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Resgates de fundos brasileiros superam os aportes em quase R$ 23 bi em setembro – entenda o movimento

Indústria sente migração de investidores para opções mais atrativas, com juros estacionados em 13,75% ao ano

Foto: Shutterstock

Os fundos de investimento brasileiros registraram em setembro uma saída líquida – quando há mais saques do que captações – de R$ 22,9 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Setembro foi o terceiro mês do ano em que a saída de recursos superou a captação. Antes, o fluxo já havia sido negativo em maio e em julho, com a retirada de R$ 54,2 bilhões e R$ 54,8 bilhões, respectivamente.

Com mais um mês de saques, os fundos passaram a acumular saída líquida de R$ 17,1 bilhões no acumulado de janeiro a setembro. No mesmo intervalo do ano passado, o desempenho havia sido muito melhor, com a entrada de R$ 414,7 bilhões.

No mês passado, a fuga de recursos foi mais acentuada nos fundos de renda fixa, que perderam R$ 12,1 bilhões em investimentos. Esse foi o pior saldo desde julho, quando o resultado ficou negativo em R$ 14,8 bilhões. Os fundos de renda fixa são a classe mais representativa da indústria, com 39% do patrimônio dos fundos brasileiros.

Os fundos expostos a ativos de risco também registraram mais retiradas do que aportes, apesar de apresentarem desempenhos distintos. Os multimercado, que podem aplicar em ativos de renda fixa e variável, fecharam setembro com saldo negativo de R$ 10,4 bilhões, revertendo o resultado positivo de R$ 3,1 bilhões de agosto.

Já os fundos voltados a ações tiveram saída líquida de R$ 3,9 bilhões. Foi o segundo mês seguido de saída de investidores. Em agosto, o desempenho havia ficado negativo em R$ 5,3 bilhões.

Os fundos de previdência foram os únicos que registraram mais aportes que saídas em setembro, com saldo positivo de R$ 2,4 bilhões. Já as opções de câmbio fecharam o mês com resultado negativo de R$ 618 milhões, enquanto os ETFs registraram saída de R$ 562 milhões.

Confira a seguir o desempenho das principais classes da indústria de fundos brasileira em setembro, no ano e em 12 meses.

Dispersão da renda fixa

A fuga de recursos da indústria de fundos está relacionada aos rendimentos elevados oferecidos no momento por opções mais diretas de investimento.

Com a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, somada à isenção de Imposto de Renda, investimentos como LCIs e LCAs estão chamando maior atenção do investidor do que os fundos, diz Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima. 

“Todos esses instrumentos que os bancos emitem são isentos [de impostos], e fazem com que a rentabilidade final do investidor seja bastante atraente”, complementa. “No mínimo, o investidor vai ter a economia do Imposto de Renda.”

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Além da isenção dos impostos, Rodrigo Cabraitz, analista de alocação da Claritas Investimentos, destaca a atratividade das opções de títulos bancários que não cobram as taxas exigidas pela maior parte dos fundos.

“Muitos produtos de renda fixa cobram taxa de administração, alguns cobram taxa de performance, e conseguimos ver uma rentabilidade marginal ao CDI”, afirma.

O CDI, no caso, é a taxa que os bancos cobram para emprestar dinheiro uns aos outros, e cuja variação é muito próxima da Selic. Essa taxa é usada como referência para comparar a rentabilidade de investimentos, principalmente na renda fixa.

Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, chama a atenção para o fato de os dados da Anbima serem defasados em até 60 dias. Ou seja: o resultado visto em setembro reflete solicitações feitas meses antes.

“Entendemos que o investidor está preferindo não fazer a exposição via fundos de investimento e, sim, diretamente no ativo, seja em título público ou títulos emitidos pelas empresas do mercado”, pontua.

Bolsa em alta, fundos em baixa?

No caso dos fundos que investem em renda variável, o desempenho positivo da Bolsa brasileira nos últimos meses ante os pares internacionais ajuda a explicar a redução nos saques feitos pelos investidores, mas contribuiu para o êxodo de recursos.

Segundo contas da Monte Bravo, o Ibovespa está sendo negociado com desconto de 40% da média histórica dos últimos 15 anos. “Tem esse desconto do mercado, que sem dúvida nenhuma parou os resgates dos fundos de renda variável, além de possibilitar a entrada no mercado por parte das pessoas físicas”, destaca.

Investir em fundos ainda vale a pena?

Apesar da saída de investidores, analistas do mercado afirmam que os fundos ainda são opções interessantes, principalmente para a diversificação de portfólios e a proteção dos investimentos. Os cenários doméstico e global ainda estão pressionados pelo clima de cautela.

Se no Brasil o olhar dos investidores recai sobre o início do ciclo de queda da Selic – e, no curto prazo, sobre a definição das eleições presidenciais -, no exterior o clima de apreensão ganhou novo fôlego com o temor de recessão global, em meio ao tom mais duro do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre a trajetória dos juros dos Estados Unidos.

Do outro lado do Atlântico, a derrocada da libra e a falta de resolução para a crise energética da Europa às vésperas do inverno pressionam ainda mais o humor dos mercados.

“As eleições têm sido uma incerteza, e quando diminuir esse grau, o apetito ao risco tende a melhorar. Independentemente do candidato que vencer, essa definição deve ser um ponto positivo, fazendo com que os investidores tenham algum tipo de realocação nos seus portfólios”, afirma Rudge.

Para Cabraitz, da Claritas, o investimento em fundos passa pela estratégia de diversificação de ativos e pensamento no longo prazo. Como opção atrativa, o especialista aponta os fundos multimercado que, apesar da fuga de investidores, chegam a render até 20% no ano, no caso do tipo “long and short neutro” e 15%, nos fundos multimercados macro.

“Se os investidores tivessem segurado, provavelmente teriam uma performance melhor”, diz. “Apesar de toda a volatilidade, a Bolsa brasileira é uma das que mais sobe no ano, tanto em reais, quanto em dólares.”

O corte da Selic esperado para o próximo ano tende a diminuir a atratividade dos investimentos diretos em renda fixa, o que abre caminho para aplicações mais variadas, pontua Madruga. “Tem o benefício dos multimercados, ou seja, uma estratégia mais diversificada em vários segmentos, além da atratividade de fundos diretos na Bolsa.”

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