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Recessão à frente nos EUA? O risco que o mercado de juros está sinalizando agora

A curva de juros americana inverteu pela primeira vez desde 2019 no final da semana passada – os juros de curto prazo ficaram maiores e mais atraentes aos investidores do que aqueles de longo prazo. Nos momentos em que isso acontece, uma luz vermelha se acende no mercado: historicamente há uma relação entre essa alteração, que vai contra a lógica financeira, e a possibilidade de recessão econômica.

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Considerada uma espécie de termômetro do que vem pela frente em uma economia, a curva de juros é a representação gráfica do quanto os investidores estão cobrando para emprestar dinheiro a um país ao longo do tempo.

Em geral, as taxas para empréstimos que vencem no curto prazo são menores que as de longo prazo por uma razão simples: datas mais distantes de pagamento costumam significar riscos maiores para quem faz o empréstimo.

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Mas em um cenário de forte pressão inflacionária, intensificada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, e sinais de que o mercado de trabalho americano está mais forte do que se esperava, esse senso comum vem sendo subvertido.

Curva de juros dos EUA em três datas diferentes. Na mais recente, no início de abril, é possível observar a inversão da curva entre as taxas de 7 e de 10 anos. Fonte: Tesouro dos EUA/TradeMap

A primeira inversão em três anos, com os títulos americanos com vencimento em 10 anos passando a pagar menos que os papéis de dois anos, aconteceu na quinta (31). Mas na última sexta (1º) esse cenário se intensificou com a divulgação do payroll de março, relatório sobre o mercado de trabalho americano, que revisou para cima a criação de vagas na maior economia do mundo.

Os dados aumentaram as apostas de que o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, intensificará a alta de juros a partir do mês que vem.

Nesta segunda-feira, a diferença entre os juros curtos e longos diminuiu, mas os números ainda apontam para uma curva invertida.

Segundo dados do Departamento do Tesouro dos EUA, a taxa do título de dívida pública do país com vencimento em três anos terminou o dia em 2,61%.

A taxa superou a projetada pelos títulos com vencimento em cinco, sete e dez anos, que estavam em 2,56%, 2,52% e 2,42%, respectivamente.

Ou seja, o mercado está precificando que o Federal Reserve será obrigado a subir os juros de forma agressiva no curto prazo, o que poderia levar a um cenário de queda da atividade econômica.

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Mas afinal de contas, isso quer dizer recessão?

A maior parte dos analistas diz que é muito cedo para se preocupar com esse cenário, e ressalta que não necessariamente o movimento se traduzirá em queda da atividade americana no futuro.

Em primeiro lugar, a curva de juros precisa permanecer invertida por um período bem maior de tempo, e de forma mais expressiva, para que essa mudança seja vista como um sinal mais forte de problemas à frente.

Além disso, há um intervalo considerável de tempo entre a inversão e o início de uma recessão –tradicionalmente, economistas apontam que esse tempo é de cerca de 12 meses, em média, mas a queda da atividade pode demorar bem mais para acontecer.

Em relatório, o banco holandês Rabobank afirmou que o cenário deve ser visto com cautela.

“A recente inversão da curva de juros é motivo de preocupação, mas devem ser interpretada com cuidado”, afirmaram os analistas da instituição em relatório. “Uma inversão além do limite atual eleva a chance de uma recessão somente acima de 50%. Não é uma certeza. A probabilidade de recessão aumenta com a profundidade da inversão”.

Para o banco, um sinal confiável de recessão ainda não foi dado pela curva atual, mas essa chance deve crescer ao longo do tempo. “O impacto de achatamento da curva por causa dos aumentos de taxas de juros pelo Fed, e o tom mais hawkish [propenso a aumento de juros] de Powell [o presidente do Fed] em 21 de março, sugerem que é apenas uma questão de tempo até vermos inversões da curva que sinalizem uma chance de recessão acima de 50%”.

Ata do Fomc

Na avaliação do banco japonês Mizuho, o tamanho da inversão atual, considerada pequena, aponta mais para um enfraquecimento da atividade do que para uma recessão propriamente dita. Além disso, a avaliação é que uma eventual sinalização da ata do Fomc (comitê de política monetária do Fed) de que reduzirá o balanço da instituição tende a limitar esse efeito.

“O grau de inversão foi pequeno, não muito mais do que um ponto-base. Com a expectativa de que o Fed reduzirá o seu balanço nos meses seguintes, esse efeito será limitado”.

A ata do Fomc será divulgada nesta quarta – há duas semanas, o colegiado elevou os juros básicos americanos em 0,25 ponto, ao intervalo entre 0,25% a 0,50% ao ano.

Cada vez mais, analistas e os próprios membros do colegiado indicam a possibilidade de aceleração do ritmo de aumento de juros para 0,5o ponto percentual como forma de combater a disparada da inflação, que vem sendo pressionada pela guerra entre Rússia e Ucrânia.

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