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De Magalu (MGLU3) a Eletrobras (ELET6): as ações nas quais o mercado aposta para 2023

Com a expectativa de início da queda dos juros em 2023, investidores têm olhado com mais carinho para as ações de varejo

Foto: Shutterstock

Faltam três semanas para o segundo turno das eleições e já no mês seguinte tem início a Copa do Mundo. Se é comum os brasileiros brincarem que o ano só começa depois do Carnaval, é possível que alguns considerem que 2022 praticamente acabou.

Não seria exagero, portanto, já começar a pensar em 2023, ano marcado pelo início de mais um mandato presidencial, seja com mais quatro anos do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), ou com a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No mercado, analistas e investidores quebram a cabeça para tentar entender quais seriam as ações que mais tendem a se beneficiar em 2023, caso o vencedor seja um ou o outro.

Algumas apostas já são conhecidas: no caso de uma vitória de Lula, por exemplo, companhias de educação como Cogna e Yduqs podem surfar uma nova turbinada no Fies, programa de financiamento criado nas gestões petistas. Já uma reeleição de Bolsonaro pode impulsionar as estatais, que poderiam entrar em um programa mais amplo de privatização.

Mas o investidor não necessariamente precisa ficar esperando a apuração das urnas para escolher boas ações para 2023. Até porque o cenário econômico tende a ser o mesmo no início do governo, não importa quem vença.

Sabe-se, por exemplo, que os juros seguirão altos, em dois dígitos, que a inflação tende a continuar em desaceleração e que o candidato vencedor nas urnas terá de enfrentar uma verdadeira “bomba fiscal” causada pelo aumento dos gastos públicos nos últimos anos.

A expectativa do mercado para o PIB em 2023, aliás, é de crescimento tímido em 2023, de 0,54%, na mediana das projeções de economistas consultados pelo mais recente boletim Focus, do Banco Central.

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Há empresas e setores, portanto, que são vistos como “coringas”, pois tendem a se valorizar em qualquer cenário eleitoral e a despeito do ambiente econômico, segundo profissionais de mercado ouvidos pela Agência TradeMap.

O principal deles é o varejo, um dos segmentos que mais sofreram na pandemia, primeiro com as restrições de mobilidade e depois com o aumento de juros.

No ano passado, enquanto o Ibovespa caiu 12%, as principais empresas do varejo – Americanas, Magalu e Via -tiveram quedas entre 60% e 70%.

Agora, a esperança do mercado é que, finalmente, os humilhados sejam exaltados.

“Na medida do possível, os dados estão melhorando: o pior da pandemia ficou para trás, há uma expectativa de queda dos juros em 2023, para 11% ao fim do ano, e a inflação está mais controlada”, disse a gestora de ações Isabel Lemos, da Fator Administração de Recursos.

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Na visão de Lemos, como as variáveis macroeconômicas estarão mais favoráveis, analistas e investidores conseguirão se ater mais aos resultados das próprias empresas.

Até então, mesmo que as companhias estivessem apresentando bons números, a alta dos juros e a da inflação acabava assustando. “A melhora dessas variáveis vai tirar um pouco da insegurança dos investidores”, disse.

Para ela, há nomes interessantes no varejo que vão desde o segmento que vende eletrônicos, como Magalu e Americanas, passando pelo vestuário, com a Lojas Renner, até o de alimentos, com Assaí.

“Estamos vendo que os resultados dessas empresas já estão vindo, de modo geral, melhores do que esperávamos”, disse a gestora.

E a inflação?

A inflação medida pela IPCA, que atingiu 10% no ano passado, tende a terminar o ano de 2022 em 5,71%, segundo as projeções colhidas no boletim Focus. Para 2023, deve haver uma desaceleração para 5%, também segundo o mercado.

Há um pé atrás, no entanto, em relação à inflação.

O IPCA apresentou deflação nos últimos três meses e isso tem contribuído para a desaceleração do índice em 12 meses, mas boa parte desse freio nos preços está relacionada a cortes de impostos feitos pelo governo federal às vésperas da eleição para reduzir os preços.

