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IRB Brasil (IRBR3) prepara inevitável chamada de capital com desconto de 50%; ações despencam

Contínua necessidade por capital para dar solvência ao patrimônio líquido é vilão da companhia na Bolsa

Foto: Shutterstock

Às vésperas da divulgação de seu resultado no segundo trimestre deste ano, o IRB Brasil (IRBR3) movimenta o mercado nesta segunda-feira (15), após admitir que estuda realizar uma oferta de ações no curto prazo. 

Na sexta-feira (12), o Brazil Journal disse, citando fontes, que o IRB Brasil pretendia captar de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão com a venda de novas ações a R$ 1 cada.

Isso significaria um desconto de aproximadamente 52% sobre a cotação atual, muito acima do que habitualmente é praticado pelo mercado, mesmo que em uma janela mais fechada no mercado de capitais.

Hoje, o IRB Brasil confirmou que estuda uma operação do tipo, mas disse que o aumento de capital ainda é hipotético e não está garantido. Com isso, formalmente, ainda não se sabe qual será o preço das ações na emissão.

A notícia, porém, abalou a confiança do mercado na empresa. Por volta das 10h15, as ações chegaram a cair 14,7%, para R$ 1,97, mas posteriormente devolveram boa parte das perdas e, às 12h50, recuavam 6,93%, a R$ 2,15. 

O preço praticamente simbólico de R$ 1 por papel que seria adotado na venda das novas ações perfaz um montante 97,5% inferior à máxima histórica de R$ 40 atingida no início de 2020.

De lá para cá, o valor da ação despencou porque o IRB entrou numa crise de gestão e operacional poucas vezes vista no Brasil, que envolveu suspeitas de fraudes contábeis e mudanças no alto escalão da resseguradora.

O cenário disfuncional em que se encontrava a empresa, acusada de inflacionar os números no curto prazo para fomentar a alta das ações, fez com que uma série de negócios tivessem de ser descontinuados (o que a empresa chama de run-off). 

Com a falta de equilíbrio na retenção dos prêmios e os sinistros retidos, o patrimônio líquido da companhia é pressionado.

Susep no pé do IRB Brasil

O IRB Brasil atua no segmento de resseguros. Na prática, isso equivale a operar como seguradora de outras seguradoras. 

Ao dividir a responsabilidade dos seguros, o IRB Brasil se propõe a cobrir um ou mais riscos relacionados às seguradoras e fica responsável pelo sinistro que a contraparte poderá ter sofrido.

Para isso, é necessário que o patrimônio líquido da empresa seja saudável, com folga para eventuais necessidades. Essa “folga” é identificada por um indicador chamado Suficiência de Patrimônio Líquido Ajustado, que mostra a relação do PL com o capital mínimo requerido.

Definido pela Susep (Superintendência de Seguros Privados), o capital mínimo requerido é o maior valor entre o Capital Base (CB) e o Capital de Risco (CR). 

No caso do IRB Brasil, no encerramento do primeiro trimestre deste ano o capital mínimo requerido estava em R$ 86,5 milhões. Já a Suficiência de Patrimônio Líquido Ajustado estava em 105% deste valor, estando continuamente em queda (em março de 2021 era de 181%).

Para que este patamar não fique abaixo de 100%, ou seja, para haver a “folga” do patrimônio líquido em relação ao capital mínimo necessário para a resseguradora operar, a empresa precisa ter lucro ou levantar capital.

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Como o lucro parece estar mais distante da companhia neste momento, a “chamada de capital”, como diz o jargão de mercado, é mais factível. O problema é que isso já aconteceu antes. Em 2020, a empresa precisou de uma injeção de recursos e recorreu à emissão de novas ações. 

Em maio deste ano, o IRB já havia aprovado em Assembleia o aumento de capital em R$ 1,2 bilhão.

Prenúncio de fraco resultado no 2º trimestre

A forte queda das ações da resseguradora aquece os motores para a divulgação do resultado consolidado do IRB do período entre abril e junho, que acontecerá após o fechamento do pregão.

A expectativa do mercado é negativa, dado que o aumento de capital hipotético vem acompanhado de uma possível queda da Suficiência de Patrimônio Líquido como consequência de mais um prejuízo líquido da companhia. A resseguradora acumula perda de R$ 285,3 milhões entre janeiro e maio. 

A empresa tem sofrido no âmbito rural por causa da quebra de safras das empresas do setor – algo que pressionou muito o resultado de maio.

Ambos os temas são conexos, mas a solvência da empresa ainda é o foco neste momento, em detrimento do lucro líquido. A resseguradora ainda deve mostrar ao mercado que seu turnaround é factível e que a descontinuidade operacional não é mais uma possibilidade.

Porém, até lá, a destruição de valor do IRB Brasil continua. Dada a necessidade constante de capital – e os efeitos negativos disso sobre a demanda por novas ações -, as emissões ocorrem a preços cada vez menores, diminuindo o valor de mercado da empresa.

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