Depois de uma sequência de quedas, as commodities voltaram a subir nesta quarta-feira (30) e impulsionaram as ações ligadas ao setor, que sustentaram os ganhos da Bolsa no pregão, em contraposição à queda no exterior.
O principal índice da Bolsa de valores brasileira fechou em alta de 0,21%, aos 120.259 pontos, com R$ 20,26 bilhões em volume negociado. No ano até aqui, o saldo é de alta de 14,73%, enquanto a valorização acumulada desde o início de março é de 6,29%.
A alta do Ibovespa foi na contramão de seus pares do exterior. Em Nova York, o Nasdaq teve baixa de 1,21%; o S&P 500, de 0,61%; e o Dow Jones, de 0,19%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 teve perdas de 1,08%.
Desconfiança com a Rússia volta a impulsionar o petróleo
Os mercados internacionais, que subiram ontem em meio a notícias de avanços nas negociações no leste europeu, passaram a operar no negativo devido ao aumento do ceticismo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e seus aliados em relação à diminuição das operações militares russas na Ucrânia.
A cautela ocorre em meio a notícias que vêm mostrando que os arredores de Kiev e outras regiões da Ucrânia seguem sob ataque, mesmo depois de o vice-ministro de Defesa russo, Alexander Fomin, ter dito ontem que o país reduziria drasticamente a atividade militar perto da capital ucraniana.
Nesse contexto, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, alertou, em discurso em vídeo na noite de ontem, que, ainda que tenha havido “sinais positivos” nas negociações, a Rússia “não é confiável”.
Em reação às incertezas, o petróleo Brent teve alta de 3,46%, a US$ 111,44, levando para cima as ações do setor petrolífero. Petrobras (PETR4) teve alta de 2,14% e 3R Petroleum (RRRP3) valorizou 1,74%.
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O minério de ferro também teve alta, de 2,99%, depois de a China suspender as restrições relacionadas à Covid-19, o que eleva as expectativas de demanda chinesa. Assim, as mineradoras e siderúrgicas se recuperaram das perdas recentes e subiram em bloco, com destaque para CSN (CSNA3), que subiu 2,46%, e Gerdau (GGBR4), com ganhos de 2,09%. A Vale (VALE3) fechou em alta de 1,43%.
Petróleo sobe, pressão inflacionária acompanha
Por aqui, as discussões sobre as consequências da alta do petróleo ganharam fôlego. Ainda que os especialistas do mercado acreditem que Adriano Pires, indicado pelo governo para assumir a presidência da Petrobras, irá apoiar a política de preços da estatal, há temores, segundo matéria do jornal Folha de S. Paulo, de que sua proximidade com o Congresso abra caminhos para intervenção caso o governo ache necessário.
O ex-presidente e pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, voltou a defender, em debate organizado pelo PT e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), o fim da paridade internacional de preços e a volta de investimentos da Petrobras em refino.
Impulsionado justamente pelos combustíveis e pela alta nos preços do trigo, o IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado) avançou 1,74% em março, acima do esperado pelo mercado e pouco abaixo da alta registrada em fevereiro, quando o indicador subiu 1,83%. Analistas ouvidos pela Reuters esperavam um avanço 1,13% no índice.
O dado será destrinchado para o mercado, que já vem descrente de que o Banco Central conseguirá realizar somente mais um aumento de juros, levando a taxa a um patamar de no máximo 12,75%.
Apesar de o Copom (Comitê de Política Monetária) ter indicado que vem levando em conta um cenário alternativo para os preços do petróleo, o que possibilitaria levar a inflação à meta em 2023 com apenas mais 1 ponto de alta na Selic, analistas ouvidos pelo BC já precificam juros de 13% no final desde ano.
O dado pode mexer com os juros futuros e com ações de empresas ligadas aos setores imobiliários e de consumo, entre outros. Nesta quarta, os juros já interromperam a sequência de quedas e tiveram alta, refletindo as perspectivas de inflação e o exterior ruins.
Destaques do pregão
No fechamento, as maiores altas do Ibovespa eram de Banco Pan (BPAN4), Yduqs (YDUQ3) e Minerva (BEEF3), com ganhos de 5,68%, 3,45% e 2,82%, respectivamente. Na outra ponta, as maiores quedas eram de Qualicorp (QUAL3), Natura (NTCO3) e Azul (AZUL4), com perdas de 5,99%, 4,56% e 4,26%, nesta ordem.
A Méliuz (CASH3) subiu 2,65%, mesmo depois de registrar prejuízo líquido de R$ 29,7 milhões no quarto trimestre do ano passado, após ter registrado lucro de R$ 2,2 milhões no mesmo período de 2020, com os investidores confiantes com o crescimento da empresa no longo prazo.
Na outra ponta, a queda da Qualicorp é reflexo do lucro líquido de R$ 50,6 milhões da empresa no quarto trimestre de 2021, uma baixa de 25,2% em relação aos R$ 67,6 milhões do igual trimestre de 2020. O principal fator por trás da redução foi o aumento nas despesas com operações financeiras.
A Azul, por sua vez, foi impactada pela alta do petróleo e do dólar, que subiu 0,62%, a R$ 4,7872.
A Rede D’Or (RDOR3) também caiu, 3,34%, depois de divulgar o balanço. A companhia registrou lucro líquido de R$ 419,5 milhões no quarto trimestre do ano passado, alta de 38,5% em relação a igual período do ano anterior.
Na visão do Itaú BBA, em relatório publicado nesta quarta, os números vieram em linha com as expectativas, mas a empresa apresentou uma queda no ticket médio, o que afetou parte das margens e trouxe uma menor alavancagem operacional no trimestre.
Já a queda de 2,98% do BTG Pactual (BPAC11) veio depois de a instituição ter comunicado a compra do Banco Econômico e suas subsidiárias, que está em processo de liquidação extrajudicial desde 1995, quando sofreu intervenção do Banco Central e deixou de operar. A transação foi a avaliada em R$ 937,75 milhões e aumenta o portfólio do BTG.