Em meio às incertezas no campo político, após Fernando Haddad (PT) negar ter recebido convite para liderar o Ministério da Economia, o Ibovespa devolveu os ganhos de ontem no pregão desta sexta-feira (25), fechando em queda de 2,55%, aos 108.977 pontos.
Com a performance de hoje, dia com R$ 16,2 bilhões em volume negociado, o índice encerrou a semana em alta de 0,1%. A desvalorização acumulada no mês de novembro aumentou, para 6,08%, enquanto o saldo de 2022 agora é de alta de 3,96%.
Na avaliação de Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, a movimentação da Bolsa reflete a “velha história” que vem ocorrendo desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da República: as incertezas em relação à política fiscal do novo governo e a quem ocupará o Ministério da Economia.
Até esta tarde, a visão predominante era que Haddad seria o novo ministro. O ex-prefeito de São Paulo chegou a participar de um almoço com banqueiros, organizado pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Horas depois, porém, o político negou, em entrevista à Globonews, ter recebido qualquer convite de Lula para ocupar o Ministério, trazendo de volta as incertezas. “Não sabemos qual será a equipe econômica, quais serão as diretrizes, se a regra fiscal e a regra de ouro serão respeitadas… O mercado prefere uma certeza ruim a uma incerteza”, afirma Calestine.
Além da negativa de Haddad, as falas do ex-prefeito durante o evento com banqueiros na Febraban também azedaram o sentimento do mercado. “Na minha visão, a impressão que ficou é que não se falou muito claramente da trajetória das contas públicas e não se deu pista concreta a respeito dos próximos passos da política fiscal, que é o que todo mundo quer saber”, explica Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital.
O mercado ainda segue à espera da apresentação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, que deve ocorrer apenas na próxima semana. Membros da equipe de transição se encontraram com Lula hoje para debater os pontos do texto, que deve permitir exceções ao teto de gastos para o custeio do Bolsa Família ampliado e a reformulação do Orçamento para viabilizar programas considerados essenciais.
Varejo lidera as quedas
Diante da alta dos juros, as ações ligadas à economia doméstica lideraram as quedas do Ibovespa no pregão de hoje. Outro fator por trás da baixa dos papéis de varejo, de acordo com Duarte, é um movimento de reversão após as altas dos últimos dias. Entre os maiores recuos, destaque para CVC (CVCB3), Via (VIIA3) e Lojas Renner (LREN3), com recuos de 6,85%, 6,28% e 6,26%, respectivamente.
As incertezas do cenário doméstico têm estressado a curva de juros nos últimos pregões, o que acaba prejudicando as companhias mais sensíveis aos juros, como as varejistas.
No fechamento, os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2024 eram negociados com alta de 0,14 p.p (ponto percentual), a 14,44%, enquanto os contratos com vencimento em janeiro de 2026 tinham alta de 0,21 p.p., a 13,69%, segundo dados do TradeMap.
Apesar do movimento sem muita intensidade, as taxas precificam uma alta persistente nos juros, já que a Selic é cotada a 13,75% ao ano.
Mineradoras e siderúrgicas são destaque positivo
A única ação do Ibovespa em território positivo foi a CSN (CSNA3), com alta de 0,81%. As demais mineradoras e siderúrgicas, contudo, ficaram entre as menores perdas do dia.
O bom desempenho relativo destes papéis segue a alta do minério de ferro no mercado internacional, impulsionada pela notícia de que o banco central chinês estuda oferecer empréstimos subsidiados a empresas do setor imobiliário.
“Acreditamos que esse é mais um sinal positivo que vemos do governo chinês em arrefecer o ritmo de desaquecimento do setor imobiliário, forte consumidor de aço e, por consequência, de minério de ferro. Porém, vemos a medida ainda como incipiente, de forma que precisamos aguardar os efeitos mais sólidos na economia do país asiático”, afirma Eduardo Nishio, head de research da Genial Investimentos.
Calmaria no exterior
Ao contrário do cenário doméstico, o dia foi tranquilo para o mercado estrangeiro, com as Bolsas globais operando em torno da estabilidade, mesmo com a piora do quadro da Covid-19 na China, que levou a novas medidas de restrição à mobilidade – mas com uma política muito mais tolerante do que em picos anteriores.
Nos Estados Unidos, onde os mercados fecharam mais cedo devido ao feriado de Ação de Graças, o S&P 500 teve baixa de 0,03% e o Nasdaq recuou 0,52%, enquanto o Dow Jones subiu 0,45%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 teve leve alta de 0,01%.
Criptomoedas
O mercado de criptoativos mostra certa estabilidade no fnal desta semana, apesar de a crise de desconfiança dos investidores após o colapso da FTX ainda pairar no ar.
Por volta das 17h, o Bitcon (BTC) operava em leve queda de 0,3% em relação ao preço de 24 horas atrás, negociado a US$ 16.535, conforme dados da plataforma CoinGecko. Na mesma hora, o Etherum (ETH) retraia 0,6%, a US$ 1.198.
Apesar de o Bitcoin parecer ter encontrado um novo fundo, analistas ressaltam que é muito cedo para afirmar que novas quedas não possam ocorrer nos próximos dias. Vale lembrar que as criptos ficam ainda mais voláteis durante o fim de semana, período marcado pela baixa liquidez do mercado.
A nova crise foi deflagrada pelo crash da corretora FTX e o pedido de recuperação na Justiça. Em resposta, a Binance, maior exchange em volume de negociação, anunciou um fundo de US$ 2 bilhões para resgatar empresas que estejam passando por dificuldade.
Para Craig Erlam, analista sênior de mercado da Oanda, novos desdobramentos ao longo dos próximos dias podem trazer mais estresse aos investidores.
“É provável que venha mais colapso do FTX e dos efeitos de contágio, sem mencionar outros escândalos que podem ser descobertos”, afirmou em nota. “Isso pode continuar a deixar os traders de criptomoedas muito nervosos e deixar as fundações de suporte ao preço extremamente instáveis”, concluiu.