Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) despencam em dia amargo para commodities; Bolsa cai mais de 3%

Queda no preço do minério e do petróleo no mercado internacional pressiona empresas de commodities na Bolsa e prejudica o índice

Foto: Shutterstock

Em um dia de mau humor generalizado para os investidores no Brasil, que repercutem os aumentos de juros por aqui e nos Estados Unidos, as empresas ligadas a commodities desabam nesta sexta-feira pós-feriado e lideram as quedas do Ibovespa, com destaque para as duas principais companhias do índice: Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), que por volta das 13h15 registravam recuos de 9,18% e 6,62%, respectivamente.

No mesmo horário, o Ibovespa caía 3,99%, aos 98.697 pontos, e perdia o patamar de 100 mil pontos, pela primeira vez desde novembro do ano passado, em meio ao receio global de que o aperto monetário nos EUA leve a uma recessão na maior economia do mundo. Por lá, os juros foram elevados na quarta-feira (15) em 0,75 ponto percentual, para um novo intervalo de 1,50% a 1,75% ao ano, e devem seguir em alta.

No Brasil, onde o ciclo de alta de juros está mais avançado, especialistas também preveem desaceleração do crescimento nos próximos trimestres. Na última quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou a taxa básica, a Selic, a 13,25% e sinalizou mais uma alta em agosto.

Petrobras no centro das atenções

Em meio a esse sentimento de aversão ao risco entre os investidores, a Petrobras vê suas ações caírem após anunciar mais um reajuste nos preços dos combustíveis vendidos das refinarias da empresa para a distribuidoras. Em comunicado, a estatal informou que o preço da gasolina, que havia sido ajustado pela última vez em 11 de março, subiu 5,2%, saindo de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro.

O preço do diesel, por sua vez, que havia subido pela última vez em 10 de maio, vai aumentar em 14,3%, de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. Na bomba, a companhia estima que os os preços da gasolina e do diesel devem aumentar em pelo menos R$ 0,15 e R$ 0,63 por litro, respectivamente.

Mesmo com a elevação, o preço dos dois combustíveis continuará menor que o observado no exterior. Segundo dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), para manter a paridade com o mercado internacional, a gasolina teria que ser vendida no Brasil a R$ 4,19 o litro, e o diesel, a R$ 5,70 o litro.

O anúncio joga lenha na fogueira de uma crise entre a Petrobras e o governo federal, em meio a uma disputa política para evitar que o aumento dos preços dos combustíveis gere inflação e prejudique a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, que está de olho na reeleição em outubro.

“O reajuste é positivo, mas pode aumentar a pressão política”, afirmam os analistas do Credit Suisse, em comentário distribuído a clientes logo após o anúncio da estatal.

Vale lembrar que o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, que está há apenas dois meses no comando da empresa, está prestes a deixar o cargo, após o presidente Jair Bolsonaro indicar um novo nome para presidir a estatal, Caio Mário Moraes Paes, que faz parte da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, e ainda precisa ser aprovado em assembleia de acionistas da empresa.

Após o anúncio do reajuste, o presidente da Câmara, Arthur Lira, pediu em seu Twitter a renúncia imediata do atual presidente da empresa, José Mauro Coelho.

 

Além de pedir a renúncia de Coelho, Lira divulgou uma notícia da queda dos ADRs da Petrobras, os papéis da estatal negociados em Nova Iorque, e afirmou que isso é uma “prova da inconsequência corporativa de agir contra todo um país e o acionista controlador [a União]”.

“Esse é um dos números do desastre provocado pela atual gestão contra o Brasil, os brasileiros e a própria Petrobras. Saia daí, saia já! Esse lugar não é seu. É do Brasil”, finalizou em publicação em seu Twitter.

Em comunicado, a Petrobras disse que “tem buscado o equilíbrio dos seus preços com o mercado global, mas sem o repasse imediato para os preços internos da volatilidade das cotações internacionais e da taxa de câmbio”. Disse também que a prática é incomum entre outros fornecedores de combustíveis e empresas petrolíferas, “que ajustam seus preços com maior frequência”.

Outras petroleiras brasileiras também operavam em queda nesta sexta. A 3R Petroleum recuava 7,46% e a  PetroRio, 6,37%, também pressionadas pela queda da cotação do petróleo no mercado internacional. No mercado futuro da ICE, o barril do Brent — que serve como referência global — era cotado a US$ 115, com uma queda de 3,27% na comparação intradia.

