Por que as ações da WEG (WEGE3) caíram mesmo com o maior crescimento da história

Um dos chamarizes da companhia é seu ROIC, que encerrou 2021 em expressivos 30,5%

Foto: Divulgação

Uma das queridinhas da Bolsa brasileira, a WEG (WEGE3) apresentou seu resultado do quarto trimestre de 2021 na manhã de ontem. O crescimento do ano passado levou a empresa ao maior patamar de sua história, mas mesmo assim as ações da companhia tiveram forte queda

Na teleconferência de resultados, realizada na manhã desta quinta-feira (17), os executivos da WEG tentaram explicar as razões pelas quais os investidores se mostraram mais receosos.

Chamada de “reloginho”, a WEG tem reportado sólidos resultados, trimestre a trimestre, há anos, majoritariamente batendo as expectativas do mercado. 

Um dos chamarizes da companhia é seu ROIC (Retorno sobre Capital Investido), um dos motores para a criação de valor, que encerrou 2021 em expressivos 30,5%, cinco pontos percentuais acima do reportado um ano antes.

O CEO da empresa, Harry Schmelzer Jr, disse na teleconferência que é difícil fazer uma projeção para o ROIC de longo prazo, dada as particularidades do negócio, como câmbio e atuação sobre variadas economias.

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A expectativa da companhia sediada em Jaraguá do Sul, contudo, é que a rentabilidade sobre capital se mantenha acima do patamar pré-pandemia. Em 2019, a WEG encerrou o ano com ROIC de 14,94%. 

Entre outubro e dezembro do ano passado, a empresa lucrou R$ 874 milhões, aumento de 17,8% em comparação ao mesmo trimestre de 2020. A Receita Operacional Líquida (ROL) foi de R$ 6,54 bilhões, alta de 33,7% na mesma base comparativa.

Por que, então, o mercado penaliza as ações da WEG? Ontem, a queda foi de 4,81%, ao passo que por volta das 12h20 desta quinta, os papéis caíam 0,64%, para R$ 31,10. 

Como as margens podem ser recompostas

O principal fator de preocupação dos investidores diz respeito à queda das margens da empresa. Na comparação entre o quarto trimestre de 2021 e de 2020, a margem líquida caiu 1,8 ponto percentual, ao passo que a margem Ebitda recuou 2,9 pontos percentuais.

O vilão dos últimos trimestres tem sido o aumento dos custos das matérias-primas. A dinâmica aquecida da demanda global por commodities acaba afetando os negócios da WEG.

Os custos dos produtos vendidos subiram 43,7% em 12 meses, para R$ 4,72 bilhões no quarto trimestre de 2021. Destaca-se a maior pressão sobre os preços de aço e cobre e a necessidade da alteração do mix de produtos no trimestre.

Vale ressaltar que o avanço é consideravelmente maior do que a melhora da ROL. Isso também pressionou a margem bruta, que mostra quando a empresa efetivamente ganha com a venda de seus produtos, que caiu de 32,6% para 27,6%. 

A lenta desaceleração das margens da Weg nos últimos trimestres

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

A WEG procurou acalmar os ânimos do mercado e disse que as margens sempre são analisadas com a visão de períodos longos. A consciência é de que haverá volatilidade, mas a entrega deve ser pensada no longo prazo. 

Hoje, os motivos que pressionam a companhia são os mesmos dos últimos trimestres, com o aumento dos custos. A recomposição da margem bruta pode ser realizada com o ajuste de preços em produtos de ciclo curto, como já tem sido feito desde 2020, segundo a empresa.

Já para os produtos de ciclo longo, a recomposição dessa margem é mais complicada por via de repasse de preços, já que suas atividades estão condicionadas a projetos e investimentos mais duradouros. 

André Rodrigues, Diretor Administrativo Financeiro, afirmou que a Weg não possui guidance para a margem bruta, mas a ideia é manter-se acima da média do mercado nos próximos trimestres. 

Investimentos não devem desacelerar no curto prazo

Apesar da conjuntura econômica mais difícil, a WEG não planeja tirar o pé do acelerador. A empresa prevê um orçamento de capital de R$ 1,5 bilhão em 2022, um pouco menos do dobro do executado no ano passado.

Vale ressaltar que o Capex (aporte em bens de capital, necessário para a manutenção e ampliação das operações da empresa) dos últimos anos está levemente acumulado, então este ano deve reservar fortes investimentos. 

A ideia da empresa é suportar a expansão da capacidade produtiva – que atingiu o maior patamar de sua história em 2021. No longo prazo, segundo a empresa, a expectativa é que a proporção do Capex ante a ROL seja menor do que a média de 3% a 5% dos últimos anos. 

Vale a pena investir na WEG?

A WEG é uma das melhores empresas da Bolsa. Provada no tempo, a companhia consegue rentabilizar suas operações acima do custo de capital, atuando sobre setores com alta margem de crescimento.

As atividades ligadas à geração solar tiveram um forte desempenho ao longo de 2021 no Brasil, e agora a empresa pensa em internacionalizar as operações para a América Latina. 

Além disso, os executivos da empresa também revelaram na teleconferência que os segmentos de armazenamento de energia e negócios digitais estão no radar para os próximos anos, com a constante procura por diversificação das operações. 

A necessidade por capital de giro aumentou no quarto trimestre do ano passado, em função da inflação implícita dos estoques, pressionada pela alta volatilidade nos preços das commodities. 

A empresa, então, teve um comportamento conservador e se protegeu para os próximos meses, mesmo que isso tenha significado uma queda na geração de caixa das atividades operacionais no período. 

Porém, tudo diz respeito ao preço. Atualmente, a WEG é negociada próxima do menor patamar dos últimos dois anos. O múltiplo preço/lucro está na casa das 36 vezes, enquanto a média dos últimos três anos foi de um múltiplo de 51 vezes.

O perfil da empresa é considerado defensivo, mas o preço parece alto para uma empresa que – de forma eficiente – tem elevado sua receita em 12,3% ao ano na média ponderada dos últimos cinco anos.

Tais incertezas levam à disparidade de projeções entre analistas do mercado. Dados compilados pelo Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, mostram 13 recomendações sobre a empresa.

Dessas, cinco são de compra. Outras cinco indicações apontam para a manutenção das ações, enquanto três analistas recomendam vender as ações. 

O valor justo mediano apontado pelos analistas é de R$ 44, um upside de 41% sobre a cotação atual. Esse potencial é tímido em relação à valorização de 991% das ações nos últimos 10 anos.

O panorama demonstra que não há deterioração da qualidade da WEG, mas sim a precificação das avenidas de crescimento de forma antecipada à entrega. Quando as projeções dos analistas são atingidas, e não mais ultrapassadas com folga, o mercado fica com um pé atrás.

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