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Eneva (ENEV3) paga caro por sinergias no Nordeste em compra da Celse; ações caem

No fim de março, a Eneva tinha em caixa e equivalentes de caixa o montante de R$ 1,13 bi

Foto: Divulgação

Confirmando os rumores de mercado, a Eneva (ENEV3) anunciou, na noite da última terça-feira (31), a compra da Centrais Elétricas de Sergipe Participações S.A, também conhecida como Celsepar. 

A Celsepar era controlada pela NFE (New Fortress Energy), private equity americano, em parceria com Ebrasil, e será vendida por R$ 6,1 bilhões. A Eneva também assumirá a dívida líquida de R$ 4,1 bilhões da companhia

A Celse agregará ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Eneva, de forma fixa, R$ 1,9 bilhão anuais. O montante é indexado à inflação e acrescido à receita variável de R$ 406,2/MWh, que muda de acordo com o petróleo Brent. 

Os montantes são oriundos, principalmente, da usina termelétrica a gás natural da Celsepar, com capacidade instalada de 1.593 MW, localizada no Sergipe e autorizada a operar, com base nos atuais termos, até 2044.

O principal ativo é a usina UTE Porto de Sergipe, com capacidade de 21 MM metros cúbicos por dia. A Eneva passará a acompanhar os projetos em desenvolvimento da Celse, que poderão somar 3,2 GW de capacidade instalada, quando entrarem em vigor. 

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Atualmente a Eneva controla um parque de geração térmica de 2,8 GW – sendo 78% operacional –, que representa aproximadamente 6% da capacidade de geração térmica do país.

O negócio fará com que a Eneva consiga acesso a gás importado para gerar energia e infraestrutura de primeira linha. A companhia, dessa forma, dá um novo passo na expansão do segmento de comercialização de gás.  

Valores em curso na negociação

O valor acordado por Eneva, NFE e Ebrasil, do empresário José Cantarelli, na avaliação da Celse é praticamente o mesmo investido no projeto. 

O Complexo Termoelétrico Porto de Sergipe I, em Barra dos Coqueiros, município da região metropolitana de Aracaju, demandou R$ 6 bilhões em tecnologia de ponta para atender 26 contratos de longa duração para a distribuição de energia. 

A usina é capaz de abastecer 15% da demanda energética do Nordeste, embora seja uma energia mais custosa. A questão levantada pelo mercado é o carregamento da dívida líquida de R$ 4,1 bilhões da Celse. 

A Eneva já acumula uma dívida líquida de R$ 8,58 bilhões, com uma alavancagem financeira, dada pela relação entre dívida líquida e Ebitda, de 3,8 vezes nos últimos 12 meses. O patamar de alavancagem é alto, mas dentro do padrão para o setor.

Mas, considerando o Ebitda dos últimos 12 meses da Eneva, acrescido ao Ebitda fixo anual de R$ 1,9 bilhão da Celse (não considerando o acréscimo de receitas), além da dívida líquida somada das empresas, a alavancagem ficaria em torno de 3,07 vezes. 

Alavancagem financeira da Eneva já esteve mais alta

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

O mercado também pode levar em conta o formato de pagamento da Eneva. O fato relevante divulgado na noite da última terça não comenta qual será o método de quitação dos R$ 6,1 bilhões.

No fim de março deste ano, a Eneva tinha em caixa e equivalentes de caixa o montante de R$ 1,13 bilhão, queda de 32,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda existem saldo em depósitos vinculados a contratos de financiamento da companhia, classificados no passivo do balanço, na ordem de R$ 274 milhões. 

Se considerado o montante total, o valor acordado para a compra da Celse ainda é 4,34 vezes maior do que o alocado em disponibilidades. É possível que a empresa tenha de vir ao mercado para levantar capital.

O negócio vem à tona em um momento em que as opcionalidades para o setor de geração de energia, tanto eólica como termelétrica (como é o caso da Eneva), são variadas, mas o preço não é o mais atrativo. 

Dentre as geradoras de energia, a Eneva é uma das empresas com múltiplos mais esticados, com múltiplo preço/lucro de 17,12 vezes e EV/Ebitda de 12,67 vezes, em linha com os últimos três anos, de acordo com a plataforma do TradeMap

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

As margens mostram-se saudáveis e a rentabilidade está acima da média do período mencionado. Contudo, o preço a ser pago neste momento de possível diluição de acionistas é um ponto a ser questionado pelo mercado.

Hoje, a Eneva vale R$ 19,7 bilhões na B3. Incluindo o endividamento da Celse, a compra equivale a 51,7% desse montante. A relação cai para 36% se considerado o valor de firma da Eneva. 

Eneva visa complementaridade dos negócios

Os ativos da Eneva parecem estar esticados na Bolsa. Embora o viés ainda seja positivo para a empresa, é de bom tom que a companhia procure estimular a geração de valor para que os múltiplos voltem aos patamares 40% inferiores, como no início do ano.

A usina da Celse fica próxima do Complexo Parnaíba, localizada no Maranhão. Ela tem capacidade total instalada de 1,9 GW, sendo 1,4 GW já em operação. O complexo é composto por 6 usinas termelétricas a gás natural.

A empresa pode fazer uso de seu conhecimento com a operacionalização de termelétricas a gás e, com devido acesso a crédito e mercado de capitais, fomentar sinergias operacionais e diminuir o custo de produção.

Além disso, a Celse também fica próxima da Usina Solar Futura 1, o complexo solar da Eneva, que tem 671 MW de capacidade instalada em construção. 

A usina adquirida seria a mais próxima do polo que está em desenvolvimento e ampliaria as soluções de energia da Eneva na região. 

O plano da companhia é crescer de forma inorgânica e criar alternativas produtivas à geração hidrelétrica, responsável por 62,9% da matriz brasileira no ano passado, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

No fim do ano passado, a Eneva fechou a incorporação da Focus Energia, por R$ 960 milhões. A empresa gera energia com base em combustíveis fósseis. Outros leilões também foram angariados pela companhia. 

As opcionalidades da Eneva e o oceano azul de oportunidades na geração de energia no Brasil, sobretudo ligadas às energias renováveis, dadas as características do país, animam os investidores mesmo após mais uma compra de grande porte.

De acordo com dados compilados pela Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, das cinco recomendações de analistas, quatro eram de compra dos papéis da geradora de energia. O preço-alvo mediano de R$ 16, porém, exprime um upside curto de 3%.

Por volta das 13h10, as ações da Eneva recuavam 1,09% na sessão, para R$ 15,41.

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