O Banco do Brasil (BBAS3), apesar de ter bloqueado R$ 788 milhões para compensar eventuais perdas com a Americanas (AMER3), apresentou lucro líquido acima da expectativa do mercado para o quarto trimestre, com um resultado positivo ajustado de R$ 9 bilhões, alta de 52,4% em comparação a igual período do ano anterior.
As projeções levantadas pela Agência TradeMap (de XP, BTG Pactual, Itaú BBA, Santander e Genial Investimentos) apontavam para um lucro líquido entre R$ 8 bilhões (na estimativa mais pessimista, do Santander) e R$ 8,4 bilhões (na mais otimista, de BTG e Genial).
O ajuste do lucro exclui da conta o que o banco separou para possíveis perdas com ações judiciais referentes aos planos econômicos de governos passados, de R$ 809 milhões, e o que ganhou com efeitos fiscais sobre itens extraordinários.
Em todo o ano de 2022, o lucro líquido ajustado do BB somou R$ 31,8 bilhões, avanço de 51,3% sobre 2021. A expectativa é que o resultado cresça novamente em 2023, para algo entre R$ 33 bilhões e R$ 37 bilhões.
O banco, diante desse cenário, aumentou a rentabilidade (RSPL Mercado) para 23% no quarto trimestre do ano passado, ante 16,6% em igual período do ano anterior.
Caso Americanas (AMER3)
O valor bloqueado pelo BB para o caso Americanas é o que se chama no mercado de provisão para devedores duvidosos (PDDs), um dinheiro que instituições reservam para cobrir possíveis calotes e que entra como despesa no balanço, o que faz com que o lucro final seja afetado.
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Trata-se de uma prática corriqueira sempre que uma instituição empresta dinheiro a uma pessoa ou a uma empresa. Na hora que o crédito é concedido, o banco tenta calcular, com base nos dados do cliente, qual é a chance de não ser pago, preparando-se para o pior.
As provisões são um dinheiro que o banco guarda, tirando do seu caixa do dia a dia, para compensar possíveis inadimplências. Assim, se o cliente não pagar, o banco recorre a esse dinheiro e o devolve ao seu caixa, como se estivesse pagando a si mesmo.
Portanto, não é que o banco deixa de ter a perda. Significa apenas que ele se preparou para aquela perda.
Caso algum fato novo surja ao longo do empréstimo e aquele cliente mostre que sua capacidade de pagamento piorou, o banco pode separar um valor adicional em provisões para compensar o risco maior.
O BB informou que o valor de R$ 788 milhões representa cerca de 50% da dívida que a Americanas tem com a instituição, mas sem citar o nome da empresa, assim como os demais bancos fizeram.
Não fosse a provisão adicional, o banco teria apresentado lucro líquido ajustado de R$ 9,4 bilhões, disse a própria instituição.
O BB reconhece que o montante adicional provisionado pode subir a depender do desdobramento do caso, mas que essa possibilidade já “devidamente contemplada” nas projeções para 2023.
Para este ano, o banco estima que as despesas totais com provisões devem atingir algo entre R$ 19 bilhões e R$ 23 bilhões. No ano passado, foram R$ 16,7 bilhões.
No quarto trimestre, as despesas com provisões do banco somaram R$ 6,5 bilhões, número 72,4% maior que o de igual trimestre de 2021.
Agronegócio impulsiona crédito
A carteira de crédito do Banco do Brasil atingiu R$ 1 trilhão no quarto trimestre, crescimento de 14,8% em relação ao nível do quarto trimestre do ano anterior, resultado impulsionado principalmente pelo crédito ao agronegócio, que cresceu 24,9%, acima da previsão do próprio banco, que era de avanço entre 18% e 22%.
A taxa de inadimplência do BB, por outro lado, subiu mais uma vez, para 2,51%, de 1,75% um ano antes, embora ainda seja a menor taxa entre os grandes bancos listados na Bolsa.
E a margem financeira bruta, por sua vez, teve um salto de 44,9% no quarto trimestre ante igual período do ano anterior, para R$ 21,4 bilhões. No ano todo, foram R$ 73,4 bilhões, alta de 23,8% ante 2021.
Para 2023, a expectativa do banco é que a margem financeira bruta desacelere o ritmo de expansão, com um avanço de algo entre 17% e 21%.