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Poupança tem saída de R$ 5,9 bilhões em setembro e acende sinal de alerta nos financiamentos imobiliários

Cadermeta é a principal fonte de financiamento para a compra da casa própria

Foto: Shutterstock

O tempo passa, o tempo voa, e a poupança segue perdendo recursos. Em setembro, os saques superaram os depósitos em R$ 5,9 bilhões. No acumulado do ano, a sangria chega a R$ 91,1 bilhões, volume recorde para o período na principal fonte de recursos para o financiamento imobiliário.

A elevação da taxa de juros, que deixa outros investimentos mais atrativos, e a inflação, que faz o brasileiro recorrer às reservas para bancar os custos cotidianos, estão entre os fatores que ajudam a explicar esse movimento.

No entanto, no longo prazo, a saída de recursos da poupança pode reduzir a capacidade de financiamento imobiliário.

Pelas regras atuais, no mínimo 65% dos recursos da caderneta precisam ser destinados ao financiamento da casa própria. Dos R$ 992,4 bilhões de saldo da poupança, R$ 747,7 bilhões estão reservados para o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo).

É o SBPE que financia boa parte dos imóveis de uma outra sigla, o SFH, que é o sistema financeiro de habitação. Nas modalidades do SFH, as taxas podem ser de no máximo 12% ao ano, mais a TR, e os recursos servem para a compra de imóveis de até R$ 1,5 milhão.

O estoque do SBPE é relevante, mas no ano, o valor já teve um recuo de R$ 43,7 bilhões, ou 5,5%.

E enquanto a poupança sofre saques, a necessidade de financiamento aumenta. Dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) mostram que, de janeiro a agosto, o crédito imobiliário com recursos do SBPE totalizou R$ 120,3 bilhões.

Segundo Fabricio Winter, sócio da Boanerges & Cia Consultoria, os saques da poupança por enquanto não são preocupantes e são esperados em momentos de adversidade financeira.

“Isso seria um problema se permanecesse por mais de 24 meses consecutivos. (…) Nesse caso, o maior risco são as linhas voltadas para o público de menor renda, mas ainda tem muito saldo”, diz.

Nos últimos dois anos, a poupança registrou captação líquida positiva em apenas sete meses.

Alternativas disponíveis

Guilherme Cavallin, líder de crédito da Manchester Investimentos, concorda que o saldo da poupança ainda é elevado, mas ressaltar que é preciso pensar em alternativas se a intenção é que o crédito imobiliário siga crescendo.

“A caderneta de poupança não vai findar, mas precisa de suporte para que o crédito imobiliário tenha um crescimento contínuo”, diz.

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Em sua avaliação, os instrumentos alternativos já existem, mas ainda não possuem grande relevância, como as LIGs (letras imobiliárias garantidas) e os CRIs (certificados de recebíveis imobiliários).

“Esse mercado alternativo pode se retrair em função da taxa de juros alta, mas é uma alternativa que tende a ter maior evolução, em especial como solução para incorporadoras”, explica Cavallin.

Há dois tipos de crédito imobiliário. O mais conhecido é o destinado à pessoa física, o mutuário, na hora que compra um imóvel financiado, com prazos que podem chegar a 35 anos.

No entanto, há também linhas destinadas às incorporadoras, que compram os terrenos, desenvolvem os projetos imobiliários e fazem a construção. Esse ciclo pode durar de dois a três anos e também é feito com financiamentos.

Esses instrumentos alternativos têm prazos inferiores a 35 anos e por isso acabam sendo mais usados nos financiamentos à construção.

A LIG, criada em 2018, tem cerca de R$ 70 bilhões em estoque. Já os CRIs somavam R$ 131,2 bilhões em agosto, uma alta de 23,6% no ano.

No entanto, essas operações saem a “preço de mercado”, ou seja, são atreladas aos juros atuais. Dessa forma, é mais caro construir com um dinheiro captado por LIG ou CRI do que um empreendimento que consegue acessar os recursos do SBPE.

Segundo dados do Banco Central, em agosto, as empresas pagavam 11,6% ao ano nas linhas de crédito imobiliário a taxas de mercado. Já no caso do SBPE, a taxa média era de 11% ao ano.

Esse custo mais alto se reflete no aumento dos preços dos imóveis, por isso leva as construtoras a terem que agir de forma mais estratégica ao selecionarem o tipo de crédito.

“Não tem conta mágica. O comprador final só vai ter um custo mais atrativo quando o incorporador também tiver um juro mais acessível”, explica.

Por que as pessoas estão sacando dinheiro da poupança?

Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano, o que equivale a 1,08% ao mês. Já a caderneta de poupança está pagando 0,5% ao mês mais a TR, o que totaliza 0,68%. Essa diferença acaba levando os investidores a opções mais rentáveis.

Enquanto a poupança perdeu R$ 91,1 bilhões no ano, os fundos de renda fixa registraram captação líquida positiva de R$ 94,7 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). No entanto, em agosto, as carteiras de renda fixa também sofreram resgates.

A caderneta de poupança é isenta de Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos, mas mesmo assim perde para os instrumentos de renda fixa, como o Tesouro Selic, do Tesouro Direto.

Se o investidor tiver R$ 1 mil na poupança, receberá R$ 6,80 em rendimentos após um mês. Já em um título do Tesouro Selic, após 30 dias, o investidor irá receber R$ 8,37, já descontando o IR do período.

Quando o resgate é feito em até 180 dias, a alíquota do IR é de 22,5%. Para o prazo entre 181 e 360 dias, o imposto cai para 20%. Ainda há duas faixas: 17,5% (361 a 720 dias) e 15% (acima de 721 dias).

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