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Commodities não conseguem segurar o Ibovespa, que cai com avanço da Rússia

Com temores relacionados à guerra, dados positivos de PIB e payroll ficaram em segundo plano

Foto: João Tessari/TradeMap

Apesar da alta das commodities, a boa performance das ações do setor não foi suficiente para conter a queda do Ibovespa, que fechou em baixa seguindo o mau humor do exterior e derrubado também por ações de varejo e bancos.

O principal índice da Bolsa de valores brasileira encerrou o pregão em baixa de 0,6%, aos 114.473 pontos, com R$ 21,91 bilhões em volume negociado. Com isso, o Ibovespa encerrou a semana, mais curta devido ao feriado de carnaval, com alta de 1,18%. O saldo do ano é de avanço de 9,21%.

Foco do mercado segue sobre a Ucrânia

A intensificação dos ataques russos à Ucrânia derrubou as Bolsas ao redor do mundo. Em Nova York, o Nasdaq teve baixa de 1,66%, o S&P 500 caiu 0,81% e o Dow Jones recuou 0,53%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com perdas de 4,96%.

Na noite de quinta-feira (3), a Rússia atacou a maior usina nuclear da Europa, o que gerou tensão, apesar de não haver sido registrado vazamento de radiação. Durante a madrugada, os bombardeios geraram pânico no governo ucraniano, que alertou sobre riscos de uma explosão com consequências dez vezes piores do que as de Chernobyl.

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Como vem sendo comum, o petróleo contrariou as bolsas, com o Brent fechando em alta de 6,93%, a US$ 118,11, diante de temores de escassez de oferta.

Das petroleiras do Ibovespa, porém, apenas a 3R Petroleum (RRRP3) fechou no positivo, em alta de 0,03%. A Petrobras (PETR4), por sua vez, caiu 0,03% e segue sendo alvo de discussões.

Na noite de ontem, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, durante sua live semanal, que a estatal deveria abrir mão de parte do seu lucro para reduzir o preço dos combustíveis.

Na manhã de hoje, por outro lado, o chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, afirmou em entrevista coletiva que, para que os preços sejam reduzidos, são necessárias medidas estruturais e investimentos externos.

Outro obstáculo que a Petrobras pode enfrentar devido à guerra diz respeito à venda de sua Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), que estava sendo negociada com a empresa russa Acron. O fechamento da transação depende do tempo de duração do conflito e de seus efeitos sobre o caixa da companhia russa, segundo informações do Estadão.

Além do petróleo, os preços do minério de ferro também continuam a subir, fechando sua semana mais forte em mais de dois anos, impulsionados pelo receio de um impacto negativo da oferta devido à guerra, à retomada das operações das siderúrgicas chinesas, mais flexibilizações do controle chinês em relação à Covid-19 e à possibilidade de o aço chinês substituir o russo, segundo analistas da Genial Investimentos, em comentários ao mercado.

A disparada da commodity carregou consigo as ações do setor, com destaque para Gerdau (GGBR4), que subiu 3,89%; Metalúrgica Gerdau (GOAU4), com alta de 3,32%; e Vale (VALE3), que avançou 2,28%.

Outro temor trazido pela guerra é o de escassez na oferta de grande parte dos fertilizantes importados pelo Brasil. Por isso, segundo a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o governo federal irá lançar, neste mês, um plano nacional para ampliar a produção do insumo no país.

A ministra informou ainda, durante a live de Bolsonaro, que o estoque de fertilizantes para o agronegócio no Brasil está garantido até outubro, e que não há problemas com a safra neste momento – porém, a safra de verão, no final de setembro e outubro, ainda gera preocupação.

O movimento de aversão ao risco ao redor do mundo causou uma fuga para o dólar, considerado um ativo de proteção, o que fez a moeda americana subir e fechar em alta de 1%, a R$ 5,0260.

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Com isso, as empresas exportadoras, que têm grande parte de sua receita atrelada ao dólar, registraram as maiores altas do dia. Suzano (SUZB3) teve o maior avanço do Ibovespa, de 6,7%, seguida de Bradespar (BRAP4), que subiu 4,97%, e Klabin (KLBN11), em alta de 4,83%.

As empresas de turismo, por outro lado, caíram em bloco, pressionadas pelo aumento do preço do petróleo e pela elevação do dólar. Azul (AZUL4), Gol (GOLL4) e CVC (CVCB3) tiveram as maiores quedas do dia, perdendo 7,77%, 7,64% e 6,67%, respectivamente.

Ao mesmo tempo em que a alta das commodities impulsiona as ações do setor, ela gera preocupações em torno da inflação – causando aumento nas projeções da taxa Selic e, consequentemente, alta na curva de juros, explica Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA.

Esse movimento gerou queda das ações de tecnologia, com destaque negativo para Locaweb (LWSA3) e Banco Inter (BIDI11), com quedas de 5,36% e 6,06%, nesta ordem.

Os grandes bancos também recuaram em bloco, sentindo os efeitos da aversão ao risco. Itaú (ITUB4) caiu 1,52%; Santander (SANB11), 1,86%; Bradesco (BBDC4), 2,88%; e Banco do Brasil (BBAS3), 2,23%.

PIB e payroll ficam em segundo plano

Os desenvolvimentos no leste europeu deixaram as divulgações econômicas em segundo plano.

No Brasil, o dado mais importante foi o do Produto Interno Bruto (PIB). Depois de cair no segundo e terceiro trimestres, o indicador se recuperou nos últimos três meses de 2021, avançando 0,5% e encerrando o ano em alta de 4,6%.

O número para o período entre outubro e dezembro veio acima do esperado por analistas ouvidos pela Reuters, que apontavam expansão de 0,1% no quarto trimestre. Isso, na visão de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, segundo comentários ao mercado, deve aumentar as projeções para o PIB deste ano e, principalmente, do primeiro trimestre.

Nos Estados Unidos, os dados do payroll, com criação de 678 mil vagas de trabalho em fevereiro, mostraram que o mercado de trabalho americano está mais apertado do que o esperado e, portanto, que a economia do país segue muito forte, o que poderia colocar mais pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) para aumentar juros, segundo Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance.

A força destes dados, pontua o especialista, é parcialmente ofuscada pelo fato de os salários não terem subido, o que significa que o consumo não deve se fortalecer.

Neste momento, porém, o que deve ditar as decisões do Fed será muito mais a guerra do que a economia do país, segundo Nousi. “Isso tudo porque a guerra afeta negativamente o sentimento do consumidor e empresas, que podem reduzir seu ímpeto de consumo e investimentos”, explica.

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