Discurso de Lula desagrada o mercado e dólar sobe mais de 1% e Bolsa cai puxada por Petrobras

Declarações de Lula sobre uso de empresas públicas, como BNDES e Petrobras, para indução do crescimento aumenta preocupação sobre maior intervenção do Estado na economia

Foto: Shutterstock/Isaac Fontana

A sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no discurso de posse, de que deve voltar com o uso de empresas estatais para indução do crescimento econômico do Brasil, não agradou o mercado. Diante da preocupação de maior intervenção do governo na economia. o dólar e os juros futuros operam em alta, e a queda da Bolsa nesta segunda-feira (2).

Às 11h20, o dólar comercial subia 1,31% no mercado futuro da B3, para R$ 5,391.

Ontem, durante discurso de posse, Lula chamou a regra de teto de gastos (que limita o aumento de despesas do governo à variação da inflação) de “estupidez” e reforçou que a medida será revogada.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou hoje, em discurso de posse, que o governo vai trabalhar para apresentar um novo arcabouço fiscal para o Brasil e enfatizou que o governo só aceitará um resultado primário que seja melhor do que os R$ 220 bilhões de déficit fiscal previstos no Orçamento para 2023.

Em discurso de posse, Lula mencionou que pretende retomar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e reforçar o Minha Casa, Minha Vida para aumentar a geração de empregos.

“Achamos que continua faltando um maior detalhamento de como isso será efetivamente feito no cenário atual, aumentando as incertezas na economia”, apontou a Tullet Prebon em relatório.

Chamou a atenção do mercado, contudo, a menção do presidente Lula ontem de que os bancos públicos, especialmente o BNDES, e as empresas estatais indutoras do crescimento e inovação, como a Petrobras (PETR3),  “terão papel fundamental neste novo ciclo”.

As declarações aumentaram a preocupação do mercado com a volta do uso do crédito subsidiado do BNDES para impulsionar o crescimento.

“Ainda nos restam dúvidas sobre como o BNDES receberá os aportes para que volte a ter papel relevante nos desembolsos de crédito global, bem como as taxas de empréstimos terão metodologia alterada, ao passo que exigiria de um esforço do Congresso”, apontou a Ativa Investimentos em relatório.

A volta do crédito subsidiado pode, na visão do mercado, reduzir o espaço para o Banco Central cortar a taxa Selic, hoje em 13,75%, em 2023. Essa visão, sustenta a alta das taxas dos contratos de juros futuros.

Às 11h20, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 avançava para 13,58% ante 13,41% do ajuste do pregão anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2025 subia de 12,66% para 13,02%, enquanto a taxa do DI para 2027 avançava de 12,61% para 12,97%.

No Tesouro Direto, as taxas dos títulos públicos acompanharam a alta, levando à queda dos preços desses papéis. Vale lembrar que o investidor só irá realizar essa perda se vender os títulos antes do prazo de vencimento.

No caso da Petrobras, a preocupação é de que a companhia seja utilizada novamente para injetar recursos em investimentos, o que acaba reduzindo o lucro, que inclusive volta para o governo através de dividendos, apontou a Ativa.

Prorrogação da desoneração dos combustíveis

Ontem o presidente Lula prorrogou, através de uma Medida Provisória (MP), a isenção de impostos federais sobre combustíveis por 60 dias.

“O prazo de 60 dias para gasolina, sugere que mesmo que o imposto volte, há grande probabilidade de que não haja impacto na bomba visto que a Petrobras poderia compensar o avanço com uma redução dos preços recolhidos na esteira da nova política de preços”, destaca a Ativa em, relatório;

Assim, a Ativa espera que o aumento na projeção para inflação em 2024 deve ser revertido.

A média da projeção dos analistas coletadas no Boletim Focus divulgado hoje subiu de 5,23% para 5,31% no de 2024.

Com a extensão do prazo da desoneração dos combustíveis o governo ganha tempo para discutir uma nova política para os preços dos combustíveis no Brasil.

Na semana passada, o novo presidente da estatal, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), disse que a política de preços dos combustíveis é definida pelo Estado e que essa deve ser revista.

“A Petrobras vinha sofrendo com o temor de que a estatal fosse usada para segurar os preços dos combustíveis, com a manutenção da desoneração você tira uma pressão no curto prazo, mas as declarações do novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e do governo trazem uma sinalização ruim para a empresa, de que o Preço de Paridade Internacional para os preços dos combustíveis não deve ser mantida”, apontou a gestora Galapagos.

Às 11h20, a ação ordinária da Petrobras (PETR3) recuava 4,85% para R$ 26,68 , enquanto o papel preferencial (PETR4) recuava 6,46% para R$ 26,23.

A queda ajudava a puxar o principal índice da Bolsa para baixo. O Ibovespa caía 3,14% para 106.294 pontos.

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