A guerra na Ucrânia teve um efeito rápido sobre o mercado de ações do Brasil, que foi beneficiado pela perspectiva de valorização das commodities enquanto durarem o conflito e as sanções econômicas à Rússia. No comércio brasileiro com o exterior, porém, o impacto deve levar mais tempo – pelo menos dois meses, segundo José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e desde então foi alvo de pesadas sanções econômicas que, na prática, passaram a dificultar as exportações do país. Os russos são grandes exportadores de petróleo, trigo e outras commodities, e o mercado procurou se antecipar à queda na oferta destes produtos apostando na alta de preços.
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Como a guerra na Ucrânia afeta as exportadoras de commodities brasileiras
O efeito mais evidente desta movimentação foi a elevação nos preços do petróleo. O barril, que custava perto de US$ 94 antes da guerra na Ucrânia, chegou a ultrapassar US$ 139 alguns dias após o conflito (alta de 48%) e agora opera perto dos US$ 116 (avanço de 23,4% ante o final de fevereiro).
Na balança comercial brasileira, porém, a oscilação percebida no preço é muito menor – alta de 9,1% entre o preço de fevereiro e o registrado em março até o final da semana passada, de acordo com dados do Ministério da Economia.
Castro aponta que os efeitos da guerra da Ucrânia sobre os preços só devem aparecer daqui a dois meses, no mínimo, e podem levar até seis meses para ser notados na balança comercial – em particular na importação, porque há produtos que aguardam muito tempo em estoque até serem distribuídos, como é o caso dos fertilizantes.
Volumes estáveis e preços em alta
Castro acrescenta que, no geral, os efeitos da guerra sobre os preços das commodities devem ser benéficos para a balança comercial brasileira, gerando um superávit, uma vez que as exportações de matérias-primas devem gerar uma receita maior. “A tendência esse ano é ter um aumento de preço e uma estabilidade no volume, principalmente nas commodities“, diz Castro.
Ele ressalta, entre os produtos da pauta de exportação brasileira, a soja, que enfrenta uma quebra na safra e deve ficar mais cara à frente. No caso de outras commodities, o cenário é mais incerto por causa da volatilidade gerada pela guerra.