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Boletim Focus: quais foram os maiores erros e os principais acertos do mercado em 2022?

Em ano de invasão da Ucrânia e com China crescendo menos, inflação, juros, PIB e dólar surpreenderam analistas

Foto: Shutterstock/Jo Panuwat D

Quando 2022 começou, a variante Ômicron impulsionava uma nova disparada de casos de Covid-19 pelo mundo e grandes economias começavam a subir juros, prenunciando um cenário externo ruim. Na época, tudo apontava para a economia brasileira crescendo muito pouco este ano, com uma inflação elevada obrigando o Banco Central a subir ainda mais a Selic.

No primeiro Boletim Focus do ano, a expectativa dos analistas ouvidos semanalmente pelo BC era de que o PIB (Produto Interno Bruto) crescesse somente 0,28% em 2022. A inflação projetada era de 5,03% para o ano, e os juros básicos chegariam a 11,75% em dezembro, com o dólar se mantendo ao redor dos R$ 5,60.

Com o passar dos meses, uma série de acontecimentos de peso foi mudando esse cenário, e o ano de 2022 vai chegando ao fim com os economistas estimando uma alta de 3,05% da atividade,  dólar a R$ 5,25 e a Selic em 13,75%, como já decidido pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) na última reunião do ano.

A projeção para a inflação não ficou tão fora do esperado, com os analistas do Focus esperando agora uma alta de preços de 5,76% em 2022. Ao longo do ano, contudo, a estimativa chegou a ultrapassar os 8%.

Choques no IPCA e redução do ICMS

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial do Brasil, sofreu dois choques fortes e sucessivos no início de 2022, em um cenário já inflacionado pela pandemia. A invasão da Ucrânia pela Rússia aconteceu em fevereiro, reduzindo a oferta de matérias-primas e bagunçando as cadeias globais de oferta de suprimentos.

Os preços dispararam, em um cenário que foi reforçado logo depois pela onda sem precedentes de Covid-19 na China, que levou a segunda maior economia do mundo a reforçar os rigorosos lockdowns para conter o avanço da doença.

No fim de junho, os analistas do Focus já projetavam uma inflação de 8,27% para este ano.

A disparada nos preços foi contida em meados de 2022, mas de uma forma artificial. Em ano de eleições, o Congresso aprovou um projeto estabelecendo um teto de 17% para a alíquota do ICMS de combustíveis, energia e telecomunicações.

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“A composição do IPCA surpreendeu. A inflação deveria ter vindo mais alta, mas ficou mais baixa por causa das medidas de redução de impostos para alguns produtos”, aponta Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.

A partir de julho, o IPCA teve três meses seguidos de deflação. Passado esse efeito, os preços têm se mostrado mais comportados neste fim de ano, com o efeito da alta de juros brasileiros finalmente chegando à ponta e em um cenário de desaceleração da economia global.

BC nadando contra a corrente

A escalada da inflação ao longo do primeiro semestre e o aumento de gastos públicos pelo governo forçou o Banco Central a ir além do que pretendia.

Em julho, poucos meses antes das eleições presidenciais, o Congresso aprovou a ampliação do valor do Auxílio Brasil a R$ 600, zerou a fila dos que aguardavam o benefício e instituiu um auxílio de R$ 1 mil a caminhoneiros, entre outros gastos.

Nesse contexto, o Banco Central, que começou a subir os juros em março de 2021, com a Selic no piso histórico de 2%, foi obrigado a levar a taxa básica aos atuais 13,75% ao ano, dois pontos percentuais acima do projetado em janeiro.

O ciclo foi encerrado somente em setembro, com o colegiado nadando contra a corrente: enquanto subia juros para tentar conter a alta de preços, o governo aprovava elevação de despesas, driblando o teto de gastos.

“A gente não contava com o advento da guerra da Rússia e da Ucrânia, que estourou no final de fevereiro e teve impacto nas commodities. Os custos ficaram mais altos da noite para o dia, e o BC teve que que subir os juros em consequência”, lembra Mauricio Une, economista-chefe do Rabobank.

PIB surpreende (e muito) para cima

Além do vai e vem do IPCA, os economistas foram surpreendidos pelo desempenho da atividade econômica brasileira. O Brasil conseguiu reabrir a economia após vacinar sua população, e o efeito rebote foi muito maior do que o esperado, em especial em serviços.

Com a reabertura, o setor, que responde por cerca de 70% do PIB, vem se expandindo a taxas robustas desde maio – lembrando que em julho esse processo ganhou tração com a aprovação no Congresso da ampliação do valor do Auxílio Brasil a R$ 600.

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Há outro fator de peso que contribuiu para a melhoria do PIB: a escalada nos preços das matérias-primas ajudou o agronegócio brasileiro.

“Na primeira metade do ano, as commodities tiveram um forte aumento por causa do conflito na Ucrânia. Mas ao mesmo tempo, quando as cotações de matérias-primas sobem, isso costuma ser bom para o Brasil”, explica Salles, do C6 Bank.

Para Une, do Rabobank, o apagão estatístico do Banco Central, causado pela greve dos servidores da autoridade monetária, ajudou a dificultar as projeções.

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“Ficamos sabendo depois o que estava acontecendo. A poupança acumulada pelos brasileiros na pandemia foi sendo usada ao longo do ano, o que também ajudou a estimular o PIB.”

Dólar subiu menos que o esperado

Em ano de eleições presidenciais, os economistas ouvidos pelo Focus esperavam que o dólar pelo menos mantivesse o elevado patamar de R$ 5,60 do início do ano.

A disparada das commodities com a invasão da Ucrânia, entretanto, acabou elevando a entrada de recursos no Brasil, ajudando a conter a alta da moeda americana e derrubando a cotação abaixo de R$ 5 no primeiro semetre.

Apesar de a divisa americana ter voltado a subir no segundo semestre, o cenário melhorou nas últimas semanas com três fatores: a redução da volatilidade eleitoral, os sinais de que o Federal Reserve, o banco central americano, vai reduzir o ritmo de aumento de juros nos EUA e as indicações de que a China vai diminuir as restrições por causa da Covid.

“Tivemos um fortalecimento expressivo do dólar no segundo semestre. Com o fim do processo eleitoral e da volatilidade que ele traz, poderemos ver o ano terminando com o dólar em R$ 5,30”, avalia Une, do Rabobank.

Em meio à incerteza elevada de qual deve ser a política fiscal do novo governo, 2023 também deve ser um ano difícil de prever. Por enquanto, os analistas ouvidos na pesquisa Focus esperam uma alta de 5,17% no IPCA, alta de 0,79% do PIB, câmbio de R$ 5,26 e juros básicos em 11,75%.

 

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