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Mais uma alta da Selic: incertezas com inflação e fiscal levam BC a sinalizar novo aumento em agosto

No comunicado da decisão desta quarta, Copom evitou indicar quando o atual ciclo de aperto monetário vai terminar

Silvia Rosa

Silvia Rosa

Foto: Shutterstock

Em meio à inflação resistente e ao aumento do risco fiscal, o Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, sinalizou uma nova alta na taxa básica de juros, a Selic, na reunião de agosto. O comitê elevou os juros em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira (15), a 13,25% ao ano.

O cenário muito incerto fez o colegiado não cravar o tamanho do próximo aumento nos juros básicos (o comunicado que acompanha a decisão fala em alta igual ou menor) e nem mesmo quando o atual ciclo de aperto monetário, iniciado em março do ano passado, termina de fato.

A maior parte dos economistas, contudo, acredita que os juros param de subir em agosto, e permanecem em um patamar elevado até pelo menos o segundo trimestre de 2023.

Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, o BC vai avaliar os dados para ver se tem condições de encerrar de fato o ciclo na próxima reunião. O BV prevê uma Selic de 13,50% até o fim de 2022, com o BC podendo começar a cortar a taxa básica a partir de maio do ano que vem se a inflação para 2024 convergir para a meta.

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Na avaliação do economista, uma desaceleração da economia mundial favorece a leitura de que o comitê tem condições de encerrar o ciclo de alta de juros em agosto, mas, se as expectativas de inflação para 2023 continuarem altas, o Copom pode fazer um aperto maior.

“As projeções de inflação do BC para 2023 estão mais otimistas porque não incorporam a reoneração tributária”, afirma ele, em referência à limitação do aumento do ICMS pelos estados para combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte público a 17% ou 18% do valor total em imposto, aprovado pelo Congresso.

O governo federal vai ressarcir os Estados quando a queda na arrecadação de ICMS for superior a 5% em relação a 2021, e também os entes da federação que zerarem a cobrança do imposto até o fim de 2022.

Isso coloca mais pressão nos preços de 2023, que é o horizonte olhado pelo Copom, já que a zeragem do ICMS só valeria até o fim deste ano.

As projeções de inflação no cenário de referência do BC se situam em 7,3%, para 2022, e 3,4%, para 2023, acima do centro da meta de 3,50% e 3,25%, respectivamente.

Riscos fiscais

Na avaliação de João Fernandes, sócio e economista da Quantitas, para quem o BC vai subir a Selic a 13,75% em agosto, o comunicado do Copom foi “dove” (mais propenso a juros menores) quando se considera o tamanho dos riscos fiscais do cenário atual.

“Foi um comunicado dove principalmente porque, apesar de reconhecer as pressões inflacionárias e do risco fiscal das medidas em tramitação no Congresso, o BC manteve um desenho que não permite identificar assimetrias altistas no seu cenário”, afirmou. “Não trouxe sinais de disposição de ir muito além do que o mercado estava trabalhando.”

Para o economista-chefe da Genial, José Marcio Camargo, o comunicado não trouxe nenhuma grande surpresa.

“A alta de 0,50 ponto percentual era esperada, e nossa expectativa é que anunciariam um novo aumento de magnitude menor. No nosso cenário, a única surpresa é que disseram que o ajuste pode ser igual ou menor”, afirmou Camargo.

Na avaliação do especialista, o Copom citou as questões de políticas tributárias, como a aprovação do projeto de lei que limita a cobrança do ICMS de combustíveis, energia e telecomunicações a 17%, de forma “marginal”.

“Se mostraram menos preocupados do que eu estava antecipando”, declarou. “Estão relativamente tranquilos com esse cenário, e citaram que o impacto sobre a inflação no ano que vem será menor do que a redução deste ano.”

O diretor de tesouraria do Banco Fator, Bruno Capusso, acredita que o BC deve dar o último aumento da taxa básica em agosto após um ciclo de aperto monetário que já dura desde março de 2021, devendo manter a Selic em patamar elevado por nove a 12 meses. “Uma piora nas expectativas de inflação pode fazer o BC dar um aperto maior de 0,50 ponto”, alerta.

Desde março de 2021, o BC já elevou a taxa básica de juros em 11,25 pontos percentuais.

O Fed ajudou o BC?

Para Camargo, da Genial, o aumento mais agressivo de juros pelo Federal Reserve nesta quarta – o banco central americano elevou a taxa dos Estados Unidos em 0,75 ponto – ajuda o Copom.

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“Uma parte importante da inflação brasileira é importada. A redução da alta de preços na maior economia do mundo ajuda o Brasil”, disse o economista, para quem a Selic só deve começar a cair no segundo ou no terceiro trimestre do ano que vem.

Impacto sobre os mercados

Com o BC colocando um teto para a próxima alta de 0,5o ponto, as taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais curtos podem recuar na sexta-feira, afirma Capusso, do Fator.

O executivo acredita que o real pode se valorizar, já que o BC manteve a porta aberta para a continuidade do ciclo de aperto monetário e o Fed destacou que a aceleração do ritmo de elevação de juros para 0,75 ponto foi um evento extraordinário e pode ser reduzido na próxima reunião de julho.

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