Trégua global, estímulos locais e ruídos fiscais: o que movimentou o Ibovespa em junho

Foto: Shutterstock/rafastockbr

O mês de junho foi marcado por forte volatilidade e pelo predomínio da cautela, com investidores monitorando ao mesmo tempo os desdobramentos geopolíticos no exterior e o ambiente econômico e fiscal doméstico. Apesar do cenário de incertezas, o Ibovespa encerrou o período com alta de 1,33%, sustentado pelo alívio nos temores globais e pela retomada pontual de fluxo para ativos brasileiros.

No plano internacional, o cessar-fogo temporário entre Irã e Israel e a trégua parcial no conflito comercial entre Estados Unidos e China contribuíram para reduzir o nível de aversão ao risco, em meio a um cenário ainda sensível. Dados de atividade abaixo do esperado na Europa e sinais mistos da economia americana também alimentaram as expectativas de que o Federal Reserve poderá manter os juros inalterados por mais tempo, o que reforçou o movimento positivo em mercados emergentes, ainda que de forma seletiva.

No Brasil, as atenções continuaram voltadas para o debate fiscal e os sinais do governo sobre ajustes nas contas públicas. Ganharam destaque as discussões sobre a reoneração do IOF em operações de crédito e a revisão de isenções tributárias, enquanto o impasse em torno do Orçamento e das metas fiscais manteve a percepção de risco elevada. O Banco Central, por sua vez, adotou discurso mais duro, reforçando que a Selic permanecerá no patamar de 15% ao longo do ano, o que, embora limite o fôlego de setores sensíveis a juros, também contribuiu para sustentar o câmbio e atrair parte do capital estrangeiro.

Nesse ambiente de trégua externa e incertezas locais, o Ibovespa conseguiu avançar no mês, apoiado em movimentos pontuais de valorização em setores específicos, como construção civil, energia e aviação, enquanto papéis mais expostos a commodities, elevado endividamento ou pressões regulatórias ficaram entre as maiores perdas.

Entre as principais altas do mês, destacaram-se:

MRV (MRVE3) – (20,42%)
Os papéis da MRV tiveram forte valorização impulsionados pela criação da Faixa 4 do programa Minha Casa Minha Vida. A medida amplia o acesso ao financiamento habitacional para famílias com renda de até R$ 12 mil, com financiamentos de até R$ 500 mil e prazos mais longos. Analistas destacaram que o novo formato do programa favorece diretamente empresas como a MRV, líderes em habitação popular, ao mesmo tempo em que gera expectativas de retomada do crédito imobiliário a partir de 2026.

Embraer (EMBR3) – (17,59%)
As ações da Embraer se beneficiaram do anúncio de um contrato bilionário com a SkyWest Airlines para a venda de até 110 jatos E175, no valor potencial de US$ 3,6 bilhões. A companhia também avançou no setor de mobilidade aérea urbana, por meio da Eve, que formalizou intenções de venda de até 54 eVTOLs no Brasil e nos Estados Unidos. Além disso, a Embraer confirmou o fechamento de novas encomendas militares, incluindo a venda de aviões KC-390 à Lituânia, o que reforçou o otimismo em relação à sua carteira de pedidos.

TIM (TIMS3) – (13,13%)
As ações da TIM ganharam tração após o anúncio de mudanças estruturais na governança e a emissão de até R$ 5 bilhões em debêntures. A iniciativa faz parte da estratégia da companhia de reforçar o crescimento sustentável e ampliar os investimentos operacionais, com foco em eficiência e modernização.

Engie Brasil (EGIE3) – (10,59%)
A Engie anunciou uma reestruturação de sua diretoria executiva, com a criação de uma nova posição voltada exclusivamente para sustentabilidade e governança, medida alinhada às tendências globais de ESG. Além disso, o setor elétrico brasileiro foi beneficiado pela decisão do ONS de ampliar em 1,5 GW a capacidade de exportação de energia do Nordeste, região onde a Engie possui forte atuação.

 

Na outra ponta, o mês foi de perdas expressivas para companhias de setores pressionados por incertezas externas, deterioração de indicadores financeiros e questões regulatórias. Entre os destaques negativos ficaram:

Usiminas (USIM5)  –  (-20,77%)
A Usiminas foi penalizada pela queda dos preços do minério de ferro e pela deterioração de sua estrutura financeira. Apesar do lucro reportado no primeiro trimestre, o aumento de 46% na dívida líquida e o consumo elevado de caixa geraram preocupações quanto à sustentabilidade operacional da empresa, em meio a um ambiente desafiador para o setor siderúrgico.

Braskem (BRKM5) – (-17,62%)
A petroquímica enfrentou forte volatilidade em meio a incertezas sobre sua governança. O anúncio da Petrobras, reiterando o interesse em ampliar sua influência na gestão da companhia, gerou desconforto no mercado, que já monitorava de perto o processo de venda da Braskem, marcado por disputas entre acionistas e credores.

São Martinho (SMTO3) – (-16,97%)
Os papéis da São Martinho recuaram após resultados abaixo do esperado no quarto trimestre da safra 2024/2025. O lucro líquido caiu 83,3%, refletindo o fim do recebimento de precatórios da Copersucar e o recuo do EBITDA. A companhia ainda revisou seu guidance e anunciou aumento de capex para 2025, o que acentuou o pessimismo dos investidores.

Cosan (CSAN3) – (-16,65%)
A Cosan acumulou uma das maiores quedas do mês, pressionada por preocupações com o elevado nível de endividamento, que alcançou R$ 17,5 bilhões. O ambiente de juros elevados intensificou a percepção de risco financeiro, penalizando o papel ao longo de junho.

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