Payroll forte aumenta chance de Fed só cortar juros em 2024; entenda

A criação de mais de 500 mil empregos americanos, apontada no relatório do payroll de janeiro, foi quase três vezes maior do que o mercado esperava e sacudiu a ala do mercado que acredita que o Federal Reserve conseguirá cortar a taxa básica de juros dos Estados Unidos ainda neste ano.

Na última quarta, a entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell, foi lida como sinal de um banco central mais confiante na perda da força da inflação, e uma parte minoritária dos investidores passou a acreditar até na chance de o BC americano manter os juros estáveis em março.

Mas os dados divulgados hoje revelaram um mercado de trabalho bem mais aquecido do que o imaginado, o que fechou a porta, pelo menos por enquanto, para uma manutenção da taxa no próximo encontro de política monetária.

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“O dado mostrou mais uma vez como a economia americana é uma rocha. Você espera que ela vá desacelerar e ela te dá um tapa na cara”, comentou o analista especializado em economia internacional Lucas Zaniboni, da Garde Asset Management. “É um sinal de que o Fed terá mais trabalho para conter a inflação.”

Se antes da divulgação do payroll 63,7% dos investidores acreditavam que o Fed cortaria a taxa básica dos EUA ainda em 2023, esse percentual se reduziu a 40,6% após os dados, segundo o CME Group. A chance de alta de 0,25 ponto percentual na próxima reunião subiu de 82,7% para 94,5%.

“Outra pesquisa divulgada nesta semana corrobora o aquecimento do mercado de trabalho, mostrando que o número de vagas em aberto é de quase 2 para cada desempregado”, apontou Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank. “Em um cenário assim, com mais vagas que candidatos, desemprego baixo, as empresas competem por trabalhadores e acabam aumentando salários acima da produtividade, o que pressiona a inflação”, explicou.

Payroll mostra menor desemprego desde 1980

Os dados divulgados hoje mostraram que a taxa de desemprego dos EUA está em 3,4%, menor nível desde 1980, como apontou a economista. Além disso, o ganho por hora de trabalho avançou 0,3%, fazendo a renda dos americanos subir 4,4% em 12 meses.

“Não foi um setor ou outro que gerou vagas, houve ganhos disseminados de emprego na economia americana, com a taxa de desemprego voltando a mínimas históricas”, apontou Zaniboni, da Garde. “A possibilidade de o Fed não subir juros em março foi fechada. O debate agora é quantas altas mais acontecerão.”

A despeito do aquecimento do mercado de trabalho, o ciclo de aumento de juros está se aproximando do final, na avaliação de Rodrigues.

“Na nossa visão, o Fed deve elevar os juros nas próximas duas reuniões, em 0,25 ponto percentual em cada uma, levando a taxa para pouco acima de 5%”, avaliou a economista do C6 Bank. “Esse nível de juros nos parece suficiente para esfriar o mercado de trabalho lentamente à frente e com isso retornar a inflação à meta.”