Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Bolsa de Valores em queda: ainda vale a pena investir contra? Entenda os riscos

A estratégia de investimento consiste no aluguel de um ativo financeiro para a venda do mesmo

Foto: Shutterstock

Após mais de uma década, o mundo inteiro em consonante movimento enfrenta um processo de contração monetária. Com o custo de deixar a renda fixa de lado cada vez mais alto, os investidores estão avessos ao risco da Bolsa de Valores global.

No primeiro semestre de 2022, o Ibovespa caiu 6%; o S&P 500 recuou 21%, na pior primeira metade do ano desde 1962. A despeito da queda da Bolsa de Valores, há quem tenha ganhado dinheiro.

Quem identificou o aperto inflacionário não transitório ainda no ano passado conseguiu apostar contra os mercados acionários, através da operação vendida a descoberto, também chamado de short

A estratégia de investimento consiste no pagamento do aluguel de um ativo financeiro para a venda do mesmo, na expectativa da recompra deste mesmo ativo por um preço mais baixo.

Olhando sob o ponto de vista passado, a operação foi majoritariamente bem-sucedida se aplicada principalmente na contramão dos índices, na figura dos ETFs (Exchange Traded-Funds) BOVA11, no caso brasileiro, e IVVB11, para o índice americano. 

Mas, a partir de agora, vale a pena apostar contra? Seja contra índices ou empresas específicas, quais são os riscos para os investidores, sobretudo pessoas físicas?

O que é a operação short na Bolsa de Valores?

Trata-se de uma estratégia de investimento que, primeiramente, consiste no aluguel da ação de uma empresa ou ativo relacionado a índice que, em tese, está superprecificada e que os papéis tendem a cair, seguida da venda a descoberto desta ação. 

Ou seja, trata-se da venda de um ativo que o investidor não possui em carteira. Essa é a chamada ponta vendida, na operação short.  

⇨ Quer acompanhar as cotações das suas ações na B3 em TEMPO REAL? Inscreva-se no TradeMap!

Se o preço do ativo realmente cair, quando for necessário devolver a ação que foi alugada, o investidor a comprará por um valor mais baixo no mercado à vista, ganhando a diferença entre as duas cotações.

Por exemplo, se o investidor alugar a ação ABCD3 pagando uma taxa de R$ 0,25, e vendê-la por R$ 10 no mercado à vista, deve esperar que a ação caia para que a recompre num preço mais baixo. 

Alguns pregões depois a ação ABCD3 cai para R$ 6 no mercado à vista. Com isso, o investidor adquire novamente o papel e devolve ao detentor inicial. Sendo assim, o lucro na operação será de R$ 3,75 por ação (R$ 4, da diferença entre R$ 10 e R$ 6, menos R$ 0,25, da taxa pelo aluguel). 

É importante saber que existem tipos diferentes de aluguel de ações, tanto para o doador como para o tomador do papel. São eles:

Tipo de contrato Operação
Conversível ao doador Doador pode encerrar o aluguel quando quiser. Tomador paga taxa proporcional
Conversível ao tomador Tomador pode finalizar o contrato quando quiser, devolvendo os ativos em até 4 dias
Conversível a ambos Doador e tomador dos ativos podem solicitar o encerramento a qualquer momento
Vencimento fixo Tanto doador como tomador devem cumprir o período estipulado em contrato na totalidade

Na operação short, o risco reside justamente na realização do sentido contrário dos ativos ao desejado, ou seja, caso as ações vendidas subam em vez de caírem. 

Isso porque, por mais que possa existir fundamento para que o ativo caia – como preço acima do valor justo da empresa – na prática a venda a descoberto é uma operação especulativa, que se sustenta na expectativa de que os ativos entrem em tendência de queda em determinado período de tempo. 

Por isso, muitas vezes o tiro pode sair pela culatra e a oportunidade se voltar contra o investidor, principalmente aquele com informações limitadas acerca do ativo ou mercado.

