Em dia marcado pela decisão de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), o Ibovespa fechou o pregão desta quarta-feira (27) em alta, acompanhando as Bolsas do exterior.
O principal índice da Bolsa brasileira encerrou a sessão com avanço de 1,67%, aos 101.437 pontos, com R$ 15,03 bilhões em volume negociado. Com isso, a alta acumulada desde o início de julho passou para 2,94%, enquanto o balanço do Ibovespa em 2022 segue em baixa de 3,23%.
O dia também foi positivo para as Bolsas estrangeiras. Em Nova York, o S&P 500 teve alta de 2,62%, o Dow Jones subiu 1,37% e o Nasdaq avançou 4,06%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com ganhos de 0,91%.
Nada de novo vindo do Fed
De olho no combate à maior inflação em quatro décadas, o Fed decidiu nesta quarta-feira voltar a elevar os juros americanos em 0,75 ponto percentual, ao intervalo entre 2,25% e 2,50% ao ano.
A decisão era esperada pelo mercado, que chegou a precificar um aumento ainda maior na taxa, de 1 ponto percentual, mas reduziu as projeções após dados sinalizarem que o aperto monetário já vem reduzindo a atividade na maior economia do mundo.
O Fed está aumentando rapidamente os juros dos EUA desde o início deste ano, para tentar controlar uma alta de preços que, nos 12 meses encerrados em junho, atingiu 9,1% – a maior leitura desde novembro de 1981.
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Os balanços corporativos também impactaram os mercados americanos. Duas das maiores empresas do setor de tecnologia do país – a Microsoft e a Alphabet, dona do Google – apresentaram resultados que ficaram abaixo das expectativas dos especialistas. Mesmo assim, as ações de ambas subiram.
Petrobras em foco
Por aqui, a Petrobras chamou a atenção do mercado, ao anunciar que os resultados econômicos continuarão sendo a prioridade na execução de sua política de preços. O comunicado seguiu uma decisão do conselho de administração da companhia em reunião nesta quarta, quando foi aprovada uma diretriz de formação de preços no mercado interno.
“A diretoria executiva deverá preservar e priorizar o resultado econômico da companhia, buscando maximizar sua geração de valor”, diz o comunicado, que acrescenta que a diretoria deverá praticar preços competitivos que reflitam o valor dos produtos no mercado.
Além disso, a diretriz determina uma maior supervisão da execução das políticas de preço pelos conselhos de administração e fiscal, por meio de reportes trimestrais da diretoria executiva sobre o tema.
O comunicado da estatal, porém, não deixa claro qual será o papel dos conselhos a partir deste reporte trimestral, uma vez que as decisões como a periodicidade e o percentual dos reajustes de preço continuam sendo de responsabilidade da diretoria executiva.
Na visão de analistas da Genial Investimentos, essa notícia é negativa para a petrolífera. “Tal escolha pode aumentar a influência política do governo na política de preços da empresa via escolhas pontuais no conselho de administração”, afirmaram, em comentários ao mercado.
Seguindo o avanço do petróleo, no entanto, as ações ordinárias da companhia (PETR3) subiram 0,65% e as preferenciais (PETR4), 1,1%.
O petróleo Brent fechou em alta de 2,22%, a US$ 101,67 por barril, após o API (American Petroleum Institute) apontar uma queda de 4 milhões de barris nos estoques americanos da commodity na última semana e a Rússia anunciar novos cortes no fornecimento de gás à Europa.
Balanços mexem com o pregão
As maiores altas e baixas do dia foram, em grande parte, determinadas por balanços divulgados entre ontem e hoje. Entre os papéis do Ibovespa, os maiores avanços do pregão foram de Gol (GOLL4), Pão de Açúcar (PCAR3) e Carrefour (CRFB3), com ganhos de 10,93%, 8,37% e 7,28%, respectivamente.
O Carrefour subiu após divulgar seu resultado na noite de terça-feira (26), mostrando um crescimento no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) recorde de R$ 1,7 bilhão, 24,5% acima do registrado no mesmo período de 2021. O resultado, de acordo com a empresa, foi causado pelo aumento nas vendas de alimentos.
Em termos de lucro líquido, a companhia encerrou o trimestre com R$ 600 milhões, valor 1,3% superior ao acumulado nos mesmos três meses de 2021. Apesar disso, a margem bruta recuou 1,4 p.p, para 19%.
Para Sérgio Castro, analista CNPI da Agência TradeMap, mesmo com as margens menores, o Carrefour conseguiu aumentar o volume de vendas, “carregado principalmente pela divisão de “atacarejo”, com o Atacadão”.
Leonardo Piovesan, analista da Quantzed, destaca que a alta de Carrefour acaba “puxando” outras empresas do mesmo setor para o campo positivo nesta quarta, como o Pão de Açúcar.
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Também reagindo ao balanço, a Klabin (KLBN11) fechou em alta de 5,47%. A empresa apresentou receita líquida de R$ 5 bilhões no segundo trimestre, crescimento de 24% em relação a igual período do ano passado. O resultado foi impulsionado principalmente pelo aumento dos preços para a divisão de papel e celulose.
As ações da Telefônica Brasil (VIVT3), dona da Vivo, lideram as perdas do pregão com uma queda de 3,21% após a divulgação do balanço financeiro e operacional do segundo trimestre.
A companhia registrou um lucro líquido 44,6% menor na comparação com o mesmo trimestre de 2021, atingindo R$ 746 milhões. Os custos recorrentes da empresa contribuíram para a queda, tendo subido 12,9% no segundo trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, uma taxa superior à do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) recorrente, que teve crescimento de 8,3%, para R$ 4,57 bilhões.
De acordo com relatório escrito por Bernardo Guttman e Marco Nardini, analistas da XP Investimentos, a empresa apresentou resultados em linha com o esperado. O ponto negativo, para eles, foi a margem Ebitda, que atingiu 38,7% e veio abaixo do esperado.
Seguindo a Telefônica, a TIM Brasil (TIMS3) teve a segunda maior queda da sessão, de 1,59%, e Santander (SANB11) ocupou o terceiro lugar, com recuo de 0,47%.
Entre os balanços, destaque para os resultados de Assaí (ASAI3), Energias do Brasil (ENBR3), Pão de Açúcar (PCAR3) e Suzano (SUZB3), que serão divulgados após o fechamento do mercado.
Criptomoedas
Contrariando as expectativas mais pessimistas, as principais criptomoedas dispararam após a confirmação de alta de 0,75 ponto percentual nos juros americanos.
Por volta de 16h50, o Bitcoin (BTC) registrava avanço de 6,3%, a US$ 22.629, enquanto o Ethereum (ETH) subia 9,5%, a US$ 1.580, segundo informações da plataforma TradeMap.
Para Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, o bom humor deve perdurar nos próximos dias, com o Bitcoin recuperando o patamar de US$ 24 mil, caso não haja nenhuma “surpresa negativa”.
O fluxo de alta foi impulsionado pela sinalização de Powell de que em algum ponto o Fed deve começar a rever o ritmo de alta, trazendo mais alívio para os temores de recessão na maior economia do mundo.
“É positivo para todo o mercado que o Fed reconheça que a inflação esteja recuando. Isso tira pressão sobre ativos de tecnologia, o que favorece o Bitcoin e todo mercado cripto”, disse Medeiros.