A Bolsa é feita de narrativas. Entre elas, a dicotomia entre o investimento em valor e o investimento em crescimento. O que fazer quando uma empresa se encaixa em ambos os rótulos e tem consistentemente batido as previsões de mercado? Mesmo sendo o caso, a Weg (WEGE3) nunca foi consenso entre os investidores.
A companhia, sediada em Jaraguá do Sul (SC), tem passado por momentos de instabilidade na Bolsa, embora siga forte sob o ponto de vista operacional. Os papéis, que dispararam de forma assustadora nos últimos cinco anos, andam de lado desde meados de 2020.
O investimento em WEGE3 se confunde com exposição à tecnologia inovadora, diversificação global e alto crescimento junto com rentabilidade elevada. Mas a que preço? Ainda vale a pena investir na Weg?
Algumas razões podem explicar a desaceleração da Weg na B3, que sempre foi considerada “reloginho”, superando as expectativas.
Desempenho das ações da Weg (em verde) e do Ibovespa (em amarelo) nos últimos 12 meses

Onde está o dinheiro dos investidores
A companhia catarinense talvez seja menos próxima do consumidor final. O cotidiano da sociedade está cercado por grandes bancos como Itaú (ITUB4), a gigante Ambev (ABEV3), a estatal Eletrobras (ELET3), entre outros nomes.
Contudo, poucas empresas têm um histórico tão robusto como a Weg. Em 60 anos de vida, a Weg acumula mais de um milhão de metros quadrados construídos. Possui filiais em 36 países, fábricas próprias em 12 geografias diferentes e exporta para mais de 130 países.
No terceiro trimestre deste ano, de toda a receita da empresa, 52% era oriunda do exterior e 48% do Brasil. Da fatia do exterior, boa parte já é produzida fora das fronteiras brasileiras, onde a empresa pisou pela primeira vez na década de 1970.
Em suma, os negócios são concentrados em quatro frentes (correspondentes à receita):
- Equipamentos eletroeletrônicos industriais (47,6%);
A operação consiste na construção de motores elétricos, drives e equipamentos e serviços de automação industrial e serviços de manutenção. Contemplam o ciclo curto da empresa.
- Geração, transmissão e distribuição de energia (GTD) (37,1%);
No segmento, as atividades inclusas são da produção de geradores elétricos para usinas hidráulicas e térmicas (biomassa), turbinas hidráulicas (PCH e CGH), aerogeradores, transformadores, subestações, painéis de controle e serviços de integração de sistemas. Faz parte do chamado ciclo longo de operação.
- Motores comerciais e appliance (10,7%);
Aqui, as atenções estão voltadas aos motores monofásicos para bens de consumo duráveis. Exemplos são lavadoras de roupas, aparelhos de ar condicionado, bombas de água, entre outros.
- Tintas e vernizes (4,6%).
Nesta frente de negócio, a empresa foca em aplicações industriais no mercado brasileiro, América Latina e outras regiões. O segmento inclui tintas líquidas e em pó, além dos vernizes eletro-isolantes.
Embora não seja uma grande pagadora de dividendos, atualmente a Weg tem um payout de cerca de 50%, ou seja, distribui aos investidores metade do que lucra.
Histórico recente justifica disparada das ações
Em termos de números, a Weg apresentou forte crescimento na última década. A receita líquida acumulada de 12 meses saiu de R$ 5,42 bilhões no início de 2012 para R$ 21,91 bilhões em setembro deste ano.
O avanço de 304% no faturamento da empresa nesse período foi impulsionado por uma série de movimentações inorgânicas, por meio da aquisição de empresas na Dinamarca e Alemanha, por exemplo, até abertura de filiais na América Latina e início dos negócios em geração de energia eólica.
Saiba mais: Weg lucra R$ 812,9 milhões no terceiro trimestre
O crescimento do lucro foi ainda maior que o da receita. Na mesma base comparativa, o crescimento foi de 412,6%, de R$ 634 milhões para R$ 3,25 bilhões. A Weg não tem prejuízo anual desde 2006.
Inevitavelmente, isso trouxe melhora na margem líquida da companhia.
Evolução do lucro líquido e margem líquida desde 2012

Especificamente no terceiro trimestre deste ano, a companhia reportou um lucro de R$ 812,9 milhões, alta de 26,2% em um ano, um número entre 5% e 10% acima da expectativa de analistas.
Por que a Weg parou na Bolsa
Uma das razões pelas quais os investidores têm mantido um pé atrás com a Weg é o aumento nos custos de matéria-prima. Neste sentido, aço e cobre pressionaram o resultado da empresa.
Os custos dos produtos vendidos atingiram R$ 4,41 bilhões, alta de 34,1% em 12 meses e avanço de 10,2% na comparação trimestral.
Com isso, a rentabilidade da Weg sofreu. O Retorno sobre Capital Investido (ROIC, na sigla em inglês), importante indicador para a empresa, caiu 0,9 ponto percentual na comparação com o trimestre imediatamente anterior, ficando em 31,3%.
ROIC diminui ritmo de crescimento, mas permanece em alto patamar

