Vale a pena comprar Vale e Itaú por meio de Bradespar (BRAP4) e Itaúsa (ITSA4)?

O mercado atribui um desconto de holding em função de algumas características específicas do negócio

Foto: Shutterstock

Duas das maiores empresas da Bolsa brasileira, Vale (VALE3) e Itaú (ITUB4), são grandes queridinhas dos investidores – seja dos gurus ou dos novatos no mercado.  

Líderes de seus setores no Brasil, as companhias costumam ser vacas leiteiras para investidores que anseiam por dividendos e, para quem procura valor, Vale e Itaú também possuem sólidas avenidas de crescimento, mesmo que em ritmo cadenciado. 

Porém, tudo se trata de preço. O ato de investir remete à alocação de capital em um ativo depreciado em relação ao seu valor intrínseco, o que perfaz o potencial de valorização.  Na prática, quanto mais barato custar, melhor. 

É possível adquirir ações da Vale e do Itaú de forma mais barata do que através dos tickers VALE3, ITUB3 ou ITUB4.

A escolha pela aquisição das ações dessas empresas por meio de holdings pode fazer sentido, tanto para o investidor pessoa física como para grandes institucionais. 

Esse é o caso da BlackRock, a maior gestora de ativos do planeta, que na última semana ampliou sua participação na Bradespar. A holding, por sua vez, possui uma fatia relevante na Vale. 

Compensa adquirir as ações da mineradora através da holding?

O que é uma holding

Uma holding nada mais é que uma empresa que possui participações acionárias em outras companhias. 

Essas fatias podem ser pequenas, a ponto da holding integrar o quadro de acionistas como qualquer outro, ou proporcionar o controle de empresas, por meio de participações majoritárias.

Com isso, existem ramificações dos tipos de holdings. São elas:

  • Holding tradicional;
  • Holding mista;
  • Holding familiar;
  • Holding de controle;
  • Holding administrativa;
  • Holding de participação;
  • Holding patrimonial.

Em suma, a atividade da holding, que tem seu nome baseado no inglês to hold, sustenta a operação de outras empresas que fazem parte de seu guarda-chuva. 

Os negócios de uma holding têm por característica serem administrativos, otimizando a estrutura tributária, fomentando sinergias entre as empresas irmãs. A depender do caso, também serve para proteção e sucessão patrimonial, além de preservação das próximas empresas. 

O caso de Bradespar e Itaúsa

A Bradespar (BRAP4) é uma holding que surgiu de uma cisão do Bradesco no início do século. A ideia da empresa sempre foi gerir as participações acionárias da instituição em empresas que não fazem parte do espectro financeiro.

Há três anos, a Vale se tornou o único ativo investido da Bradespar. De acordo com a holding, a estratégia de investimento está focada em criar valor para seus acionistas e, na prática, isso se traduz na participação ativa na mineradora.

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Até 2019, a holding era controladora da Vale, mas um acordo de acionistas transformou a mineradora em uma corporation, ou seja, sem controlador definido e com a maior parte de suas ações em negociação no mercado. 

Recentemente, a Bradespar reduziu sua participação na Vale. A fatia saiu de 5,73% para 3,34% do capital da mineradora, o equivalente a US$ 15,60 bilhões. O valor de mercado da holding, contudo, está na casa dos R$ 12,40 bilhões. 

Como a Bradespar é composta inteiramente por ações da Vale, portanto, adquirir as ações da holding é como comprar os papéis da mineradora com desconto, que hoje está em 20,51%. 

Essa foi a brecha encontrada pela BlackRock para aumentar sua posição na Bradespar. Atualmente, a gestora possui 10,08% do total da holding. 

A geração de receita da Bradespar vem inteiramente da equivalência patrimonial através desta participação. Como acionista, a holding também recebe os gordos dividendos da Vale, e os distribui aos seus investidores. 

DY da Bradespar acompanhou a volatilidade dos dividendos da Vale na última década

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

A mega holding Itaúsa

Diferentemente da Bradespar, a Itaúsa já é um dos maiores grupos empresariais do Brasil. A companhia detém participações em sete empresas. São elas:

  • Itaú, o maior banco do Hemisfério Sul;
  • XP, resultado da cisão da participação do Itaú na fintech. Tem R$ 815 bilhões sob custódia;
  • Alpargatas, dona da Havaianas;
  • Dexco, grande produtora de painéis de madeira, antigamente conhecida como Duratex;
  • Aegea, companhia de saneamento, atuante no setor privado brasileiro. Entrou para o portfólio em 2021;
  • Copa Energia, uma das líderes no mercado de engarrafamento, distribuição e comercialização de GLP (gás liquefeito de petróleo);
  • NTS, transportadora de gás natural através de gasodutos no Sudeste brasileiro.

A soma monetária das participações acionárias da holding, com base no portfólio atual – dado que a Itaúsa objetiva aumentar sua carteira – fica em torno de R$ 113 bilhões, incluindo outros ativos e passivos. 

O valor de mercado da empresa, todavia, é de R$ 95,7 bilhões, desconto de 15,30% ante a soma das partes.

Em 2021, o resultado da Itaúsa esteve 88% ligado ao balanço do Itaú, com R$ 10,51 bilhões dos R$ 11,81 bilhões de resultado recorrente oriundo da instituição financeira. 

Como o Itaú, a Itaúsa viu seu lucro se recuperar da queda durante a pandemia

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

De acordo com o CEO da Itaúsa, Alfredo Setubal, a intenção da companhia é, dentro do setor financeiro, voltar suas atenções apenas ao Itaú, e que mesmo com a diversificação que tem sido buscada, a participação no banco continuará relevante.

Com isso, os investidores podem auferir que comprar Itaúsa, atualmente, é muito próximo de adquirir as ações do Itaú com desconto de 15%. Essa “barganha” já foi maior, na casa dos 23% no fim do ano passado.

Por que existe o desconto de holding

O mercado atribui um desconto de holding em função de algumas características específicas do negócio. 

Os investidores tendem a levar em consideração possíveis ineficiências tributárias, free float restrito (o que pode prejudicar a liquidez), despesas operacionais para sustentação da holding, além de eventuais desdobramentos judiciais que envolvem as participações acionárias.

Esses pontos também somam-se aos riscos de cada empresa: a Bradespar está ligada ao preço do minério de ferro e as ações da Itaúsa à concorrência dos bancos digitais, por exemplo.

Portanto, o investidor deve ter a consciência de que o valor de mercado da holding dificilmente atingirá a soma das partes detidas no portfólio. Se chegar, ou quem sabe ultrapassar, deixará de ser um bom negócio, dado os riscos adicionais. 

Contudo, em momentos de descolamento do mercado, quando o desconto fica maior do que as médias históricas, trata-se de uma boa oportunidade de investimento. Nos casos de Vale e Itaú, é um caminho para adquirir ações bem posicionadas para o longo prazo a preços mais acessíveis. 

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