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Sob pressão: inflação se espalha e economistas elevam previsão de alta do IPCA 2022

Os primeiros dados de 2022 dos índices de inflação mais relevantes apresentaram más notícias para o comportamento dos preços neste ano, levando a uma bateria de revisões para cima nas projeções de analistas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

O cenário reforça a chance de uma nova alta agressiva, de 1,5 ponto porcentual, na taxa básica de juros, a Selic, na semana que vem pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).

O primeiro sinal de um avanço acima do esperado veio no último dia 19, quando a segunda prévia do IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado), da FGV (Fundação Getulio Vargas), saltou 1,95% (em dezembro, havia subido 0,43%). O índice foi pressionado pela alta do minério de ferro e pela seca atípica que atinge o Sul do país nessa época do ano. O índice fechado do mês, divulgado na manhã desta sexta (28), mostrou alta de 1,82%.

Na quarta (26), um outro indicador ruim. O IPCA-15 de janeiro mostrou desaceleração no ritmo de alta (de 0,78% em dezembro para 0,58%), o que em tese é uma boa notícia. Mas o índice veio acima do esperado pelo mercado, ao mesmo tempo em que revelou um espalhamento cada vez maior do aumento do custo de vida por diversos bens e serviços.

“A inflação está muito mais disseminada em vários segmentos”, apontou o economista Álvaro Frasson, do BTG Pactual Digital. “O IPCA-15 estressou bastante a curva de juros, já que o índice surpreendeu não só no quantitativo, como também no qualitativo”.

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Cálculo da Asa Investments mostra que o índice de difusão do indicador (ou seja, o percentual de produtos que apresentaram alta em janeiro) alcançou 74,4% neste mês, ante 68,9% em dezembro, em um sinal de espalhamento e resistência da inflação à alta de juros –é só lembrar que o atual ciclo teve início em março do ano passado.

Nesse cenário, o Itaú Unibanco revisou sua projeção para o IPCA do ano de 5% para 5,3%, acima do teto da meta de inflação para o ano, de 5%. Outros bancos que elevaram previsões para a alta de preços neste ano foram o Credit Suisse, que agora espera inflação de 6,20% em 2022 (a expectativa anterior era de 6%), e o JP Morgan, que elevou sua aposta de 5% para 5,2%.

“A inflação não está apenas muito alta, mas também bastante disseminada, com um cenário de projeções se mantendo acima de 9% por todo o primeiro semestre de 2022”, apontou o chefe de pesquisa do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, em relatório.

Ele citou ainda o risco crescente de que a inflação passada (que se reflete em elevações de contratos indexados a índices de preços, por exemplo), somada a futuros reajustes salariais, continue gerando uma alta de preços cada vez mais inercial (ou seja, que se retroalimenta de forma automática).

Commodities em alta

Outro receio para o futuro próximo vem da forte alta na cotação das commodities, em um cenário em que a China, maior compradora de matérias-primas do Brasil, está reduzindo taxas de juros para estimular a economia.

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O repique do IGP-M em janeiro, que foi estimulado pelo aumento nos preços do minério, pode ser parcialmente repassado aos preços ao consumidor nos próximos meses. “Tem esse aspecto, mas não necessariamente toda a alta que vem do atacado consegue chegar ao consumidor”, pondera Frasson, do BTG Pactual Digital. “O que fica no meio do caminho é redução de margem de lucro dos empresários”.

No exterior, o minério continua sob pressão, já que o mercado trabalha com uma possível redução da produção das siderúrgicas por conta da Olimpíada de Inverno na China, de 4 a 20 de fevereiro – o país costuma se preocupar em melhorar a qualidade do ar durante esses eventos que atraem atenção internacional.

A forte alta do petróleo, que nesta semana atingiu US$ 90 o barril pela primeira vez desde 2014 em meio a conflitos geopolíticos, é outro risco na mesa da inflação, assim como problemas climáticos no Brasil e no mundo. “As secas no Sul podem ajudar a impulsionar os preços dos alimentos na primeira metade do ano”, afirmaram os economistas Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez, do JP Morgan, em relatório.

Para o economista André Braz, coordenador dos índices de preço da FGV, isso pode piorar nos próximos meses. “Um instituto de meteorologia americano notificou o fenômeno La Niña para acontecer em março, o que diminui o volume de chuvas no Sul e aumenta no Sudeste”, lembrou. “Está no radar uma persistência maior do processo inflacionário no primeiro semestre e uma desaceleração mais aguda no segundo”.

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