Em tese, o ganho máximo de um vendedor a descoberto é de 100%, na hipótese de que os ativos vendidos caiam a zero. No entanto, a perda não tem limite, uma vez que o vendedor terá de recomprar os ativos para devolvê-los ao doador em determinada data, mesmo que eles tenham subido mais de 100%, 200%, 1.000%, e assim por diante. 

O short que deu errado

No início do ano passado, o mercado americano – que ainda subia como se não houvesse amanhã com a força das pessoas físicas – viu um caso curioso relacionado a uma empresa “mico” e um grande fundo de investimento.

Os papéis da varejista de videogames tiveram forte alta do volume negociado na Bolsa de Valores de Nova York em janeiro de 2021, impulsionados por um movimento de investidores vendidos (short sellers) e daytraders, que se comunicavam através da rede social Reddit, após uma mudança na direção da companhia.

Em novembro do ano anterior, Ryan Cohen, ex-CEO da Chewy, uma varejista de alimentos para pets, redigiu uma carta pública ao Conselho da GameStop recomendando-o a realizar uma revisão estratégica. 

À época, o executivo dizia que o futuro da empresa seria mais lucrativo, transformando a GameStop na “Amazon da indústria de videogames”. O catalisador para a disparada das ações foi a posse de Cohen – que detinha ações da GameStop – no Conselho da empresa.

Entre o dia 4 de janeiro de 2021, o primeiro pregão do ano, e o dia 27 do mesmo mês, as ações da GameStop se valorizaram incríveis 1.914%. 

O resumo da ópera foi um dos maiores shorts squeeze da história do mercado acionário global. 

Short squeeze é o movimento de alta valorização de um ativo, que pressiona investidores vendidos na ação a desfazerem suas posições e, assim, reduzirem as perdas. Pode ocorrer de forma natural ou ser alvo de uma manipulação de mercado, com uma força compradora conjunta. 

O fundo americano bilionário Melvin Capital, que estava vendido nas ações da GameStop, acabou tendo que fechar as portas. Na verdade, a firma de investimentos ainda está em processo de liquidação de ativos, não dando conta da tamanha alta das ações da varejista de games. 

Os investidores do fundo ficaram a ver navios e ainda estão em processo de recuperação do capital. Os gestores do fundo reconhecem que o investimento foi mal calculado, mostrando o lado mais sombrio da especulação da venda a descoberto. 

O short que deu certo

O tema também se tornou quente no Brasil nos últimos anos. No caso entre IRB Brasil (IRBR3) e o fundo Squadra, a “briga” disse respeito à veracidade dos dados apresentados pela companhia de resseguros em 2019. 

Em fevereiro de 2020, a gestora liderada por Guilherme Aché apresentou ao mercado sua tese pela posição vendida nas ações da empresa, argumentando com dois relatórios que haviam inconsistências contábeis. 

O primeiro relatório, de 154 páginas, já fez as ações da empresa despencarem de cara. Entre 31 de janeiro de 2020 e o fim do primeiro semestre daquele ano, os papéis do ressegurador tombaram 95%. 

As ações da companhia ainda não saíram da casa dos R$ 2, após atingirem uma máxima histórica de R$ 41. 

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Na opinião da gestora, os lucros apresentados pela companhia eram incompatíveis com os lucros contábeis realmente auferidos. 

A rentabilidade da empresa, que pelo indicador ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) girava por volta dos 30% – muito diferente do que o setor costuma apresentar no exterior –, então, seria uma farsa. 

Na primeira vez em que se referiu às declarações do fundo, já com outra gestão – uma vez que a antiga havia sido afastada em função das acusações –, o IRB admitiu que a base do relatório da Squadra foi fantástica.

Leia também:
Para Barsi, bancos controladores devem ‘salvar’ o IRB; confira as novas apostas do ‘Rei dos Dividendos’

Esse é um dos casos mais bem-sucedidos do investimento short no Brasil. A operação foi montada por um grupo de profissionais altamente preparados e que, mesmo sabendo dos riscos relevantes, arriscaram o capital dos investidores. 