As companhias de siderurgia e mineração, além da Vale, também estavam entre os maiores tombos do dia. A CSN (CSNA3) liderava a lista e recuava 7,53%; Gerdau (GOAU4) perdia 8,05% e Usiminas (USIM5) apontava em 7,18% para baixo.

Fonte: TradeMap

Fonte: TradeMapAs empresas de siderurgia e mineração acompanham o forte recuo que o minério de ferro teve no mercado internacional. Na bolsa de commodities de Dalian, na China, o preço da tonelada do produto caiu 5,90%, passando a ser negociado a 821,50 iuanes, o equivalente a US$ 122,64.

As exceções do dia

Na ponta positiva do Ibovespa, apenas algumas poucas ações subiam — Eneva (ENEV3), Equatorial Energia (EQTL3), SLC Agrícola (SLCE3) e Hapvida (HAPV3). Respectivamente, as ações apontavam para cima em 2,33%, 1,28%, 0,46% e 0,34%.

No caso da primeira, a subida ocorre após a empresa anunciar uma oferta de novas ações e uma nova emissão de debêntures que podem gerar até R$ 6 bilhões à companhia. O motivo? Financiar os acordos para adquirir a Celsepar e a Termofortaleza, em operações que juntas somaram, junto com as dívidas a serem assumidas, cerca de R$ 10,6 bilhões.

Em relação à nova oferta de ações (follow-on), a empresa informou na noite de quarta-feira (15) que pretende vender 300 milhões de novos papéis. Considerando o preço mais recente das ações da Eneva, a companhia pode obter cerca de R$ 4 bilhões com a operação.

A oferta será 100% primária, ou seja, os recursos levantados irão diretamente para o caixa da companhia. Além disso, a operação é restrita a investidores profissionais.

Além dessa oferta, a Eneva anunciou que irá emitir R$ 1,7 bilhão em debêntures, podendo atingir até R$ 2 bilhões na operação. Uma debênture é um título de dívida usado pelas companhias para captar recursos. Na prática, é como se os investidores “emprestassem” dinheiro agora para trocar por rendimentos no futuro.

Ressaca no pós-Fed e Copom

Como a Bolsa brasileira permaneceu fechada na quinta (16), por causa do feriado de Corpus Christi, o pregão desta sexta é o primeiro a repercutir o aperto monetário indicado tanto pelo BC quanto pelo banco central americano na quarta (15).

Nos EUA, o resultado era esperado após os dados de inflação ao consumidor (CPI) terem vindo acima do esperado na semana anterior. O aumento na taxa foi o maior dos últimos 28 anos.

No Brasil, o Copom (comitê de política monetária do BC) elevou a taxa Selic em 0,50 pontos, atingindo 13,25% ao ano. No comunicado pós-reunião, a instituição indicou outro aumento “de igual ou menor magnitude” na próxima reunião, em agosto.

“Acreditamos que o BC acabará fazendo mais um aumento de 0,5 ponto, uma vez que as atuais pressões inflacionárias não devem diminuir o suficiente até lá”, destacou a XP Investimentos, em morning call. A expectativa da corretora é que a taxa básica de juros termine o ano em 13,75%.

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Bolsas internacionais recuperam parte dos tombos

Nesta sexta, as principais bolsas mundiais operam em alta em Wall Street: Nasdaq subia 1,35%, S&P 500 ganhava 0,38% e o Dow Jones crescia 0,14%. Na Europa, o Euro Stoxx 50 valorizava 0,14%, enquanto o DAX apontava em 0,46% pra cima, e o FTSE 100 ia na direção contrária, com queda de 0,22%.

Na quinta, os principais índices acionários da Europa e dos Estados Unidos tiveram quedas significativas, com os novos anúncios de aumentos de juros por bancos centrais europeus.

No Reino Unido, o banco central elevou os juros em 0,25 ponto porcentual, para 1,25% ao ano, como era esperado, mas sinalizou que daqui para frente o ritmo de elevação das taxas pode ser mais intenso.

Vale mencionar que estas decisões vieram um dia depois de o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, ter intensificado pela segunda vez o ritmo de alta nos juros americanos.

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