Na primeira aparição da nova gestão do Banco do Brasil (BBAS3) comentando um resultado trimestral, o momento não poderia ser mais benéfico. O quarto trimestre de 2022 encerrou o melhor ano da história da instituição.
Indicada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à presidência do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros apresentou sua visão sobre como a instituição financeira atuará sob sua gestão, embora poucos detalhes quantitativos tenham sido apresentados.
A executiva, funcionária de carreira do banco há 22 anos, tem o desafio de dar continuidade ao trabalho realizado pelo ex-CEO Fausto Ribeiro, que esteve por dois anos à frente da instituição durante o fim do governo Jair Bolsonaro (PL).
No ano passado, o Banco do Brasil ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão na carteira de crédito, com a menor inadimplência do mercado. Os calotes acima de 90 dias representaram apenas 2,51% do portfólio total, sendo que a média da indústria é de 3%.
Essa deve continuar sendo a tendência da dinâmica do Banco do Brasil no que se refere à concessão de crédito com baixo risco. No quarto trimestre, 49,2% da carteira está classificada como a maior nota de qualidade de crédito (ou menor risco atribuído), o teto do ano passado.
Com eficiência em dia, a instituição reportou um lucro ajustado no acumulado de 2022 de R$ 31,81 bilhões, alta de 51,3% sobre o registrado no ano anterior.
Em time que está ganhando não se mexe? Para a nova gestão do BB, sim. Medeiros quer continuar entregando bons resultados e disse que “as decisões são técnicas e prezam pela alocação de capital que gere maior valor”, em um discurso que caiu bem aos ouvidos do mercado.
As ações BBAS3 sobem mais de 4% no pregão desta terça, chegando aos R$ 42,50 e acumulando alta de 41,4% em 12 meses.
Interferência política no Banco do Brasil
Quando questionada acerca de eventuais interferências políticas, provenientes do governo federal, Medeiros esquivou-se e mencionou as métricas de alta governança corporativa do BB.
Segundo ela, o Banco do Brasil é uma “S.A. robusta”, com bom controle de capital e que está no Novo Mercado desde 2006, sendo o único banco brasileiro listado nesta condição.
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A nova gestão quer implementar uma cultura transformacional que visa as soluções digitais e, para isso, terá de acelerar investimentos em tecnologia e contratações de pessoal, com o objetivo final de elevar o que chamam de “valor adicionado à sociedade”.
Em suas projeções para 2023, mesmo com uma esperada desaceleração da carteira de crédito, o banco prevê que as despesas administrativas cresçam de 7% a 11%, acima da inflação estimada no período e o dobro do crescimento das despesas visto em 2022.
Um discurso alinhado no qual os investidores acreditam pode ajudar a reduzir o desconto estrutural do banco ante seus pares, que ocorre justamente em razão do fator político.
Mesmo acumulando uma alta de 27% neste ano, o BB ainda negocia o múltiplo Preço/Lucro (P/L) na casa das 4 vezes, metade de Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11). O mais próximo é o Bradesco (BBDC4), com múltiplo de 6,6 vezes, após cair 37% nos últimos 12 meses.
De acordo com dados compilados pela Refitiniv na plataforma do TradeMap, 17 analistas acompanham os papéis do BB. Desses, 14 recomendam compra, e os outros três, manutenção. O preço-alvo mediano é de R$ 53, upside de 24%.
Americanas sob controle no Banco do Brasil
No quarto trimestre de 2022, o banco mais uma vez superou as expectativas, mesmo com o efeito “subsequente” da Americanas (AMER3).
Mesmo sem mencionar o nome da varejista que entrou em recuperação judicial no mês passado – assim como feito por todos os bancos em suas comunicações oficiais – o Banco do Brasil provisionou metade de sua exposição à Americanas e pouco sentiu o impacto.
O lucro líquido ajustado do BB no período entre outubro e dezembro do ano passado ficou em R$ 9,03 bilhões, nominalmente (sem descontar a inflação) o maior já registrado por um banco listado em qualquer trimestre na história.
Na teleconferência com analistas e investidores, realizada na manhã desta terça-feira (14), executivos disseram que a provisão é condizente com o nível de exposição e os modelos da instituição financeira são acompanhados de forma contínua.
Vale ressaltar que o banco segue nas negociações e tratativas com a Americanas. O vice-presidente de controles internos e gestão de riscos, Felipe Guimarães Prince, afirmou que a expectativa é que ao menos alguma parte dos empréstimos concedidos seja recuperada.
Desconsiderando o efeito da varejista, o Banco do Brasil teria reportado um lucro de cerca de R$ 400 milhões a mais, além de que o ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) seria de 0,4 p.p superior, segundo os executivos da instituição.
Guidance com pé no chão
As projeções corporativas do Banco do Brasil também foram alvo de questionamento dos investidores. Por um lado, o guidance é animador com um lucro de até R$ 37 bilhões neste ano, o que representaria uma alta de quase 20% sobre o reportado em 2022.
Por outro lado, a carteira de crédito deve crescer menos, entre 8% a 12%, com a desaceleração mais notável em pessoas físicas, como já vinha sendo observado ao longo do ano passado.
Segundo o banco, o nível de rentabilidade no médio e longo prazos deve sofrer um leve arrefecimento. O ROE deve se estabilizar entre 18% e 20%, inferior ao registrado no quarto trimestre de 2022 e ao longo do ano passado.
Questionados se a projeção para 2023 é conservadora, o BB disse entender que o patamar estimado é adequado. A margem financeira bruta cresceu 23,8% em 2022 e deve avançar entre 17% a 21% neste ano, prevê a instituição.
De acordo com o banco, o movimento mais forte acontecerá nos primeiros meses de 2023, e o segundo semestre deve ser mais fraco, convergindo para essa meta.
O Banco do Brasil prefere manter as expectativas do mercado sob controle para, eventualmente, de novo superá-las, mesmo que este ano não seja tão forte como 2022.