Trata-se, portanto, de uma desaceleração artificial da inflação?

Para a chefe de estratégia de ações da corretora do Santander, Aline Cardoso, essa é uma preocupação válida, mas o risco é baixo.

Ela lembrou que os dois candidatos que foram ao segundo turno têm dito que os cortes de impostos serão mantidos e acrescentou que há uma tendência de queda dos preços das commodities, em razão da perda de força da economia global, o que deve contribuir para uma desaceleração mais firme da inflação.

Por outro lado, Cardoso ressalta que a inflação de serviços tem se mostrado mais persistente, mas que uma desaceleração tende a ocorrer no segundo semestre do ano que vem. “É por isso que o BC deve demorar a cortar os juros”, explica a estrategista.

Para ela, como há uma tendência de queda dos juros, o investidor pode deixar de lado o foco em ações de setores mais defensivos (menos sensíveis ao comportamento da economia), como utilities (empresas que oferecem serviços públicos, como energia elétrica e saneamento), e apostar mais em segmentos mais cíclicos (mais sensíveis à economia), como varejo, construção civil e transportes.

Para o gestor Sérgio Goldman, da Esh Capital, há um outro jeito de escolher empresas que devem se beneficiar em 2023 sem ficar olhando para as eleições ou até para o comportamento da economia. Basta ter como alvo as companhias que estão passando por uma transformação estratégica, o que dá a elas um potencial expressivo de crescimento.

Ele cita, por exemplo, o caso da estatal Eletrobras, que passou por um processo de capitalização em 2022, com uma nova oferta de ações que ampliou a participação da iniciativa privada em sua estrutura.

“É uma empresa que passará por uma profunda reestruturação nos próximos anos. O desempenho de suas ações vai depender muito mais de como esse projeto de reestruturação vai caminhar do que de resultados trimestrais”, explica.

Goldman também vê boas oportunidades no varejo de alimentos, mas vai além dos nomes que têm sido mais badalados pelo mercado, como Assaí e Grupo Mateus, que ganharam prestígio nos últimos meses por atuarem no atacarejo, em tese um segmento que consegue ser mais resiliente em tempos de inflação alta.

Para o gestor, uma boa pedida é o GPA, grupo dono das marcas Pão de Açúcar e Extra. Menos pelo negócio em si e mais pelo preço da ação, que Goldman vê como atrativo.

“Operacionalmente, o GPA tem desafios gigantes, mas, se você soma o valor de todos os ativos que fazem parte do grupo, percebe que o preço da ação está muito descontado”, afirma. “A nosso ver, o GPA tem um potencial de valorização de mais de 100%.”

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Os ativos a que Goldman se refere são, além das operações de supermercados no Brasil, o Grupo Éxito, rede que atua na Colômbia, e uma empresa de e-commerce que opera na Europa, na qual o GPA tem 34% de participação.

Saúde no foco

O setor de saúde também é bem visto por Goldman, Lemos e Cardoso. Afinal de contas, os transtornos causados pela pandemia nas operações das empresas do setor estão aos poucos ficando para trás, o que vai deixando o cenário mais “normal” e abrindo espaço para as companhias tocarem e ampliarem seus negócios.

A Hapvida, por exemplo, é uma empresa que o mercado avalia de forma positiva, mas que demorou para mostrar sinais de recuperação após os piores momentos de pandemia.

O segundo trimestre foi considerado um divisor de águas, deu alguma esperança aos investidores, uma vez que a companhia registrou adição líquida de 139 mil vidas em seus planos de saúde, e reduziu sua sinistralidade em 2,6 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2021.

Os números fizeram com que analistas do Bank of America revisitassem sua tese de investimento. Após a divulgação do balanço da Hapvida, em agosto, o banco passou a recomendar a compra da ação da empresa, afirmando que “a confiança estava restaurada” depois de a empresa aumentar o número de clientes mesmo sofrendo forte concorrência.

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