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Análise: Qual recado Campos Neto, do BC, quis passar ao mercado – e como investidores reagiram

Campos Neto indicou que a instituição olhará uma meta de inflação mais folgada para 2023

Foto: Agência Brasil

Em entrevista coletiva à imprensa nesta quinta-feira (23), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou que o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) buscará uma meta de inflação mais folgada para o final de 2023, período que o colegiado está considerando atualmente para definir a taxa de juros.

Oficialmente, a meta de inflação do ano que vem é de 3,25% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Isso significa que o BC deve agir de forma a garantir que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) esteja subindo neste ritmo em dezembro de 2023.

No entanto, Campos Neto disse que o colegiado, na prática, vai trabalhar com uma “meta secundária”, maior do que a atual, e por isso mais fácil de ser atingida.

“Olhamos o balanço de riscos, como ele influencia nas decisões futuras, e estamos perseguindo um número ao redor. Explicitamos hoje que esse número é menor que 4%.”

Os juros futuros caíram – e a bolsa subiu – após a fala inicial do presidente do BC, pois uma meta mais frouxa de inflação, em tese, exigiria menos rigor da instituição em sua tentativa de manter o poder de compra da população.

O recado, no entanto, veio acompanhado de declarações que contradizem este cenário. Campos Neto deixou claro que as metas oficiais de inflação, que serão discutidas hoje, continuarão iguais. Além disso, ressaltou que os canhões do BC estão voltados para derrubar a inflação até 2023, sem deixar parte do trabalho para 2024.

Isso, somado a notícias de que o governo elevará o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 – o que, em termos práticos, estimulará o consumo e dificultará o trabalho de controle dos preços feito pelo BC -, fez o alívio do mercado durar pouco.

No início do pregão, os contratos de juros futuros para janeiro de 2023, os mais líquidos do pregão, apontavam taxa de 13,56%. Ela chegou a cair para 13,49% após as declarações de Campos Neto, e terminou o dia perto de 13,52%.

No mercado de ações, o Ibovespa chegou a operar em alta durante as declarações do presidente do BC, mas posteriormente perdeu força diante dos sinais mistos apresentados pelas autoridades. No câmbio, o movimento foi inverso: o dólar recuou para R$ 5,18 no início das declarações e depois não parou mais de subir, chegando a R$ 5,24 no mercado futuro da B3.

Saiba mais: 
“Meta secundária”: BC persegue inflação abaixo de 4% em 2023, diz Campos Neto

Veja abaixo os seis principais pontos abordados por Campos Neto na entrevista desta quinta-feira, que antecipou alguns números do Relatório Trimestral de Inflação. A publicação foi adiada para o o próximo dia 30 por causa da greve dos servidores do BC.

1. BC só está olhando 2023

O presidente do BC afirmou que o Copom só está olhando a meta de inflação para 2023, e não a de 2024 também. Isso significa que, ao definir as taxas de juros, ainda está considerando que precisa cumprir a meta de inflação até o final do ano que vem.

Ele acrescentou que as menções a 2024 nos comunicados divulgados pelo Copom foram incluídas por causa da elevada incerteza. Parte dos analistas de mercado vinham avaliando que o comitê havia desistido de cumprir o objetivo do ano que vem em função dos sucessivos choques inflacionários, como guerra entre Rússia e Ucrânia e lockdowns na China.

A projeção do mercado para o IPCA de 2023 já está em 4,70%. Ou seja, quase no teto da meta, que é de 4,75%.

2. Juros ficarão elevados por um longo tempo

Tanto o presidente do BC como o diretor de Política Econômica da instituição, Diogo Guillen, reafirmaram a mensagem da ata da última reunião, de que a Selic se manterá em um patamar elevado por um longo tempo.

Leia mais: 
Ata do Copom indica juros altos por mais tempo para levar inflação à meta

Guillen declarou, inclusive, que considera “muito forte” um cenário em que a Selic se mantém no patamar atual até 2024 – ou seja, ele acha que esta é uma grande probabilidade, o que diverge das expectativas da maioria do mercado, de que os juros poderiam começar a cair em meados do ano que vem.

3. Metas oficiais de inflação seguirão intactas

Campos Neto ainda foi questionado sobre a reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) nesta quinta para decidir a meta de inflação para 2025. O conselho, formado pelo Ministério da Fazenda, Banco Central e Secretaria Especial do Tesouro, pode ainda revisar os objetivos de 2022, 2023 e 2024, o que é considerado pouco provável pelo mercado.

Ele indicou que essas mudanças não devem acontecer. “Modificar uma meta de curto prazo, que não está no horizonte relevante, não faz sentido. Modificar uma meta de longo prazo que não está no horizonte relevante e na qual a inflação está dentro da meta, não faz sentido”.

4. Cenário fiscal preocupa, mas ainda não é palpável

O comandante da autoridade monetária disse ainda que o Copom não incluiu em seus balanços de risco as propostas do governo para reduzir os preços dos combustíveis, como a chance de ressarcimento aos estados que zerarem o ICMS, porque essas medidas ainda não se concretizaram.

“Importante dizer que o Banco Central não faz política fiscal nem previsão de política fiscal. Não comenta especulações ou medidas que nem foram concluídas”, disse.

5. Medo de recessão no mundo

Tanto Campos Neto como Guillen apontaram que o cenário internacional continua bastante preocupante em termos de projeções de inflação e de juros.

Na semana passada, o Federal Reserve, o banco central dos EUA, acelerou o passo e elevou a taxa básica americana em 0,75 ponto, uma alta maior do que vinha sendo esperado.

“Vamos passar por um período de crescimento mais baixo e inflação mais alta, e é preciso ver como isso vai ser incorporado pelos mercados. Hoje há uma sincronia global de apertos monetários, e isso adiciona riscos ao cenário”, disse o diretor do BC.

6. Greve dos servidores

Sobre a greve dos servidores por reajuste salarial, o presidente do BC afirmou que há atrasos na divulgação de dados e informações da instituição por causa da paralisação, que dura quase três meses. O Boletim Focus, por exemplo, com as expectativas do mercado para juros, inflação, câmbio e PIB (Produto Interno Bruto), não é mais divulgado semanalmente.,

“Estou trabalhando para resolver a greve rapidamente”, declarou, ressaltando que há limitações para reajustes por causa das limitações de gastos no Orçamento.

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