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Ibovespa afunda e devolve ganhos do ano com ruídos políticos e temor de alta dos juros americanos no radar

Novas críticas de Lula ao Banco Central foram gatilho para disparada generalizada dos juros

Foto: Shutterstock/Bigc Studio

O Ibovespa engatou a terceira queda seguida nessa sexta-feira (3) e passou a acumular desvalorização em 2023, pressionado por ruídos políticos domésticos e o temor global de aumento dos juros americanos.

A queda só não foi mais brusca devido à recuperação do setor de commodities, que tem forte influência na Bolsa, revertendo o movimento de retração observado na véspera.

O Ibovespa encerrou a sessão com queda de 1,47%, aos 108.523 pontos e R$ 19,26 bilhões em volume de negócio, segundo dados da plataforma TradeMap.

O desempenho faz o principal indicador do mercado brasileiro encerrar a semana com recuo de 3,37% e devolver os ganhos do ano, com valorização de 1,10%.

Juros disparam após novas críticas de Lula ao BC

Os juros dispararam nesta sexta-feira em reação às novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central (BC), e novos sinais de que o governo federal pretende intervir na política monetária.

O estresse foi sentido em toda a abertura da curva de juros, em especial nos prazos mais longos. Os contratos para 2024 encerraram com alta de 14 pontos-base, a 13,74%, enquanto as opções para 2026 subiram a 13,12 (+25 pontos-base), e de 2029 fecharam a 13,33% (+26 pontos-base).

Na quinta (2), o presidente Lula voltou a questionar, durante entrevista à RedeTV, a autonomia do Banco Central. Dessa vez, o presidente disse que pode buscar revisão da autonomia assim que terminar o mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto. Ele permanecerá no cargo até dezembro do ano que vem.

Além do depoimento, Lula fez duras críticas ao atual patamar da Selic, que ficou mantido em 13,75% ao ano na decisão desta semana, e prometeu cobrar a instituição por explicações.

Por último, o presidente vê exagero na meta de inflação por considerá-la “padrão europeu”, e completou dizendo que o Brasil deve correr atrás de uma inflação padrão Brasil, entre 4,5% e 4%.

O movimento teve impacto direto nas empresas mais sensíveis à economia doméstica e aos juros. A queda foi puxada pela Yduqs (YDUQ3), com recuo de 12,79%. Na sequência aparecem Hapvida (HAPV3), Locaweb (LWSA3) e Azul (AZUL4), com perdas de 9,39%, 9,11% e 8,20%, nesta ordem.

Commodities recuperam e evitam queda maior

As maiores altas desta sexta ficaram com ações de empresas ligadas a commodities, que recuaram com intensidade na véspera. Na ponta positiva, Suzano (SUZB3) avançou 2,87%, enquanto Klabin (KLBN11) apontou 2,27% para cima e Raízen (RAIZ4) ganhou 1,64%.

O grupo de alta foi predominado pelas empresas expostas ao minério de ferro em um movimento de recuperação após fortes quedas na sessão da véspera.

A valorização ocorreu mesmo com a nova queda da commodity no porto de Dalian, com recuo de 0,35%, a US$ 126,55 a tonelada. 

Destaque para os papéis da Gerdau (GGBR4) e o seu braço metalúrgico (GOUA4), com altas de 1,24% e 0,81%. Já a CSN (CSNA3) subiu 0,74%.

A exceção foi a Vale (VALE3), empresa com maior peso na Bolsa, que fechou com leve perda de 0,21%.

Os papéis da Petrobras também voltaram ao campo positivo, ignorando a nova queda do petróleo no mercado global. O barril tipo Brent, usado como referência na maior parte do mundo, fechou com retração de 2,59%, a US$ 80,04, segundo dados da ICE.

Os papéis preferenciais da estatal (PETR4) tiveram alta de 1,10%, enquanto as ordinárias (PETR3) subiram 1,20%.

Payroll acima do esperado derruba Bolsas globais

Fora do Brasil, os principais índices acionários recuaram, repercutindo dados de emprego norte-americano. Os Estados Unidos criaram 517 mil vagas em janeiro, segundo dados do payroll divulgados nesta sexta-feira (3), bem acima dos 190 mil empregos esperados pelo mercado.

Em Wall Street, o Dow Jones perdeu 0,38%, enquanto o S&P 500 recuou 1,04% e a Nasdaq teve baixa de 1,59%. No outro lado do Atlântico, o Euro Stoxx teve leve alta de 0,25%.

Saiba mais:

O mercado de trabalho aquecido nos EUA é um fator de pressão inflacionária e diminui as chances de o Federal Reserve, o banco central americano, encerrar mais cedo o movimento de alta dos juros.

Nesta quarta-feira (1), o Fed elevou os juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano, e sinalizou que deve manter este ritmo de alta nos próximos meses.

A expectativa dos investidores era de que eventualmente o Fed interrompesse a alta dos juros, visto que o próprio banco central reconheceu que a inflação está começando a desacelerar.

Para Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, os dados do payroll de hoje jogam um balde de água fria nessa visão mais otimista.

“Os Estados Unidos devem subir os juros ainda mais do que já era precificado, isso puxa a Bolsa lá fora para baixo e os juros aqui no Brasil para cima”, explica.

Seguindo as bolsas globais, o mercado de cripto também ficou no vermelho. Por volta das 17h, o Bitcoin (BTC) tinha queda de 2%, acima de US$ 23,4 mil. Já o Ethereum (ETH) perdia 2,60%, ao redor de US$ 1,6 mil.

 

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