Tem sido repetitivo. Na última terça-feira (28), a Petrobras (PETR4) anunciou mais um desinvestimento. Desta vez, a petroleira alienou 27 concessões terrestres de exploração e produção, no Espírito Santo.
No negócio, a Petrobras recebeu US$ 38 milhões (R$ 216,52 milhões), sendo que US$ 118 milhões (R$ 672,16 milhões) ainda estão pendentes, relacionados ao preço futuro do petróleo.
Como de praxe, a empresa informou que a operação está alinhada à estratégia de gestão de portfólio e à melhora da alocação do capital da empresa, com o objetivo de maximizar o maior retorno à sociedade.
Até o dia 7 de dezembro, a empresa havia realizado a venda de 17 ativos e a conclusão de 14 processos de desinvestimento ao longo de 2021. Isso trouxe US$ 4,8 bilhões (R$ 27,32 bilhões) ao seu caixa.
Esse foi, definitivamente, o ano em que a Petrobras voltou aos trilhos. A empresa fez questão de enfatizar que concentra seus recursos em ativos de águas profundas e ultraprofundas, onde possui maiores vantagens competitivas, matéria-prima de maior qualidade e que degrada menos o ambiente.
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Não obstante, ao longo de 2021 foram recuperados R$ 6,17 bilhões por meio de acordos de colaboração, leniência, repatriações e renúncias em decorrência de processos judiciais.
Após iniciarem o ano de forma turbulenta, com a mudança do presidente da empresa, as ações da Petrobras fecham 2021 de forma estável, com leve queda, descolando do Ibovespa. O que vem pela frente?
Desempenho das ações PETR4 (azul) e do Ibovespa (amarelo) nos últimos 12 meses

Conjuntura internacional ao lado da Petrobras
Entre todos os efeitos da retomada econômica global em recuperação ante a pandemia, um dos principais é o aumento do preço do petróleo.
O óleo tipo Brent, com o qual a Petrobras trabalha, deve fechar o ano com alta de mais de 50%. Com melhor eficiência e volumes mais caros, a empresa conseguiu ampliar seus resultados acima da expectativa do mercado.
No terceiro trimestre, a receita líquida da companhia subiu 71,9% na base anual, para R$ 121,59 bilhões. Os ventos positivos reverteram o prejuízo, trazendo um lucro líquido de R$ 31,14 bilhões.
O desempenho operacional satisfatório junto ao controle pesado do endividamento e dos custos abriram espaço para o tombo da alavancagem da empresa. A relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) fechou setembro em 0,94 vez, o menor índice desde o mesmo mês de 2011.
Redução da alavancagem financeira

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) manteve, neste mês, as previsões de expansão da oferta no mercado e de crescimento da demanda para o óleo nos próximos meses.
Por mais que seja esperada uma desaceleração do preço da commodity, é factível que o petróleo se mantenha em alto patamar no ano que vem, já que o cartel considera as novas ameaças da pandemia, como a variante ômicron, “brandas e de curta duração”.
Com isso, o endividamento da companhia continuará sob controle. A empresa atingiu com um ano de antecedência uma meta de dívida bruta de US$ 60 bilhões, terminando o terceiro trimestre US$ 400 milhões abaixo desta marca.
Essa foi uma grande vitória da empresa, que divulgava o objetivo ao mercado há alguns trimestres. Em 2014, a dívida bruta estava em US$ 130 bilhões, mais do que sete vezes superior à geração de caixa operacional. Vitória, também, dos investidores insistentes.
Petrobras quer recompensar insistentes
Dada a contínua desalavancagem, a remuneração a acionistas já apareceu e acelerará nos próximos anos. Segundo a companhia, até 2026 serão pagos entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões em dividendos, que devem ser trimestrais e, eventualmente, extraordinários.
O mercado estima que o montante em caixa da empresa fique próximo de US$ 10 bilhões, e todo o restante seja pago aos acionistas.
Outros grandes desinvestimentos, como a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), que já foi alienada, e por meio do follow-on para a venda da participação na Braskem (BRKM5), também devem forrar o bolso dos investidores.
Retomada do pagamento de dividendos pela Petrobras, demonstrado pelo DY acumulado de 12 meses

Montanha-russa à frente
Como nada é um mar de rosas, pode-se esperar alta volatilidade nos papéis da Petrobras no ano que vem, por mais que a empresa seja uma das mais promissoras do ponto de vista de resultados. O motivo é único: eleições presidenciais.
As dúvidas do mercado quanto às empresas estatais em meio às tensões em Brasília têm razões claras. Embora o cenário político esteja polarizado, ambas as vertentes mais fortes possuem traços populistas, o que remete a interferências políticas.
A Petrobras, especificamente, é sensível ao âmbito social em função da paridade de preços internacionais dos combustíveis. Uma alta inflação não é bem vista por ninguém.
Mesmo que nenhuma ameaça se materialize, intensos altos e baixos são comuns nos papéis da petroleira em anos de eleição.
- 1998: -47,72%
- 2002: -9,32%
- 2006: 33,87%
- 2010: -22,99%
- 2014: -37,72%
- 2018: 45,91%
O investidor de longo prazo deve se ater aos fundamentos da empresa. A volatilidade, embora entendida como risco em alguns momentos, pode se transformar em grandes oportunidades.
Desde o primeiro pregão de 1998 até hoje, as ações da Petrobras subiram 742%.
Relativamente, Petrobras está barata
Mesmo com os riscos inerentes à Petrobras, atuante em um mercado emergente e ainda em processo de perpetuação de controle da dívida, a empresa parece estar muito barata em relação aos pares internacionais.
De forma relativa, em comparação a alguns dos players mais importantes do mundo, a empresa é mais rentável e negocia a múltiplos mais palpáveis.
P/L | EV/EBITDA | ROE | VALOR DE MERCADO (US$) | |
SHELL | 36,9 | 6,1x | 2,79% | 168 BILHÕES |
EXXON MOBIL | – | 7,95x | -3,64% | 259 BILHÕES |
CHEVRON | 22,85 | 8,3x | 7,45% | 228 BILHÕES |
PETROBRAS | 2,87 | 2,3x | 36,20% | 71 BILHÕES |
O que o mercado pensa sobre a petroleira
De acordo com dados compilados pelo Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, 11 analistas acompanham a empresa. Desses, 10 recomendam a compra das ações neste momento, sendo que dois o fazem de forma urgente, algo como uma indicação de “compra forte”.
Apenas um analista indica a manutenção da posição acionária. Ninguém acha que este é um bom momento para se desfazer dos papéis.
Na melhor das hipóteses, as ações da empresa podem subir até R$ 44, com um upside de 54%. A mediana dos preços-alvo mostra que os papéis da Petrobras podem alcançar R$ 36, um potencial modesto de 26% em valorização.