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Ibovespa cai acompanhando exterior e Embraer (EMBR3) se destaca entre ações que mais perdem

Volatilidade causada pela guerra na Ucrânia prejudica diversos setores da B3. Na ponta positiva, ações ligadas à commodities sobem

Foto: Shutterstock

A volatilidade causada pela guerra na Ucrânia voltou a assombrar mercados pelo mundo nesta quinta-feira (10), e derruba o Ibovespa. Após fechar o pregão de quarta-feira subindo 2,43% o principal índice da B3 caía 0,93% por volta das 13h40, e operava aos 112.837 pontos.

Quem lidera as quedas dentre os componentes do Ibovespa é a Embraer (EMBR3), que recuava 13,84%. Para o sócio e assessor da SVN Investimentos Thomaz Paschoal, a empresa de comercialização de aeronaves sofre com as incertezas da guerra no Leste Europeu, que acabam pressionando o preço do petróleo e aumentando os custos do setor aéreo.

A empresa reportou ontem à noite um lucro líquido de R$ 11,1 milhões no quarto trimestre do ano passado, depois de registrar prejuízo de R$ 7,7 milhões em igual período de 2020, mas previu crescimento mais tímido em 2022.

Em teleconferência para apresentar os resultados, a Embraer sinalizou que a possível inflação causada por desdobramentos da guerra da Ucrânia podem prejudicar a companhia, uma vez que os preços das commodities estão subindo por expectativas de redução no fornecimento russo.

“Os preços já estão com repasse da inflação, e por enquanto não estamos perdendo margem com isso. No futuro, vai depender da questão do conflito e do preço de algumas commodities que impactam a produção do alumínio, que estão subindo cerca de 150%”, disse Antonio Carlos Garcia, vice-presidente executivo da Embraer.

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Thomaz Paschoal acredita que o resultado do trimestre foi positivo, e a queda no dia se deve ao cenário macroeconômico de alta no preço do petróleo.

“O recuo vêm num movimento setorial, pois vemos Gol (GOLL4) e Azul (AZULL4) também caindo com a alta da commodity, que sobe com as preocupações com a guerra”, afirma o assessor de investimentos. A primeira caía 5,36% e a segunda recuava 4,36%.

Depois da Embraer, quem mais cai no dia é a Natura (NTCO3), recuando 10,72%. A empresa também divulgou resultado e apresentou um lucro quase quatro vezes maior no quarto trimestre de 2021 em relação a um ano antes, de R$ 695,4 milhões, refletindo a melhora nos resultados operacionais de quase todas as áreas.

Contudo, a companhia indicou no comunicado que seus resultados do primeiro trimestre de 2022 podem ser afetados pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, visto que cerca de 3% do Ebitda em 2021 veio dos dois países.

Paschoal, da SVN Investimentos, diz ser comum haver volatilidade nos preços de ações de empresas que divulgam resultados, e que as quedas de Natura e Embraer no dia também refletem esta tendência.

Dentre as outras quedas de maior expressão podemos observar empresas expostas à economia doméstica, que sofrem com uma perspectiva de alta na inflação com a guerra na Ucrânia.

“Temos visto uma ‘gangorra’ na Bolsa desde o início da guerra. Nesta semana isso se acentuou, com empresas apresentando altas e baixas sucessivas, com a volatilidade seguindo firme”, comenta Paschoal.

Petrobras reajusta combustíveis e mexe com setor

As principais altas do dia estão concentradas no setor de commodities. Petrobras (PETR4) puxava a fila, com avanço de 3,15%. A empresa elevou o preço dos combustíveis após quase 60 dias. O valor do litro da gasolina vai subir 18,8%, para R$ 3,86, enquanto o do diesel passará a R$ 4,51 – aumento de 24,9%.

Segundo a companhia, o reajuste veio por causa da disparada do petróleo. O preço da commodity está acima de US$ 110 por barril há mais de uma semana, bem acima dos US$ 86 observados da última vez em que a Petrobras reajustou os preços. Segundo a estatal, o aumento foi necessário para “que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento”.

Para Heloise Sanchez, analista da Terra Investimentos, o ajuste acende um sinal de alerta para a inflação do mês de março. Na visão dela, os principais responsáveis pela alta da inflação, recentemente, vêm sendo o aumento dos combustíveis e gastos com energia elétrica por conta da crise hídrica. 

Já Gustavo Cruz, economista da RB Investimentos, espera um impacto de 0,5 ponto percentual no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de março, e de magnitude menor em abril. “Você tem um impacto indireto no preço de muitos outros itens do IPCA pois tudo que é consumido no Brasil é transportado via modais que utilizam combustível”, comenta.

Ele ainda acrescenta que o Brasil possui uma característica inflacionária de inércia, ou seja, o país repassa os preços, mas posteriormente, mesmo que haja uma amenização e uma possibilidade de retomar os preços anteriores, eles não voltam, o que é “prejudicial para a economia” na avaliação de Cruz.

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As outras altas também eram de setores ligados a commodities. Suzano (SUZB3), empresa do ramo de papel e celulose, valorizava 2,23%. Na sequência vinham Dexco (DXCO3), subindo 2,70%, e Braskem (BRKM3), companhia petroquímica, que crescia 2,55%.

Inflação nos EUA movimenta bolsas externas

O dia é marcado por recuos em todas as principais bolsas da Europa e Estados Unidos. Em Wall Street, Dow Jones caía 1,15, S&P 500 recuava 1,38% e o Nasdaq composto desvalorizava 2,12%.

No Velho Continente, o Euro Stoxx 50, que concentra empresas de toda zona do euro caía 1,76%. Já o DAX, da Alemanha recuava 2,99% e o FTSE 100, de Londres, apontava em 1,42% para baixo.

Mais cedo, os investidores acompanharam a divulgação pelo CPI (índice de preços ao consumidor) dos Estados Unidos dos números de inflação no país em fevereiro, que registrou uma alta de 0,8% no período. O resultado veio em linha com o esperado pelos analistas ouvidos pela Reuters, e indicou uma aceleração no ritmo em relação a janeiro, quando o indicador subiu 0,6%.

Ao longo dos últimos 12 meses, a inflação americana já subiu 7,9%. Para Andrey Nousi, fundador da Nousi Finance, o número deve crescer também em março, à medida que o barril do petróleo tem apresentado altas recentes.

Ele afirma que o resultado era esperado pois o preço da gasolina já havia disparado mesmo antes da guerra. “Temos a maior inflação dos últimos 40 anos nos EUA, e uma probabilidade ainda de aumento de 0,25% nos juros na semana que vem pelo Fed (Federal Reserve, o banco central do país)”, comenta Nousi.

Além disso, a calmaria nos mercados na quinta com a fala do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que disse que o país pode desistir de uma possível adesão à aliança militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ficou no passado.

Nesta quinta, a reunião entre ministros da Rússia e Ucrânia terminou sem um acordo para cessar-fogo, e frustrou expectativas de quem esperava um indício de fim do conflito.

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