Gol (GOLL4) pede prêmio de 257% sobre ações em aumento de capital; empresa está subvalorizada?

A operação pode movimentar entre R$ 948,31 milhões e R$ 2,87 bilhões

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Após a Gol (GOLL4) anunciar que irá aumentar seu capital, a grande dúvida dos investidores ficou em torno do valor: R$ 42,67 por ação, sendo que os papéis da empresa atualmente negociam na casa dos R$ 17. 

Com base nesse preço, a operação pode movimentar entre R$ 948,31 milhões e R$ 2,87 bilhões. O comunicado divulgado ao mercado na noite de ontem, após aprovação do conselho de administração da Gol, justifica o pedido. 

O aumento de capital da companhia tem como base a Lei das SA, no artigo 170, parágrafo primeiro, inciso III.

A norma diz que o preço de emissão deverá ser fixado, sem diluição injustificada da participação dos antigos acionistas, e que deve ser levada em consideração a cotação das ações na Bolsa, “admitido ágio ou deságio em função das condições do mercado”.

A Gol se sentiu confiante em pedir um ágio de 257,36% sobre a média do preço de fechamento de suas ações preferenciais nos últimos 60 pregões. 

Em um contexto ainda adverso, reflexo da pandemia e da guerra no Leste Europeu, era esperado um movimento contrário, mas a companhia entende que suas ações estão subvalorizadas. 

O conselho da empresa diz que a inclusão do prêmio massivo, poucas vezes visto na história da B3, diz respeito primeiro em relação à depreciação das ações da empresa ao longo da pandemia, mas também com base no investimento que receberá da American Airlines. 

Desde que a Covid-19 chegou ao Brasil, a Gol nunca foi a mesma. Entre o pregão anterior ao carnaval de 2020 e a sessão de ontem, os papéis da empresa recuaram 52%. 

Mesmo com a recente recuperação econômica e reabertura total das fronteiras, a queda tem razão de existir. A disparada do preço do petróleo aumenta os custos da empresa, sobretudo em relação ao combustível de aviação (QAV, Querosene de Aviação).

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Somente o custo de abastecimento das aeronaves abocanhou 34,8% da receita operacional líquida da empresa no quarto trimestre de 2021. Dois anos antes, essa despesa (na ordem de R$ 1 bilhão) foi equivalente a 26%.

Só há um caminho: pressão de margens. 

Com a demanda sólida, embora aquém do período pré-pandemia, a empresa disse que visa reduzir o número de voos nos próximos meses, com o objetivo de se equalizar melhor à procura por passagens.

Desde março de 2020, a empresa suspendeu os voos para os Estados Unidos. O trajeto deve ser retomado em maio, normalizando a operação – com voos diários – até julho. Uma parceria tende a calhar com esse objetivo.

Geração de receita da Gol ainda não se recuperou 

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

American Airlines se compromete com US$ 200 milhões

Em fevereiro deste ano, a Gol fechou um acordo definitivo com a American Airlines, que envolve o investimento de US$ 200 milhões. A parceria já havia sido sinalizada de forma prévia em setembro do ano passado.

O negócio deve  envolver a expansão das relações comerciais entre as empresas, com um acordo de codeshare exclusivo (compartilhamento de voos entre usuários de ambas as companhias).

Também está na pauta a criação de programas de passageiros frequentes, bem como obrigações comerciais de exclusividade relacionadas a tarifas e disponibilidade de rotas. 

A parceria entre as empresas deve trazer um novo fôlego à Gol e American Airlines, que de forma similar da brasileira, também suspendeu os voos rumo ao Brasil em março de 2020. 

O investimento da americana foi aprovado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no fim do mês passado. A Superintendência-Geral da autarquia entende que as atividades de Gol e American Airlines são complementares. 

As concorrentes Azul (AZUL4) e Latam têm parcerias com United Airlines e Delta, respectivamente. 

Ao participar do aumento de capital, a American Airlines deve acabar ficando com 5,2% da Gol. 

Os demais acionistas da empresa terão 30 dias, a partir da próxima quarta-feira (13), para subscrever as ações. Em função do alto prêmio solicitado pela Gol e uma fatia relevante já ficar na mão da American Airlines, é pouco provável que haja espaço para não acionistas aderirem à oferta.

Vale a pena investir na Gol?

Por mais que a pandemia tenha arrefecido em termos de número de contágios e mortes ao redor do mundo – embora haja um aparente recrudescimento na China – os efeitos adversos da economia global paralisada por quase dois anos ainda são latentes. 

O setor aéreo ainda passa por uma conjuntura muito delicada, com pressão de margens e alto endividamento.

A alavancagem financeira da Gol encerrou o quarto trimestre de 2021 na ordem de 9,7 vezes, mesmo reportando R$ 3,7 bilhões em caixa e equivalentes de caixa.

O modelo de negócio do setor no país, com receita auferida em reais e compromisso e custos em dólar, levanta dúvidas em momentos de alta volatilidade do câmbio. 

Por ora, a cotação da divisa americana é favorável, próximo do menor patamar em dois anos, mas o horizonte com eleições presidenciais pode agitar o mercado.

Dados compilados pela Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, mostram que 12 especialistas acompanham a empresa de perto. Desses, cinco indicam compra, quatro a manutenção dos papéis e três, a venda. O preço-alvo mediano aponta para R$ 22. 

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

No curto prazo, em termos operacionais, o aumento de capital com alto ágio e a entrada da participação da American Airlines tem impacto neutro. 

As ações da Gol, porém, reagem na onda do mercado na manhã desta sexta-feira (8). Por volta das 11h (de Brasília), os papéis da companhia tinham queda de 1,57%, a R$ 16,90. A empresa vale R$ 6,71 bilhões na B3.

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