A despeito dos ataques relacionados à religião entre os dois principais lados da disputa à Presidência, o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o de Jair Bolsonaro (PL), o início da campanha eleitoral, nesta semana, já colocou temas econômicos relevantes em evidência.
A Petrobras foi um dos primeiros a surgir na agenda. Desta vez, na voz do candidato do PT, em discurso de estreia, na quinta-feira (18). Lula afirmou que, se eleito, a companhia não será privatizada. O presidenciável disse o mesmo sobre o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
No dia anterior, tinha sido a vez de Bolsonaro afirmar que está garantida a isenção dos impostos federais PIS e Cofins sobre combustíveis, concedida neste ano, também para 2023. Além disso, o presidente da República prometeu carreira reestruturada e reajuste salarial ao funcionalismo público e a correção da tabela do Imposto de Renda.
Neste ponto, Lula e Bolsonaro concordam, ao menos no discurso. O petista também destacou a necessidade da correção. Segundo o ex-presidente, seu eventual governo pretende isentar quem recebe até cinco salários mínimos e reajustar anualmente a tabela que indica as faixas de cobrança.
E, como não poderia deixar de ser, a reforma tributária foi outra figurinha carimbada na fala rumo ao Planalto. Paulo Guedes, ministro de Economia de Bolsonaro, afirmou, na quarta-feira (17) que, para o Auxílio Brasil ser mantido nos atuais R$ 600, além da alteração da tabela do IR, o rearranjo tributário brasileiro teria que ocorrer.
Mas não só. Segundo ele, seria necessária ainda a cobrança de imposto sobre lucro e dividendos. O tema recorrente – e rechaçado por investidores – também já foi exposto por Lula. A intenção do presidenciável do PT é reduzir o imposto de produção e tributar lucros e dividendos acima de R$ 1 milhão por ano.
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A proposta tem o apoio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), manifestado em estudo entregue aos candidatos à Presidência.
Apesar da abordagem relacionada aos lucros e dividendos, não será de se estranhar que ambos os candidatos recorram a temas mais palatáveis ao mercado financeiro, de modo a conquistar maior fôlego para vencer no primeiro turno, no caso de Lula, ou se manter vivo na disputa, no caso de Bolsonaro.
Veja as matérias de destaque da Agência TradeMap na semana
IRB estuda oferta
O IRB Brasil (IRBR3) confirmou, na segunda-feira (15), que estuda realizar uma oferta de ações, mas disse que o aumento de capital ainda é hipotético e não está garantido. O preço estimado seria de R$ 1 por papel – segundo informou o Brazil Journal -, e ficaria 97,5% abaixo da máxima histórica de R$ 40 atingida no início de 2020.
Nubank com o seu lucro questionável
O lucro líquido do Nubank (NUBR33) foi novamente alvo de discussão do mercado. De forma ajustada, o montante somou US$ 17 milhões, em linha com os US$ 17,2 milhões do primeiro trimestre e alta de 65% em um ano. Sem o ajuste, haveria prejuízo de US$ 29,9 milhões, quase o dobro do reportado um ano atrás. Mas a fintech atingiu a marca de 65,3 milhões de clientes, com receita média por usuário ativo maior que a do Banco Inter.
CEO da CCR renuncia
A renúncia de Marco Cauduro do cargo de CEO da CCR (CCRO3), anunciada na terça-feira (16), é uma “perda inesperada” para a companhia, de acordo com analistas da XP Investimentos, uma vez que Cauduro é “muito bem visto pelo mercado”. Para analistas, porém, a saída de executivo não deve causar mudanças estratégicas abruptas empresa.
Inadimplência em bancos, varejistas…
Bancos, varejistas e até empresas de concessão de serviços públicos começam a sentir em seus resultados o efeito da inadimplência– e essa situação deve persistir no segundo semestre. Uma combinação de inflação, juros em alta e renda em queda tem tornado mais difícil para o consumidor manter as contas em dia e isso já está aparecendo no balanço das empresas.
Minerva ganha moral após balanços
No balanço dos frigoríficos, Minerva (BEEF3) ganhou moral, e BRF (BRFS3), por sua vez, perdeu pontos. O setor sofre com aumento dos custos de produção, mas nem lockdown na China ou guerra na Europa diminui os preços. O segundo trimestre marcou um aumento da alavancagem em três das quatro empresas da área, mas o cenário ainda é benigno nesse ponto.
Agenda da semana
A agenda da semana está focada em alguns indicadores de inflação. No Brasil, haverá a divulgação do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), um termômetro preliminar do comportamento dos preços, referente a agosto. O dado será apresentado na terça-feira (23).
Atualmente, IPCA, índice de inflação oficial do país, tem alta acumulada de 4,77% no ano e de 10,07% nos 12 meses até julho. No mês passado, porém, o indicador mostrou deflação de 0,68%, a maior queda de preços da série histórica, fortemente influenciada por um efeito pontual, o recuo da alíquota de ICMS de combustíveis.
O IPCA-15, uma prévia do resultado mensal, indicará se o efeito das desonerações persistiu em agosto, trazendo novamente uma deflação.
Nos Estados Unidos, mais um dado de inflação será conhecido, na sexta-feira (26), o PCE (índice de preços de gastos com consumo) de julho, divulgado pela secretaria de estatísticas econômicas dos EUA. O indicador é uma das informações consideradas pelo Federal Reserve, o banco central americano, para avaliação da conjuntura econômica com vistas à decisão sobre a taxa básica de juros.
Desta vez, porém, o indicador deve ter menos relevância porque, até a próxima reunião do Fomc, o comitê de política monetária do Fed, em setembro, estão previstos outros dados sobre a inflação e o mercado de trabalho americano.
A semana será fechada com a participação de Jerome Powell, presidente do Fed, na conferência anual global de bancos centrais em Jackson, no estado de Wyoming, na sexta-feira (26).
O discurso será sobre as perspectivas econômicas do país e receberá bastante atenção dos investidores mundialmente, dada a atual divisão do mercado sobre se a instituição vai manter o ritmo de alta de juros nos Estados Unidos no mês que vem em 0,75 ponto porcentual.