Além disso, a margem Ebitda, que demonstra a eficiência operacional da companhia, também caiu, saindo de 24,2% para 18,5% em três meses.
As despesas de vendas, gerais e administrativas (VG&A) consolidadas totalizaram R$ 663,6 milhões entre julho e setembro deste ano, um aumento de 17,5% sobre o mesmo período do ano passado.
Contudo, em relação à receita da empresa, esse montante equivale a 10,7%, 1,1 ponto porcentual abaixo da mesma relação um ano antes. Ou seja, a operação da Weg gerou mais receita do que demandou despesas.
Embora a queda – ou a desaceleração – na Bolsa seja excessiva dado o histórico da Weg, é menor que o recuo do Ibovespa no ano. Enquanto os papéis da companhia caem cerca de 6% no acumulado de 2021, o índice cai 9%.
A queda também tem relação com as expectativas do mercado. Após anos consecutivos batendo projeções, a companhia parece estar em linha com o esperado pelos analistas, deixando de surpreender positivamente. Quando o crescimento já está contratado, a resposta negativa recai sobre as ações.
Ainda vale a pena investir na Weg?
A Weg é uma empresa com avenidas de crescimento muito claras. Entre elas:
- Proximidade à mudança da matriz energética global, com exposição a energias renováveis e eficiência energética;
- Mobilidade elétrica;
- Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) e automações.
Nos dois primeiros tópicos, o caminho é sem volta: o Brasil e o mundo estão trilhando uma rota em direção à redução da degradação do meio ambiente.
Na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26), realizada no mês passado na Escócia, o País assumiu o compromisso de mitigar 50% de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2030.
Nesse sentido, essas duas avenidas colocam a empresa na dianteira. A Weg tem trabalhado junto à Volkswagen no segmento de propulsão para veículos elétricos. A empresa fabrica o sistema Powertrain principal, um motor elétrico, dos caminhões e-Delivery.
Porém, as estimativas ainda não são claras. A companhia pouco divulga os números de seus projetos incipientes.
De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 2035 até 62% da frota total de veículos no Brasil pode ser elétrica. Hoje, porém, apenas 18,5% são comerciais, e ao longo dos próximos anos essa proporção pode diminuir com o fim da crise global dos semicondutores. Por ora, a Weg não demonstra interesse em entrar no mercado de carros de passeio.
Trata-se de muito potencial, porém com alto grau de incerteza para um incremento que pode ser marginal nos resultados da empresa no médio prazo.
Em função disso, mesmo sendo uma empresa considerada defensiva, Weg é precificada como um ativo de alto crescimento.
Portanto, mesmo mostrando resultados ainda sólidos, a empresa tende a sofrer com a variação na política monetária no Brasil e no mundo, sobretudo na precificação das ações em Bolsa.
Os papéis negociam com a expectativa pela criação de novas linhas de receita – colocando parte do valor da empresa no futuro – pois o resultado atual já está precificado no papel. E já foi mais intenso.
Atualmente, os múltiplos da Weg estão abaixo da média dos últimos 36 meses. A razão entre o preço e o lucro (P/L) está em 42,29 vezes, sendo que nos últimos três anos girou em torno de 50 vezes.
Segundo dados compilados pelo Refinitiv, disponibilizados na plataforma do TradeMap, a empresa está negociando a 45 vezes os lucros esperados para o ano que vem, na estimativa mediana.
Histórico do múltiplo preço/lucro

Os analistas ouvidos se dividem em relação às ações da empresa. De 14 recomendações, seis são de compra, cinco de manutenção das ações e três de venda.
Entre os especialistas, há quem ache que as ações valem R$ 60 (upside de 68%) ou até quem enxerga que as ações poderiam cair para R$ 29. Na mediana, o preço-alvo é de R$ 44, ou 25,7% maior que o preço atual, próximo de R$ 35.

No investor day deste ano, os executivos da empresa reiteraram que a empresa continuará elevando a receita em dois dígitos por ano nos próximos anos (entre 1997 e 2020, o crescimento foi na ordem de 17% a.a.)
Mesmo assim, com os potenciais relativamente precificados e sem alavancas de curto prazo, é provável que a ação da Weg tenha um desempenho em linha com o mercado, ou market perform, nos próximos meses – o que torna a companhia um bom investimento, mas não para quem espera surfar com uma grande valorização do papel no curto prazo.