A surpresa positiva do comportamento de serviços em março – a alta foi de 1,7%, bem acima do 0,7% esperado por analistas – deve levar a revisões para cima da expansão do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre.
O aumento foi disseminado pelas cinco atividades apuradas pela pesquisa do IBGE, com destaque para os transportes, que apresentaram crescimento de 2,7%.
Além do avanço acima do esperado no terceiro mês do ano, o órgão revisou para cima o comportamento do setor em fevereiro (de uma queda de 0,2% para alta de 0,4%). Com isso, os serviços encerraram o primeiro trimestre em alta de 1,8% em relação ao período entre outubro e janeiro de 2021.
“O dado surpreendeu não só pela leitura de março, mas também pela revisão altista de fevereiro. Essa alteração deixou a série com um comportamento mais lógico em relação à pandemia. Em janeiro, os casos de Covid-19 tiveram forte alta, e em fevereiro apresentaram forte queda”, apontou Luciano Rostagno, estrategista chefe do Banco Mizuho.
Saiba mais:
Força do comércio em fevereiro será difícil de repetir nos próximos meses; entenda
Como o setor de serviços responde por mais de 60% do PIB total brasileiro, a expectativa é que o número positivo leve a revisões para cima no comportamento da atividade brasileira. “Atualmente nossa expectativa é de alta de 0,50% de avanço no PIB brasileiro no primeiro trimestre e também no ano. Com o bom desempenho de agronegócios e agora serviços, vou revisar ambos para cima”, disse o especialista.
O dado do mês retrasado foi puxado por transportes e serviços às famílias, o que reflete a maior mobilidade dos brasileiros com o avanço da vacinação no país.
“A expansão da atividade de serviços em março foi ampla, com todos os cinco principais subsetores crescendo mais que 1% no mês”, destacou Alberto Ramos, chefe de pesquisa para o Goldman Sachs na América Latina.
Para o gerente da pesquisa do IBGE, Rodrigo Lobo, o segmento rodoviário de cargas, especialmente o vinculado ao comércio eletrônico e ao agronegócio, foi um dos maiores impactos positivos nos dados. “É a principal modalidade de transporte de carga pelas cidades brasileiras e seu uso ficou ainda mais acentuado após os meses mais cruciais da pandemia”.
E daqui para a frente?
Com o número divulgado hoje, os serviços estão em um patamar 7,2% acima do registrado no pré-pandemia de coronavírus. Economistas veem a possibilidade de avanços adicionais nos próximos meses, mas não no ritmo observado em março.
“A tendência agora é o setor crescer a taxas mais moderadas”, aponta Rostagno. “A recuperação de serviços já está em um estágio avançado, e assim o espaço para taxas de crescimento mais robustas vai ficando para trás”.
É a mesma avaliação de Ramos, do Goldman Sachs, que lembra que há algumas pedras no meio do caminho do setor daqui para a frente.
“Esperamos que alguns dos segmentos ainda impactados pela Covid, em particular serviços às famílias, se recuperem mais nos príximos meses”, afirmou em relatatório. “Entretanto, a inflação de dois dígitos, as taxas de crescimento por causa de condições financeiras mais apertas, altos níveis de endividamento das famílias, baixa confiança de consumidores e empresas e a mudança incipiente no ciclo de crédito devem gerar ventos contrários à atividade de serviços no curto prazo”.
Leia mais:
Recuperação dos serviços atrasa e pode demorar ainda mais com inflação e juros altos