Além disso, por muito tempo o fundo perdeu dinheiro na posição, montada em maio de 2018. O investimento se mostrou vencedor apenas depois que os minuciosos relatórios foram divulgados – algo incomum no Brasil e que gerou discussão à época. Em entrevista à Agência TradeMap, Aché diz que contina com a posição

O investimento short em si é publicamente defendido pela Empiricus, casa de análise controlada pelo BTG Pactual. 

A casa passou a recomendar a venda das ações do TC (TRAD3) em outubro do ano passado. As ações da empresa acumulam queda de 20% desde então.

Vale pontuar, entretanto, que a venda a descoberto é o tradicional caso no mercado financeiro em que o investidor pode perder dinheiro mesmo estando certo. O timing e o profundo conhecimento técnico dos negócios são essenciais para o sucesso da operação.

Como o timing é pouco relevante para os investidores de longo prazo e o conhecimento técnico detalhado ainda está distante para boa parte do mercado, trata-se de uma operação em que o risco é, na maior parte das vezes, maior do que o potencial retorno para as pessoas físicas.

Vale a pena apostar contra a Bolsa de Valores hoje?

Quando se fala em apostar contra ou montar uma posição short, há a possibilidade de atuar sobre um ativo específico ou um índice, como mencionado.

As possibilidades que se referem às ações específicas são variadas, mas o short em um índice acionário é mais fácil de conceber como estratégia, ou até mesmo como proteção, embora o upside seja mais restrito. 

Apostar contra o Brasil, hoje, parece ser mais arriscado do que há poucos meses. A Bolsa brasileira negocia a múltiplos similares ao período da crise econômica do país em meados da década passada, ou até com o registrado após a crise americana do subprime, entre 2008 e 2009. 

As perspectivas de elevação da taxa de juros – que tem uma correlação negativa com o valor dos ativos na Bolsa – começam a acentuar os ânimos, prevendo que a Selic não passe muito do que já atingiu, uma vez que está no maior patamar desde 2016.

Como o Brasil entrou no processo de aperto monetário antes do que a maior parte do mundo, é provável que da mesma forma também saia antes, ou ao menos estanque o aumento dos juros.

Isso daria um alívio aos valuations, sobretudo de empresas da economia doméstica, mas também seria positivo para o Ibovespa, que é banhado em commodities e setor bancário. 

Do ponto de vista econômico, é esperado um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro neste ano acima de 1%. Para o ano que vem, as projeções são díspares, mas é esperada uma desaceleração, dado que a efetividade do aumento da taxa de juros tem certa demora.

⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!

Sob esse ponto de vista, o downside dos papéis da Bolsa brasileira pode ser considerado limitado, o que tira a atratividade do short no Ibovespa. Diferentemente do cenário para os Estados Unidos.

O país verá uma contração monetária como jamais foi vista (a taxa de juros tem subido na maior velocidade em três décadas). No país, a insatisfação é grande com a inflação, o que remete a aumento de custos pelas empresas e dificuldade em repassá-los em alguns casos.

Com o preço do dinheiro mais alto, empresas de alto crescimento que costumam financiar suas atividades queimando caixa – se não, capital de fundos de venture capital e private equity – estão passando por uma verdadeira prova de fogo, dado que as taxas de juros globais (ex-emergentes) praticamente esteve zerada nos últimos 15 anos. 

Mas o processo ainda não terminou e essas empresas ainda continuarão passando por maus bocados. Cerca de 28% do índice S&P 500 é formado por empresas de tecnologia, que pautaram pelo crescimento acelerado.

Há uma tendência baixista no mercado americano. Por mais que o megainvestidor Warren Buffett diga que não se deve apostar contra a América, a Bolsa de Valores dos Estados Unidos ainda deve sofrer antes de melhorar.s

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.