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O que o investimento milionário da BRF (BRFS3) no Oriente Médio significa

O investimento total será de US$ 500 milhões, sendo a companhia brasileira detentora de 70% da JV

Foto: Shutterstock

A BRF (BRFS3) anunciou, na manhã desta segunda-feira (24), a criação de uma joint venture para o desenvolvimento da indústria Halal na Arábia Saudita. A parceira será Halal Products Development Company (HPDC), subsidiária integral do PIF (Public Investment Fund).

O PIF é o fundo soberano da Arábia Saudita, com cerca de US$ 620 bilhões (R$ 3,25 trilhões) sob gestão, sendo um dos maiores do mundo. A parceria com a BRF visa a investir em inovação e crescimento no segmento halal.

De acordo com o comunicado ao mercado apresentado ao mercado nesta manhã, a joint venture será constituída com 70% pelo frigorífico brasileiro e 30% pela HPDC. O investimento total será de US$ 500 milhões (R$ 2,62 bilhões).

No ato da constituição da sociedade, o investimento inicial será de US$ 125 milhões (R$ 655 milhões). O restante será integrado pelas partes quando considerarem oportuno, segundo o documento arquivado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A joint venture, que contará com a participação da BRF GmbH, a subsidiária global da BRF, também deve contar com um centro de negócios e inovação alimentar Halal na Arábia Saudita. 

O negócio em meio aos números

A considerar a participação detida por BRF e HPDC na JV, somente o investimento inicial custará à companhia brasileira US$ 87,5 milhões (R$ 458,90 milhões na cotação atual), o equivalente a 70% do primeiro aporte.

Ao fim do segundo trimestre deste ano, a BRF detinha R$ 8,79 bilhões em caixa, sendo dividido entre real e moeda estrangeira. O montante é expressivo e demonstraria alta capacidade de investimento, se não fosse pela alavancagem financeira – o calcanhar de Aquiles da empresa nos últimos anos.

A dívida líquida da BRF supera os R$ 14 bilhões, com relação entre endividamento e Ebitda superior a três vezes, no topo do considerado prudencial pelo mercado – sobretudo com a expectativa de reversão do ciclo de proteínas com a recessão global esperada. 

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A companhia não deu explicações sobre como funcionaria o mecanismo de investimento na joint venture, isto é, quais são os prazos, financiamento e expectativa de retorno sobre o capital investido.

É de se esperar, contudo, que procure alargar a corda no pescoço e diminua o seu custo de capital, mesmo que não haja grande impacto na diminuição do prazo de pagamento e da alavancagem propriamente dita.

Isso poderia ser feito através da recompra de bonds, a preços de mercado, conforme a empresa já indicou no segundo trimestre. 

O que a aposta em Halal significa para a BRF

Com a entrada da BRF no negócio, a empresa dobra suas apostas no mercado em que efetivamente domina e tem salvo os últimos trimestres. 

Entre abril e junho deste ano, os volumes comercializados no Oriente Médio cresceram 13,4%, com destaque para os processados. O CPV por quilo vendido se manteve praticamente estável. Com o aumento dos preços, o Ebitda mais do que dobrou na comparação anual. 

A expectativa para a empresa é positiva nas exportações brasileiras para a região, principalmente de frango. Por mais que os preços possam ter recuado ao longo do terceiro trimestre, o otimismo gira em torno da restrição da oferta por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia e o aumento do turismo da região, vide a realização da Copa do Mundo a partir do mês que vem.

Enquanto a operação brasileira patina, com os custos de produção crescendo em maior proporção do que a inflação e a própria receita nos últimos meses no consolidado, a empresa enxerga o negócio Halal como seu core business

A reação do mercado ao anúncio da BRF

Após a divulgação do comunicado ao mercado, por volta das 11h10, os papéis da companhia recuavam 3,21%, para R$ 14,46, acompanhando a queda generalizada da Bolsa brasileira. O Ibovespa caía 2,15%. 

A queda maior do que a média do mercado brasileiro pode dizer respeito às condições de pagamento e investimento, enquanto o endividamento é um dos entraves à tese de investimento na BRF. 

Segundo especialistas ouvidos pela Refinitiv, em dados apresentados na plataforma do TradeMap, 15 analistas acompanham as ações da empresa. São sete indicações de compra, seis de manutenção e duas de venda, com preço-alvo mediano de R$ 20 (upside de 37%).

A BRF vale R$ 15,78 bilhões na B3. Nos últimos 12 meses, a empresa perdeu 30% de seu valor de mercado.

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