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Fed é mais pedra no caminho de dólar baixo do que a eleição presidencial

Desaceleração na China e eleições são outros fatores que pesam contra a moeda brasileira

Maeli Prado

Maeli Prado

Foto: Shutterstock

Para onde vai o dólar é uma das tarefas mais difíceis de se prever, mas dessa vez o consenso é que fatores externos, mais precisamente o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, vão impedir uma queda significativa na cotação da moeda americana.

Embora os dados do mercado de trabalho americano tenham mostrado um aumento do desemprego, o que poderia indicar menor necessidade de alta na taxa básica da maior economia do mundo, a avaliação é que é difícil que haja espaço para a moeda ceder muito mais, caindo para abaixo dos R$ 5.

“A perspectiva ainda é de alta, devido ao cenário global em desaceleração ou até mesmo de recessão, em que os investidores tendem a buscar ativos em dólar para se proteger”, diz Eduardo Campos, diretor de câmbio do banco Daycoval.

O dólar Ptax (taxa de câmbio calculada pelo Banco Central) fechou nesta sexta-feira (2) a R$ 5,1878, uma leve queda de 0,2% em relação ao dia anterior.

Na última segunda-feira, o dólar até ensaiou ficar abaixo dos R$ 5, quando fechou a R$ 5,04, mas o movimento não se sustentou.  Ainda assim, no ano, a desvalorização da moeda americana é de 7%.

Uma das razões dessa desvalorização no ano é o diferencial de juros entre os dois países. Os juros no Brasil subiram em um ritmo acentuado, o que ajuda a atrair investidores estrangeiros. A taxa Selic está em 13,75% ao ano e os juros nos Estados Unidos estão entre 1,50% e 1,75% ao ano.

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No entanto, esse diferencial tende a ficar menor, já que o Federal Reserve (banco central americano) sinalizou que está disposto a continuar com o aperto monetário até conseguir controlar a inflação.

Outro ponto é o nível de incertezas no cenário global, com risco de desaceleração ou até mesmo recessão. Como esse movimento deve atingir a China, acaba sendo mais prejudicial às moedas de países exportadores de commodities, como o real brasileiro.

Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, afirma que o Brasil está bem posicionado na comparação com outros emergentes, principalmente após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. No entanto, a percepção de aumento de risco global limita a eventual atração de investidores.

“A alta dos juros americanos azeda o mercado de forma global, mas o Brasil ainda pode sofrer mais com uma desaceleração na China. A tendência é de depreciação do real”, diz.

Estrangeiros na Bolsa

Os dados da B3 mostram a entrada de investidores estrangeiros na Bolsa. Foram R$ 17,2 bilhões em agosto até o dia 30. No entanto, isso não significa que esse caminhão de dinheiro entrou no país, podendo ser apenas uma realocação – estrangeiros que estavam com dinheiro na renda fixa e decidiram migrar para ações.

E os dados do Banco Central mostram que parte desses recursos já estavam de fato aqui. O movimento de câmbio em agosto, até dia 26, era positivo em US$ 175 milhões na chamada conta financeira, que agrega as operações de entradas e saídas do mercado financeiro, o que representa menos de R$ 1 bilhão.

Já na conta comercial, fruto das exportações e importações, o resultado é negativo em US$ 265 milhões no mesmo período, o que leva a uma saída líquida de recursos do país de US$ 89 milhões no mês – mas ainda um saldo positivo de quase US$ 20 bilhões no ano, sustentado pela conta comercial.

Velloni acrescenta que embora o Brasil até possa atrair investidores de curto prazo, terá que lidar com uma contribuição menor da conta comercial.

“A aceleração da economia faz com que as empresas produzam mais e para isso é necessário insumos, a maior parte importados. O superávit da balança comercial tende a cair”, conta.

Renan Mazzo, head de câmbio da assessoria financeira SVN Investimentos, considera que se só o diferencial de juros determinasse a cotação do dólar, o dólar estaria entre R$ 4,25 e R$ 4,30. No entanto, esses outros fatores globais fazem “peso” e a balança não está muito favorável para o Brasil.

Nessa balança, além dos fatores externos, é levado em conta também as expectativas em relação ao país. Nesse sentido, a proximidade das eleições traz a certeza de volatilidade, que pode se acentuar se o vencedor da disputa para a presidência indicar um aumento de gastos muito maior do que o mercado espera.

“O cenário global joga contra, com inflação global e juros em alta nos Estados Unidos e Europa, mas tem ainda a eleição, em que a preocupação com o fiscal tende a aumentar com a proximidade do dia da votação”, diz.

Essa visão é compartilhada por Paulo Victor, gestor de varejo da Europa Câmbio. “A expectativa é de um mercado nervoso para os próximos meses. As eleições não são impeditivas [para o dólar cair], mas é um fator que contribui. Investidores e os mercados monitoram possíveis promessas dos principais candidatos que podem causar impactos econômicos e fiscais.”

Eleições demoram para fazer preço

Para o estrategista-chefe da Tullett Prebon, Vinicius Alves, as eleições presidenciais ainda não estão fazendo preço de forma significativa. E isso não só no dólar, mas no mercado em geral. Os juros futuros, por exemplo, só reagiram negativamente em alguns momentos, como quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu R$ 150 adicionais de Auxílio Brasil para famílias com crianças de mais de 6 anos.

“O mercado por enquanto joga com um cenário em que os dois candidatos são igualmente ruins para a política fiscal. Mas acho que vão começar a ter um pouco menos de complacência com o Lula daqui para a frente”, avalia. “Acredito que as eleições vão começar a fazer mais preço nessa reta final da campanha.”

Apesar disso, o estrategista da Tullett Prebon acredita que, se o favoritismo de Lula se mantiver nas próximas semanas, é preferível, do ponto de vista do mercado, que o ex-presidente tenha uma vitória mais folgada.

“Em um cenário que o Lula ganha por uma margem apertada, a divisão da população apareceria mais, com grandes protestos, por exemplo. E ele tenderia a tomar medidas mais hostis aos mercados. Se a margem for folgada, poderia significar um waiver [licença] para gastar, mas seria um pouco melhor, porque daria a ele espaço para uma postura mais pragmática.”

O impacto pequeno da campanha eleitoral sobre os preços até agora está relacionado com a visão de que tanto o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), quanto Lula serão ruins para a política fiscal. Se Lula vencer, a tendência é que aumente gastos, mas ao mesmo tempo eleve impostos, se comprometendo com alguma regra fiscal.

No caso do atual presidente, a preocupação é com o orçamento secreto e com a possibilidade de o Centrão ganhar ainda mais influência em um eventual novo governo, ainda mais considerando-se que o grupo de parlamentares aprovou uma série de projetos de interesse do governo.

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