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Gringos aumentam aporte na Bolsa em agosto de olho em queda de juros; pessoa física e fundos sacam

Estrangeiros fizeram aporte líquido de R$ 17 bilhões na Bolsa em agosto, maior entrada de recursos desde março

Foto: Shutterstock

Os investidores estrangeiros aumentaram os investimentos na Bolsa brasileira em agosto, a cerca de um mês do primeiro turno da eleição, com entrada líquida de R$ 17 bilhões no mês passado até o dia 30 de agosto, maior aporte desde março.

Já os investidores pessoas físicas e institucionais colocaram o pé no freio e registraram saída líquida de R$ 2,7 bilhões e R$ 15,6 bilhões no período, respectivamente.

No ano, o fluxo de investimento estrangeiro para a Bolsa é recorde e soma saldo positivo de R$ 87,8 bilhões, entre recursos direcionados para as compras de papéis no mercado secundário e para as ofertas de ações, segundo dados da B3.

gráfico saldo estrangeiro Bolsa

O aumento dos investimentos externos na Bolsa ajudou a sustentar a alta de 6,6% do Ibovespa no mês passado, a mais intensa desde janeiro. Daqui para frente, a continuidade do fluxo estrangeiro para Bolsa brasileira vai depender do cenário externo – especialmente da política monetária americana e da evolução do risco de recessão da economia global – e da definição da política fiscal no novo governo no Brasil.

A perspectiva do fim do ciclo de alta de juros no Brasil, com possibilidade de queda da Selic ano que vem, e os valuations descontados das empresas brasileiras em um cenário em que o mundo está subindo juros e as economias desenvolvidas desacelerando, contribuíram para a entrada de recursos estrangeiros na Bolsa brasileira.

Além disso, o fato de os dois principais candidatos à eleição presidencial, presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), serem velhos conhecidos dos investidores, com passagens pelo governo, também ajudou a reduzir as incertezas em relação ao resultado eleitoral. Segundo os analistas, o mercado não espera uma ruptura significativa da atual política econômica em ambos os casos.

“A gente entende que são dois candidatos conhecidos pelo mercado e o nível de incerteza é menor”, diz Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator Administração de Recursos.

Para o estrategista-chefe da Tullett Prebon, Vinicius Alves, o investidor estrangeiro não está vendo muita diferença entre os dois candidatos dado que ambos ainda não mostraram qual vai ser a nova âncora fiscal.

Brasil se destaca entre emergentes

Com alta de agosto, a Bolsa brasileira apresentou a sétima melhor performance entre os mercados de ações globais, segundo dados do site countryeconomy.

Com os mercados desenvolvidos enfrentando risco de recessão, inflação em alta e aumento das taxas de juros, os investidores têm buscado oportunidades de investimento nos mercados emergentes.

“Esse cenário tem ajudado a trazer fluxo para os mercados na América Latina”, afirma Alves.

Para a gestora americana Pimco, uma das maiores do mundo, os valuations dos mercados emergentes parecem atrativos. “À medida que as perspectivas para a inflação e a política monetária se tornarem mais claras, os mercados emergentes poderão mostrar um rali”, afirmaram Pramol Dhawan, chefe de gestão de fundos de mercados emergentes, e Lupin Rahman, chefe de dívida soberana da Pimco, em relatório divulgado em 31 de agosto.

“Se olharmos para outros emergentes, a Rússia está em guerra com a Ucrânia, a China está com problemas no mercado imobiliário, a Argentina está com dificuldade e o México é muito dependente da economia americana. Então, na América Latina, só sobra o Brasil”, diz Rodrigo Barreto, analista da Necton.

Bolsa barata atrai estrangeiros para o Brasil

Com o investidor estrangeiro procurando retornos mais atrativos, a Bolsa brasileira tem se destacado como um destino interessante, dado que os indicadores usados pelo mercado para avaliar o preço das ações sugerem que os papéis estão baratos em relação à média histórica e diante da perspectiva de queda da taxa de juros.

“A relação do preço versus o lucro das empresas na Bolsa [P/L] está em nove vezes, abaixo da média histórica de 11,2 vezes”, afirma Barreto.

Para a gestora da Fator, a expectativa de queda da taxa de juros deve contribuir para o crescimento de algumas empresas do mercado doméstico, que tinham sofrido mais com o aumento da Selic.

“Em um primeiro momento devemos ter uma melhora da performance das empresas de varejo, serviços e setor industrial e, em um segundo momento, quando vier de fato a queda de juros e a inflação estiver mais estável, poderemos ver uma recuperação das empresas do setor imobiliário”, diz Lemos.

No caso dos investidores estrangeiros, Lemos destaca que os investidores estrangeiros preferem empresas com maior liquidez e capitalização na bolsa, conhecidas como blue chips.

Apesar da correção dos preços das commodities, cuja alta no início do ano ajudou a atrair recursos para a Bolsa brasileira, o fluxo externo para o mercado de ações local continuou positivo com os estrangeiros aproveitando os preços baratos das ações que não tinham subido tanto, como de bancos.

“Os estrangeiros têm comprado ações de empresas tradicionais com grande peso no Ibovespa, como Petrobras (PETR3), Vale (VALE3) e bancos e também de companhias de consumo e varejo de qualidade como Natura (NTCO3), olhando para o médio prazo”, diz Lemos.

Olhando para frente, Lemos vê um cenário mais positivo para a Bolsa brasileira, com a inflação mostrando arrefecimento e a perspectiva de queda de juros ano que vem. “Se não tivermos uma surpresa negativa com o Fed [Federal Reserve, banco central americano], que leve a uma aposta em uma alta maior que 4%, acima do esperado pelo mercado, vemos um viés construtivo para o Brasil”, diz Lemos.

Já Alves ainda vê com cautela a continuidade do fluxo estrangeiro para o Brasil dadas as incertezas no cenário externo. “O presidente do Fed foi bastante enfático no discurso em Jackson Hole em relação à preocupação com a inflação”.

Uma alta maior que a esperada nos juros nos EUA é negativo para a Bolsa no Brasil, uma vez que os investidores tendem a migrar os investimentos para os títulos do Tesouro americano, considerados ativos mais seguros.

Para Barreto, da Necton, o investidor estrangeiro não parece que vai esperar o resultado das eleições para se posicionar por aqui. “Acho que o fluxo para a Bolsa tende a continuar, levando em conta esse cenário externo”, diz.

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