As ações de empresas ligadas a commodities tiveram baixas relevantes no pregão desta segunda-feira (14), o primeiro desde que a sessão voltou a fechar às 17h, e pressionaram o Ibovespa, que perdeu o patamar de 110 mil pontos.
O principal índice da Bolsa de valores brasileira fechou em baixa de 1,6%, aos 109.927 pontos, com R$ 19,04 bilhões em volume negociado. O saldo de março é de recuo de 2,84%, enquanto o balanço desde o início do ano é de alta de 4,87%.
A performance do Ibovespa não foi regra nem exceção em relação aos mercados internacionais, que tiveram um dia misto. Em Nova York, o Nasdaq teve baixa de 2,04%, o Dow Jones fechou de lado e o S&P 500 perdeu 0,79%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 teve ganhos de 1,47%.
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Sinais mistos do leste europeu
No âmbito geopolítico, o leste europeu frustrou novamente, após mais uma rodada de negociações entre autoridades russas e ucranianas não dar resultado. Segundo informações divulgadas em agências de notícias internacionais e veículos de imprensa estrangeiros, as conversas duraram algumas horas e foram interrompidas para uma “pausa técnica”, com previsão de serem retomadas na terça-feira (15).
Mais preocupantes, porém, são as alegações de uso de armas químicas e de ataques russos perto da fronteira com a Polônia, fatores que aumentam o receio de uma resposta da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Depois de começarem a cair no final de semana devido a sinais de progresso nas negociações entre a Rússia e a Ucrânia, novas medidas de restrição para combate à Covid-19 na China causaram temores de choques na cadeia de produção e pesaram ainda mais sobre as commodities.
O petróleo tipo Brent fechou em baixa de 5,12%, a US$ 106,9, enquanto o minério de ferro perdeu 6,98% na bolsa de Dalian, a US$ 119,47. Com isso, CSN Mineração (CMIN3) e CSN (CSNA3) foram a segunda e terceira maiores quedas do Ibovespa, com recuos de 6,33% e 6,21%, respectivamente. A maior perda do índice foi de Magazine Luiza (MGLU3), que caiu 6,33% antes da divulgação do balanço.
Inflação segue no radar
Ao longo desta semana, começa a ganhar foco também a decisão de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), esperada para quarta-feira. A expectativa do mercado é de aumento 0,25 ponto percentual na taxa de juros.
Por aqui, também na quarta feira haverá a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), e a expectativa é de mais uma alta na taxa Selic, refletindo as pressões inflacionárias. O consenso do mercado é de ajuste entre 1 ponto percentual e 1,25 p.p., o que levaria a taxa para 11,75% ou 12% ao ano.
Tanto os EUA quanto o Brasil têm visto seus indicadores de inflação acelerarem e, com a alta dos combustíveis e dos alimentos, as perspectivas para os próximos meses são de mais aumentos de preços, o que justifica as apostas de elevação nas taxas de juros.
Os analistas ouvidos semanalmente pelo Boletim Focus, do Banco Central, revisaram suas projeções para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2022 de 5,65% para 6,45%. A projeção média para os juros no final deste ano também foi elevada de 12,25%, na semana anterior, para 12,75%.
Os especialistas ouvidos na pesquisa também elevaram as projeções para 2023: agora, esperam uma inflação de 3,70% (a pesquisa anterior apontava3,51%) e juros de 8,75% (contra 8,25% do levantamento da semana anterior).
Na seara dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, neste final de semana, que pretende estender os projetos de lei que foram aprovados no Congresso na semana passada também para a gasolina.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanches, avalia que os impostos federais sobre a gasolina estão em R$ 0,69, de modo que uma desoneração equivaleria a uma redução de cerca de 10% no preço. O impacto fiscal, porém, seria de quase R$ 40 bilhões ao ano.
Destaques do pregão
Em balanços, a Gol (GOLL4) registrou prejuízo líquido de R$ 2,08 bilhões no quarto trimestre do ano passando, revertendo lucro de R$ 16,9 milhões no igual trimestre do ano anterior. No ano de 2021 completo, a empresa teve um prejuízo líquido de R$ 7,22 bilhões, 20,6% maior do que os R$ 5,98 bilhões registrados em 2020.
Os resultados, impactados principalmente pela alta nos preços do combustível, não foram bem recebidos e a ação caiu 2,54%. Azul (AZUL4) e CVC (CVCB3) caíram 0,37% e 4,74%, respectivamente, afetadas pelo movimento de aversão ao risco.
Na direção oposta, as maiores altas do dia foram de JHSF (JHSF3), Santander (SANB11) e Itaú (ITUB4), que ganharam 6,24%, 4,36% e 1,42%, nesta ordem.
O salto da JHSF ocorre após a elevação, por algumas casas de análise, do preço-alvo para as ações da companhia, refletindo os resultados do quarto trimestre, segundo os analistas da Ativa Investimentos, em comentários ao mercado.
Para João Abdouni, analista da INV, a valorização é natural, uma vez que o setor enfrentou quedas nos últimos pregões, pressionado pelo balanço da Tenda, divulgado na última sexta-feira (11) e que mostrou prejuízo de R$ 268,5 milhões.
Ele acredita também, que para 2022, poderemos observar uma retomada do setor puxada pelo segmento de alta renda, no qual a JHSF atua.
“Talvez começamos a observar a JHSF e a Eztec desempenhando melhor do que Tenda e MRV, por exemplo. Acho que a partir de agora veremos um descolamento na performance de ações de construção civil de alta renda com as de baixa renda”, comenta Abdouni.
Outro setor que sobe no dia é o de bancos. Para o analista da INV, a valorização do setor é resultado do aumento da inflação, que, por consequência, pode gerar aumento nos juros. Além de Santander e Itaú, Bradesco (BBDC4) subiu 0,73% e Banco do Brasil (BBAS3), 0,63%.
Fora do Ibovespa, a Alliar (ALLR3) teve alta de 1,32% depois de uma pesquisa constatar que o bloco de controladores da empresa pretende vender quase toda a fatia detida na companhia para o fundo do empresário Nelson Tanure.