Petrobras confirmou ontem o nome de Jean Prates como novo presidente da companhia. Em vídeo distribuído aos funcionários da empresa ao qual à Agência TradeMap teve acesso, o ex-senador afirma que a estatal pode acelerar sua agenda de sustentabilidade para promover uma “transição energética justa”.
Para o executivo, é fundamental que a Petrobras aplique sua experiência no desenvolvimento de novas fontes de energia, sejam elas bioprodutos ou outras fronteiras de energia renovável.
Já os bancos, que além do Itaú, também recuavam em bloco, ainda seguem repercutindo a divulgação do rombo da Americanas (AMER3), já que o setor é um dos credores da companhia. Bradesco (BBDC4) perdia 2,41%, Santander (SANB11) caía 1,36% e Banco do Brasil (BBAS3) apontava em 1,48% para baixo.
Segundo Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, o mercado também repercute o risco fiscal e as movimentações políticas vindas de Brasília.
Os governadores de todos estados do Brasil irão se reunir nesta sexta com o presidente Lula para tratar da arrecadação das federações, que foram impactadas com a isenção de ICMS feita no ano passado.
“Somado a isso, Lula disse que o BNDES poderia ajudar a financiar obras nos estados, mas sempre que há essa sinalização (de aumento de gastos) sem dizer de onde vem a contraparte, vemos um risco de impacto fiscal. A Bolsa reage mal com as notícias, com a curva de juros e o dólar subindo”, diz Cima.
Segundo dados da plataforma do TradeMap, o dólar futuro era cotado a R$ 5,09, com avanço de ,33%. Já os contratos futuros de juros para 2024 e 2026 avançavam para 13,36% e 12,76%.
Altas do pregão
Na ponta positiva, a ação do Magazine Luiza (MGLU3) dava sequência ao seu movimento de alta visto desde o começo da crise na Americanas e avançava 3,79%.
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Depois dela, Rede D’Or (RDOR3) subia 1,45%, Petz (PETZ3) ganhava 2,66% e Taesa (TAEE11) tinha valorização de 1,44%.
A SLC Agrícola (SLCE3) também avançava e subia 0,80%. O papel, que chegou a liderar as altas do índice mais cedo, sobe impulsionado pela expectativa de manutenção da reabertura da economia da China, o maior destino das exportações brasileiras.
O ânimo do mercado com as ações da SLC Agrícola reflete o otimismo da abertura dos portos chineses para os cerais brasileiros, disse a Genial Investimento, em relatório. Os analistas também destacaram o potencial de atratividade para a BrasilAgro (AGRO3), que não é listada no principal índice da Bolsa brasileira.
Segundo a corretora, apenas em dezembro do ano passado, o país asiático recebeu 1,2 milhão de toneladas. Em paralelo, os Estados Unidos, os maiores fornecedores de milho para a China, devem reduzir em 70% o envio de grãos para a China em 2023.
“A China deve recorrer ao Brasil para suprir uma quantidade substancial de sua demanda, beneficiando empresas produtoras de milho como SLC e BrasilAgro”, informou a corretora.
Além disso, segundo informações do site Infomoney, o Itaú BBA incluiu a ação da SLC em sua carteira de ações para o Brasil.
Bolsas internacionais
No exterior, os principais mercados globais operam em queda, com os investidores digerindo balanços de empresas americanas e dados de inflação no país.
A inflação nos EUA, medida pelo PCE, subiu 0,1% em dezembro, percentual igual ao do mês anterior. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação norte-americana avançou 5%, menor que os 5,5% prévios.
Já o núcleo do índice subiu 0,3% em dezembro na comparação com novembro e 4,4% na comparação com dezembro de 2021.
Na avaliação de Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, os dados do PCE deixam claro que o principal foco do Fed (o banco central americano) agora é a inflação de serviços.
“O Fed deve seguir com mais ajustes na taxa de juros no primeiro trimestre deste ano. Acreditamos que a taxa terminal de juros deve alcançar o pico em 2023, ficando no intervalo entre 5% e 5,25%, com cortes apenas em 2024”, afirma o economista.
A temporada de resultados também seguirá no país com a divulgação dos relatórios da American Express e da petrolífera Chevron.
Veja como estavam os principais índices globais nesta tarde: