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Com guerra na Ucrânia, Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) despencam; entenda o cenário para o setor

Setor aéreo, que ainda se recupera da pandemia, deve ser prejudicado também pela guerra, com aumento do petróleo, avanço do dólar e voos cancelados para Europa

Foto: Shutterstock

Desde o segundo semestre do ano passado, quando a pandemia voltou a mostrar sinais de melhora, após o pico de casos da segunda onda no primeiro semestre, as duas companhias aéreas listadas na B3 — Azul e Gol — têm gradualmente apresentado uma recuperação em seus números de tráfego de voos.

Um dos indicadores usados pelo setor aéreo para medir a oferta de voos, por exemplo, é o chamado ASK, que multiplica o número de assentos disponíveis pelo total de quilômetros voados.

Na Azul, a oferta de voos no Brasil medida pelo ASK já supera o nível pré-pandemia, com uma alta de 17,5% no quarto trimestre de 2021 em comparação a igual período de 2019, meses antes de a pandemia causar o início do isolamento social no país, em março de 2020.

Na oferta de voos internacionais, porém, a Azul ainda não conseguiu voltar ao “velho normal”. No quarto trimestre de 2021, o indicador apresentou queda de 68,2% em relação a igual período de 2019, embora tenha subido 48,6% ante o último trimestre de 2020, quando a pandemia estava no seu primeiro ano.

A Gol apresenta um cenário ainda pior, pois ainda está longe do patamar pré-pandemia tanto em voos domésticos quanto para o exterior. Em voos no Brasil, a oferta cresceu 11,4% no quarto trimestre de 2021 ante igual período de 2020, mas ainda está 26,5% abaixo do nível registrado no último trimestre de 2019.

Durante a pandemia, a companhia chegou a suspender os voos internacionais, que só começaram a ser retomados no fim do ano passado. A comparação com o pré-pandemia, portanto, mostra uma distância ainda maior. No quarto trimestre de 2021, a oferta de voos ao exterior está 92,14% abaixo do quarto trimestre de 2019.

A chegada da Ômicron, a mais recente variante da Covid-19, entre o fim do ano passado e o início deste ano, chegou a atrapalhar o processo de recuperação das companhias áreas, uma vez que parte dos pilotos e comissários de bordo teve de ser afastada, por apresentarem sintomas, o que forçou o cancelamento de uma série de voos.

O estrago, porém, não foi tão grande quanto nas primeiras ondas da pandemia. Em janeiro, por exemplo, a demanda total por voos da Azul caiu 5,5% em relação a dezembro, mas cresceu 19,5% em comparação a janeiro do ano passado.

Embora a pandemia já não assuste tanto quanto antes, mas ainda sofrendo com resquícios das restrições, as companhias aéreas agora se veem diante de um novo problema: a guerra entre Rússia e Ucrânia.

O conflito prejudica as companhias em três frentes.

Em primeiro lugar, porque parte dos voos para a Europa está sendo cancelada.

Em segundo lugar, porque a cotação do petróleo está subindo e isso eleva o preço dos combustíveis das aeronaves.

Desde o começo do ano, o preço do petróleo Brent no mercado internacional já aumentou 42,37%.

Figura 1: Preço do Petróleo Brent

E, por último, em meio a tanta incerteza a nível global, há uma expectativa de aumento do dólar, o que também é uma preocupação, uma vez que 60% dos custos das companhias aéreas brasileiras são atrelados à moeda americana (incluindo combustível, arrendamento de aeronaves, seguro e certos custos de manutenção).

Por enquanto, o dólar ainda apresenta queda de 10,69% no acumulado de 2022. Mas, a depender da escalada das tensões no Leste Europeu, a moeda americana pode voltar a disparar.

Segundo o boletim Focus, do Banco Central (BC), a projeção do mercado aponta para um dólar a R$ 5,50 no fim do ano, o que representa uma alta de 8,39% em relação à cotação atual.

Diante desse cenário, não por acaso, as duas companhias estão “apanhando” do mercado nos últimos dias. Nesta semana, a ação da Azul acumula queda de 12,93%. A da Gol, de 13,48%.

As duas empresas, aliás, estão entre os maiores tombos no pregão desta sexta-feira. Por volta das 15h30, a Azul caía 6,93%, enquanto a Gol recuava 7,09%.

Mas o quanto uma disparada do dólar pode atrapalhar a vida das companhias aéreas? É possível ter uma noção olhando para o passado, a partir dos impactos da pandemia em 2021.

Em 2021, quando o dólar subiu 7,26%, as empresas sofreram com o aumento do preço dos combustíveis, que representam cerca de 40% dos custos operacionais totais.

Segundo dados recentes da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) referentes ao terceiro trimestre de 2021, o combustível de aviação teve uma elevação de 56,6% em comparado ao terceiro trimestre de 2020.

Em 2021, o custo da Azul com combustíveis cresceu 104,51% em relação a 2020. A Gol, que ainda não apresentou os resultados do último trimestre de 2021, teve um aumento de 109,06% no acumulado do ano até setembro.

Não bastasse isso, as empresas tiveram dificuldades para repassar esses aumentos ao consumidor, uma vez que a pandemia restringiu a oferta e a demanda de voos.

Na Gol, o preço médio da passagem (total da receita com passageiros dividido pelo total de passageiros pagantes) caiu 6,52% no acumulado do ano até setembro, enquanto os custos operacionais cresceram 29%.

Na Azul, chegou a subir 9,90% em 2021, mas em ritmo inferior ao do aumento dos custos operacionais, que cresceu 36,9%.

O resultado disso é que as margens das empresas ficam pressionadas. Na Gol, por exemplo, a margem operacional caiu no acumulado de nove meses de 2021 para -46,2%, de -14,1% no mesmo período em 2020.

No dia 25 de fevereiro, Jerome Cadier, CEO da Latam, fez uma publicação em seu Linkedin com possíveis impactos da invasão russa à Ucrânia: no preço do combustível e no câmbio, no mercado de capitais e disponibilidade de crédito, e no preço e disponibilidade de commodities relevantes para a indústria, como titânio por exemplo, necessário para a fabricação de aviões.

Além disso, ele falou sobre um possível aumento nos preços das passagens: “pelas primeiras reações, o impacto nos custos das companhias aéreas é inegável. Infelizmente na situação que está o setor, estes aumentos vão impactar os preços das passagens”.

Em resumo, o aumento do preço do petróleo e uma nova aceleração do dólar devem pressionar os custos das companhias aéreas. A dúvida é se as empresas conseguirão repassar os aumentos para o preço das passagens, em uma tentativa de salvar suas margens.

No mercado, os analistas se dividem entre o que recomendam para Gol e Azul.

No caso da Gol, segundo 12 projeções coletadas pelo Refinitiv e apresentadas na plataforma do TradeMap, quatro são de compra, quatro são de manutenção e quatro são de venda. As estimativas para preço-alvo apontam para uma mediana de R$ 22, valorização potencial de 48%.

Para a Azul, das 12 projeções, uma tem uma recomendação de compra forte, quatro de compra, cinco de manutenção e duas de venda. A mediana para as previsões de preço-alvo é de R$ 37, alta potencial de 68,8%.

Figura 2: ações de Gol e Azul

Fonte: TradeMap

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